Audiência de divórcio

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Angela entrou na livraria bufando. Andou às pressas até o balcão, onde pôs a bolsa e disse ofegante:
_ Você não sabe o que o seu pai aprontou! Leandro, dessa vez ele passou dos limites!
Leandro a olhava confuso, esperando ela dizer o que estava acontecendo.
_ Sinceramente, a minha vontade é matar aquele desgraçado.
_ O que aconteceu, mãe?
_ Você acredita que aquele velho imbecil comprou uma casa no litoral? E não é qualquer casa não! É um casarão, com direito a piscina e sauna.
_ Por um lado isso pode ser vantajoso pra você. Pode ser incluído na partilha de bens no processo de divórcio.
Angela o olhou séria, como se tivesse algo surpreendente a dizer.
_ Segundo a sua tia, o seu pai comprou a casa no nome da vagabunda!
Leandro arregalou os olhos, assustado.
_ Caramba, mãe! Eu nem sei o que dizer.
_ Mas eu sei...tomara que aquela piranha leve o seu pai a falência!
Leandro fez de tudo para tentar acalmar a mãe. Mas Angela estava com tanto ódio que nada adiantou. Foi embora da livraria do mesmo jeito que entrou.
Leandro chegou em casa no início da noite. Havia passado no supermercado assim que saiu da livraria, para abastecer a dispensa. Precisava comprar o iogurte favorito de Vanessa. Assim que pôs os pés em casa o celular tocou. Pousou as sacolas na pia da cozinha e foi atender a ligação na sala. Queria sentar no sofá e descansar o dia cansativo.
Ao ver a palavra "pai" escrita  na tela do smartphone, revirou os olhos para cima. Imaginou que a mãe, ao chegar em casa, ligou para Genaro e os dois discutiram.
_ Oi, pai.
_ Fala, meu filho. Como você está?_ a voz de Genaro soava tranquila, o que fez Leandro descartar a possibilidade de brigas.
_Estou bem, pai. E o senhor?
_ Estou ótimo. Eu comprei uma casa no litoral. Você tem que ver que belezura.
_ Nossa! Que bom, pai!
_  Eu estou pensando em comemorar o dia dos pais lá. Vou fazer um churrasco. Você vai, né?
_ Oh, pai, eu sinto muito, mas não vai dar. Estou planejando passar o dia com a Vanessa.
_ É um absurdo um pai comemorar o dia dos pais sem o único filho. Isso não é desculpa. É só levar a menina, ora!
_ Por mim tudo bem, pai. O problema é que a Vanessa não se dar muito bem com a Lorena. E o senhor sabe como ela é... não tem papas na língua.
_ Leandro, ela tem 16 anos. Você pode botar freios nela. Antes a sua desculpa era que o Júlio te atrapalhava. E agora?
_ Tudo bem. Eu vou conversar com o Júlio. Vou propor para dividirmos o dia. Eu fico com ela na parte da manhã e ele a noite. Aí vamos á sua casa.
_ É isso aí. Tô te esperando e não vou perdoar furos.
_ Preciso levar alguma coisa, pai?
_ Não. Eu dou conta de tudo. Só quero que esteja lá com a minha neta. Eu vou te passar o endereço por mensagem. Tchau, filho.
_ Ok. Tchau, pai. Mande lembranças a Lorena.

Leandro estacionou o carro próximo ao prédio onde Vanessa mora. Mandou uma mensagem para a filha dizendo que estava a sua espera.
Vanessa respondia sentada no sofá. Júlio e Luciano estavam ao seu lado assistindo TV.
Era um dia frio e chuvoso. Vanessa passou a tarde enrolada no edredom, usando um pijama e o cabelo desgrenhado, preso num rabo de cavalo frouxo. Sentia muita preguiça, por isso enrolou o máximo que podia para se arrumar.
_ Pai, o meu pai Leandro está perguntando se pode subir. Ele quer falar com você.
Júlio a olhou surpreso.
_ O que ele quer falar comigo?
_ Eu sei lá. Ele pode subir ou não?
_ Tem algum problema pra você, amor?_ Júlio perguntou a Luciano, acariciando o seu rosto.
_ É isso mesmo? Agora é essa Maria biscateira quem decide se o meu pai, o SEU MARIDO, pode ou não entrar na nossa casa?_ Vanessa perguntou irritada.
_ Vanessa, pelo amor de deus...
_ Ah, pai era só o que faltava, o Luciano decidir quem entra ou sai daqui. Se continuar assim ele vai se sentir dono da casa. É só pagar o programa dele, transar e dispensar, não precisa iludir.
_ Vanessa, o que você tem contra mim, hein? Eu não te fiz nada!
_ Aaaah, além de puta é sonsa.
_ Vanessa! Já chega! Respeite o meu namorado!
Vanessa pegou o telefone e ligou para Leandro.
_ Pai, você pode subir. O meu pai Julio autorizou.
Luciano a olhou franzindo o cenho e girou a cabeça negativamente.
Assim que encerrou a ligação, Vanessa olhou para Luciano sorrindo, debochada.
_ Acho melhor você ir lá pra dentro. Vai que fique ofendido com a presença do meu pai? Afinal, ele é um príncipe!
_ Leandro não é melhor do que eu!
Vanessa caiu na gargalhada. Ria tanto, que colocava a mão na barriga, devido a dor.
_ Cresce, garota!_ Luciano disse indignado.
_ Para com isso, Vanessa! Que papel ridículo!_ Júlio advertiu._Pare de palhaçada e vá logo tomar banho e se arrumar para ir pra casa do seu pai.
Vanessa saiu gargalhando.

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