𝓬𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 33

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✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

𝐿𝓊𝒶

Depois da pequena descoberta a horas atrás, demorei um tempo para conseguir fazer Pompom dormir. Mas agora era possível ouvir em todo o barco, o seu ronco esganiçado. Pelo menos ele dormiu.

Fiquei a maior parte do tempo em um cômodo que parecia ser um escritório só que um pouco menor. Eu, Lucien e Helion discutimos sobre a Corte Lunar e onde ela poderia se esconder exatamente, mas nada fazia sentido.

As frases dos pergaminhos ficavam rondando minha mente.

"Não siga em frente, se afunde que os vagalumes te levaram ao seu destino."

Não comentei sobre o vagalume que vi em plena luz do dia, na manhã que fui ver o local onde a escultura foi encontrada, apenas fiquei quieta tentando pensar.

A sentinela que mais tarde, descubro que é a capitã que lidera as sentinelas da mansão, abriu a porta e disse que talvez devêssemos procurar respostas amanhã de manhã. Pois em breve chegaremos ao nosso destino - que na qual ainda era desconhecido.

Helion escutou ela e também me escutou. Ele se sentia exausto à dias, ele precisava dormir. E depois de muita insistência ele foi.

Agora estamos apenas eu e Lucien de novo. A cena passada também não sai da minha cabeça, mas tento não demonstrar porém acho que ele percebeu meu incomodo.

- Não siga em frente, se afunde... - leu Lucien novamente pela quinta vez.

- Primeiro, para encontrar a Corte precisamos seguir em frente pelo mapa, e fizemos isso. Agora onde ela está? Porque se ela está no fundo do mar temos que pelo menos saber a localização exata dela.

- Em terceiro, vagalumes normalmente são encontrados perto de lagos e florestas não em alto mar. Não acharam mais nada, além desses três pergaminhos? - perguntou com cuidado.

- Não. - coloco a mão na cabeça sentindo uma leve dor começar. - E esse pergaminho... - pego aquele que está em branco. - Por que não tem nada? - suspirei.

Virei ele do outro lado na esperança de ter algo escrito mas também estava em branco. Minha mente estava um turbilhão que não sei explicar exatamente a sensação.

- Quando fui com as sentinelas, ver o local em que encontraram a estátua... eu vi um vagalume. Estava em plena luz do dia e por algum motivo aquilo despertou minha atenção. - Lucien escutava tudo atentamente. - E ela seguiu o percurso pelo mar. Foi a coisa mais estranha que eu já vi. Pensei que quando partirmos iria ver algum, mas até agora nada.

Eu estava cansada e já era de madrugada e não tínhamos descoberto nada de novo.

- Ei. - ele pousou sua mão sobre a minha. - Nós vamos encontrá-la. Não se preocupe.

Lucien tinha um sorriso terno e que transmitia conforto. Não deixei de encarar nossas mãos juntas.

- Obrigada, ruivinho.

Sorri e ele revirou os olhos tentando demonstrar um pingo de irritação.

E começamos de novo. Colocando tudo em tópicos e organizados, para encontrar alguma solução.

(...)

Acabei adormecendo em cima do pergaminho em branco e tive a impressão que alguém estava aqui e acordei ressaltada. Mas não havia ninguém, apenas Lucien dormindo profundamente.

Esfreguei os olhos e imaginei que aquela sensação fosse apenas fruto de mais um de meus pesadelos. Foi quando olhei para a pequena janela atrás de Lucien, vi uma pequena esfera brilhante passar lentamente. Era um vagalume.

Me levantei rapidamente e abri a porta. O vento frio me atingiu de imediato, mas o que eu vi me deixou abismada.

Havia milhares de vagalumes ao redor do barco. Eles voavam em sincronia como se fosse ensaiado. Fui até Lucien e passei a sacudi-lo.

- Lucien! Lucien acorde!

Ele acordou e arregalou os olhos para mim.

- O que aconteceu? Você está bem? - ele se levantou e estava agitado.

- Calma, eu estou bem, mas olhe.

Apontei para fora e seus olhos se arregalaram mais ainda.

Fomos para fora para vermos melhor. Eram como se as estrelas resolvessem descer do céu, era muito lindo. E para completar o espetáculo, a lua estava em seu estado mais cheio fazendo reflexo na água do mar.

Lucien olhava maravilhado como se não acreditasse no que estava vendo, e nem eu mesma podia acreditar.

"... os vagalumes te levaram ao seu destino."

De repente, todos aqueles vagalumes se juntaram e foram para frente. Corri até a frente do barco e me escorei no parapeito. Aqueles pontinhos de luz pararam como se esperassem algo, e a imagem que eu via era que atrás daqueles lindos pontinhos estava a lua.

Fiquei confusa ao ver que os vagalumes formaram uma nuvem parada.

- Lua.

Olhei para trás e Lucien segurava o pergaminho que estava em branco. Fui até ele e parei ao seu lado encarando o papel.

Com a luz da lua refletindo sobre ele, passou a ser escrito em letras prateadas que no final formavam uma frase. Eram totalmente desconexas mas não ilegíveis. A possibilidade de ser um feitiço foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça.

Com receio, li em voz alta o que estava escrito na esperança de fazer a nuvem de vagalumes reagir. Em resultado, depois de dizer a última palavra, minhas tatuagens passaram a brilhar fortemente e os vagalumes se mexeram, entraram dentro da água sem hesitar.

Aquela sensação de semanas atrás, onde aquela voz disse para matar Azriel havia voltado. Era um chamado, os vagalumes me chamavam e uma voz doce ecoava em minha mente.

Venha.

Naquele momento não prestei atenção no que Lucien sentia ou qual era a expressão em seu rosto, apenas andei involuntariamente até o parapeito adjacente. Eu me sentia fora do meu corpo, não era eu quem o comandava agora.

 - Elas me chamam. - estava concentrada demais olhando para o mar para encarar Lucien agora. - Eu tenho que ir.

Eu realmente precisava ir. Seguir aquela voz que pela segunda vez falava comigo, precisava saber o que iria acontecer.

Quando encarei Lucien me deixei sentir seus sentimentos...

Ele estava receoso e com... medo. Medo que eu não voltasse viva.

- Eu vou voltar. É uma promessa.

Lucien engoliu em seco e sua expressão estava difícil de decifrar. Mas eu precisava ir e eu voltaria. Me importo com Lucien mas tenho que saber o que tudo isso significa, saber o meu propósito nesse mundo.

O ruivo veio até mim e me olhou nos olhos, segurou meu rosto e disse:

- Faça o que tiver que fazer. Eu confio em você.

Eu não esperava isso, mas confesso que me senti bem ao ouvir isso mesmo sabendo que na verdade ele aceitaria facilmente se eu dissesse que não iria.

Nisso, antes de mergulhar naquela água gelada onde eu não via o fundo olhei para trás e sorri para ele. Eu iria voltar porque eu tinha prometido, e eu nunca quebro uma promessa. Mas também voltaria por ele.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

𝓒𝓸𝓻𝓽𝓮  𝓛𝓾𝓷𝓪𝓻  • acotarOnde histórias criam vida. Descubra agora