𝓒𝓸𝓻𝓽𝓮 𝓛𝓾𝓷𝓪𝓻 • acotar

𝓬𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 28

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𝐿𝓊𝒶

Eu senti seu desespero e angústia e a culpa se apossou de mim.

Era culpa minha ele estar sentindo isso. Eu deveria ter contado sobre aonde eu iria ou não ter descido as malditas escadas. Mas minha curiosidade e o medo de como Lucien reagiria foram maiores. Com isso, o resultado foi eu ter me afogado e colocado o plano em risco. Pois se Lucien não tivesse me tirado de lá antes, eu estaria morta e provavelmente Tarquin ia saber minhas intenções. O que colocaria Helion e Estela em uma posição horrível. Mas principalmente Lucien.

Queria explicar para ele, dizer tudo de uma vez, mas eu estava exausta e realmente precisava descansar.

No salão também senti Estela e Helion apavorados mas que logo se acalmaram. Mas ainda sim, mesmo estando no quarto e deitada em minha cama sentia o desconforto e preocupação de Lucien vindo de algum lugar, o que era pra mim novo pois nunca havia sentido os sentimentos de alguém a longa distância.

Enquanto olhava para o teto conclui que iria falar com ele mesmo se ele não gostasse da ideia de me ver arriscar e procurar informações sobre a Corte Lunar. Mesmo se ele não estiver de acordo, não irei parar.

Eu precisava descobrir sobre aquela corte. Adormeci pensando em meu rosto na escultura de mármore e nos lindos cabelos ruivos.

~☆~

Assim que acordei fui falar com Helion no jantar. Nunca havia percebido antes, mas a noite aqui é linda porém não chega aos pés da Corte Noturna.

Sentei-me em uma das cadeiras e percebi que Lucien não estava aqui.

- Ele foi para a Corte Outonal, se é isso que te perturba. - Helion diz de repente e me fez encará-lo um pouco surpresa.

Assim que levei a taça de água à boca comecei a falar.

- A Corte Estival sabe sobre a Corte Lunar. Encontrei pergaminhos onde havia dois mapas, um de toda a Prythian incluindo a Lunar e outro apenas dela.

- Havia algo mais, alguma informação?

- Não tenho certeza, havia algumas coisas que não consegui ler no mapa.

Ele pareceu pensativo olhando a própria comida.

- Tarquin com certeza não sabe. Ele é o mais jovem entre os Grãos-Senhores e ainda está em estado de aprendizado segundo meus informantes. Talvez... o seu pai ou alguém importante da Corte.

- Também pensei na possibilidade de alguém ter escondido lá. Sem a permissão de ninguém, é claro. Misturando com os outros pergaminhos que, afinal, consegui ler facilmente e era sobre apenas a Corte Estival.

- É uma possibilidade...

- Outro detalhe, encontrei os pergaminhos no subterrâneo longe das prateleiras de livros. Isso reforça mais a ideia que a pessoa soube bem como esconder aqueles mapas. - a porta principal tinha sido revestida com poder para que ninguém entrasse e depois que desci para onde estavam os pergaminhos a saída havia desaparecido. Isso prova que a pessoa tinha certeza absoluta que sua informação estava protegida. - Mas também encontrei isto.

Retirei a folha do livro que havia rasgado. Eu deixei no sol para que secasse e por sorte as letras não estavam muito borradas.

Entreguei para Helion.

- Imagino que alguém está mantendo a Corte Lunar. - Helion me encara confuso. - Lembra sobre o pergaminho que dizia que o Grão-Senhor quis esconder a corte por medo? Pois bem, talvez alguém não queira que...

- A Corte volte. - me interrompeu abismado.

- Exato.

- E agora, vai para a Corte Noturna? - perguntou.

- Não. Não será necessário ir até lá depois do ocorrido na Estival. Vamos resolver logo isso e encontrar a Corte Lunar.

- Não se preocupe. Amanhã já irei organizar nossa partida.

Ficamos um tempo em silêncio apenas escutando o farfalhar das cortinas com a brisa do vento e o som estridente que os talheres faziam no prato. E esse silêncio emanava apenas uma coisa, uma pergunta. Quem estava mantendo a Corte Lunar e por quê?

Seguimos o jantar sem dizer mais nada, apenas concentrados nos nossos próprios pensamentos. Quando voltei para meu quarto, Pompom dormia tranquilamente perto da lareira acesa.

Fui até a varanda e me apoiei no parapeito olhando a vista que eu tinha. Muita coisa passava na minha cabeça. Meus sentimentos estavam um turbilhão novamente que não conseguia sentir sono. Pensei em Lucien e automaticamente me perguntei como ele está agora, o que está fazendo e o que tanto o afligia. Me sinto uma estupida agora, deveria ter contado quando ele me perguntou mas estava tão atordoada que nem consegui formular mais uma frase. E agora ele provavelmente está com raiva de mim...

Suspirei como se aquilo fosse me aliviar e olhei para o céu e logo lembranças felizes invadiram minha mente.

Me lembrei das noites que ficava conversando com as minhas damas perto da fogueira bebendo uma bebida doce e quente, enquanto uma delas me contava histórias. Também lembrei das noites que tinha pesadelos e depois parava nos braços dos meus pais que me acalmavam e ficavam comigo até eu conseguir dormir novamente. Eu sinto saudades do que eu tinha, da felicidade que eu tinha.

E acho que nunca mais sentirei aquela felicidade de novo. Aquela alegria de acordar e me sentir bem sem nenhuma lembrança ruim me perturbando. Me deitei em minha cama mas não consegui sequer fechar os olhos, apenas fiquei encarando o fogo queimar a madeira e percebi que os cabelos de Lucien eram da mesma cor.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶