Capítulo Dois

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Parado ao meu lado no palco central George saúda os presentes, "Bem-vindos ao paraíso. A partir de hoje esse será o lar de todos vocês sempre que quiserem esquecer os problemas e dançar até o sol nascer... ou não. Graças a minha querida amiga Bella McCarthy hoje teremos um show que entrará para a história dessa cidade. Bella".

"Boa noite... Divirtam-se e aproveitem o show". Minha falta de jeito não é genética, tenho certeza disso, meu pai fica de pé na frente de centenas de homens e dá ordens como se estivesse escovando os dentes, minha avó e minha mãe dançavam em público, meus irmãos eram bobos da corte. Não sei de onde vem essa timidez.

Quando estou quase conseguindo escapar do palco, o vocalista da banda, segura meu braço e sussurra "não tão rápido Baixinha, vamos nos divertir um pouco mais", nosso relacionamento foi um contrato, mas por ele, teria sido algo mais.

"Boa noite pessoal". Sua voz é suave e meio rouca, uma combinação difícil de resistir. "Como vocês sabem, estamos aqui hoje porque eu sou um... amigo... dessa beldade aqui", diz ele enquanto me mantém segura pela cintura. "E como eu conheço alguns dos... talentos ocultos dela, vou partilhar com vocês alguns segredos". Isso não estava nos planos, isso não estava nos planos. Cadê o George? Para onde foram todos?

"Venha Bella não tenha medo. O palco ama você, assim como todos os presentes vão amar o show", ele fala no meu ouvido.

E então a banda começa a tocar. Mas não é um dos hits deles, é uma das músicas que minha avó usava para me ensinar a dançar como ela e minha mãe, duas das melhores dançarinas do ventre do mundo, eu sempre achei. Minha avó, ela hoje teria uns teria 64 anos e era filha de uma cigana romena com um turco; ela era dançarina profissional quando conheceu meu avô, uma mulher livre, mas com fortes tradições. Meu avô fez de tudo para conquistar aquela mulher, se ele soubesse que era só ter pedido para o pai dela não teria perdido seis meses tentando conquista-la.

 "Por favor, Bella, você fica linda dançando. Por favor, todos querem ver".

"Com uma saia desse tamanho? Cabelo preso, salto? Você tá louco".

Ele me abraça e solta meu rabo de cavalo, ajeitando meu cabelo que parece uma cortina negra sobre meus ombros. Sério, posso sentir o ódio de algumas mulheres da plateia. Sorrindo, ele se ajoelha a meus pés e retira as sandálias. "Dois de três, acho que já mereço um show". O público grita em transe com o cantor ajoelhado aos meus pés, acariciando minha panturrilha.

Não vai ter jeito, vou para frente do palco e com ele brincando ao meu redor começo a movimentar os quadris no ritmo da música árabe. Em segundos esqueço tudo e me concentro apenas na música, no movimento. Mesmo sem a vestimenta tradicional, sem a maquiagem, mesmo sem estar preparada, me entrego completamente à dança que minha avó me ensinou antes mesmo que eu soubesse andar. Mãos, braços, pernas, ombros, quadril, cabeça, tudo ritmado, parecem ter vida própria.

A plateia parece em transe, todos estão hipnotizados. Eu estou em transe, não enxergo nada além das luzes, não ouço nada além da música que guia meu corpo. E antes que termine como sempre faço, ajoelhada no chão me lembro do tamanho da infeliz da saia. E permaneço de pé, sinto os braços do cantor me segurando e ouço "não entendo porque você se afasta de todos, porque se afastou tanto de mim, eu te adoro, você sabe disso não sabe? Você roubou meu coração. Sou seu a hora que você me quiser".

E então segurando o microfone e se dirigindo à plateia, "Além de uma excepcional dançarina do ventre, ela ainda tem uma voz desconcertante, por isso hoje ela será minha backing, assim como algumas das hostesses", anuncia. Não tenho medo do roteiro, o imprevisto é que me irrita. Fazer backing foi ensaiado, dançar no palco e ser seduzida pelo cantor mais charmoso do momento, não.

Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora