Capítulo Vinte e Oito

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Domingo de sol e calor no meio do inverno? Pois é o clima tá mesmo muito fora da casinha.

A autora também, porque domingo nem é dia de postagem e nem rolou uma indicação de leitura antes do capítulo novo. Não tem problema, o capítulo é curtinho só para vocês passarem o domingo em boa companhia!

Depois em digam o que acharam... Beijos e excelente semana para todos.

PS: Capítulo dedicado a uma autora fantástica, que se tornou uma amiga querida!

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Lembranças de uma infância nem tão perfeita

Enquanto meus amigos e William, junto com Edward, continuavam com seus planos para capturar e prender o alvo, eu deixei minha cabeça voltar no tempo e recordar a época que morei no Japão.

Não tenho muitas lembranças dos primeiros meses depois da mudança para lá, para ser muito sincera, não lembro muito dos dois primeiros anos, eu tinha uns três anos quando fomos para lá, o general morou por uns seis ou sete anos no Japão e eu fui mandada para o colégio interno para ser alfabetizada. Efetivamente eu morei com meu pai e irmãos apenas três anos, durante todo o tempo fui cuidada por tutores e babás, via pouco meus irmãos e muito raramente o general. Meus avós tentaram cuidar de mim e dos meninos, viajavam muito para lá, mas o general nunca permitiu muito contato, os mantinha sempre distantes.

Um pouco antes de ir para o colégio interno meu avô conseguiu uma ordem judicial que obrigava o general a deixar que eu e meus irmãos passássemos mais tempo com ele e vovó. E por Allah, foi isso que me manteve sã, ter os avós mais carinhosos do mundo, ter o carinho e o cuidado dos meus irmãos. E ter Jiro.

Nós tínhamos uma espécie de mordomo, que também era um segurança e que no momento que percebeu a frieza com que o general me tratava passou a tomar conta de mim como se fosse meu pai.

Connley nunca me tratou mal, sempre me deu conforto material. E só isso. Ele nunca estava lá, nunca fez um carinho ou um elogio. Se falava comigo, era para criticar alguma coisa e me manter afastada. Eu olhava a interação entre ele e meus irmãos e queria ser um deles. Por anos mantive o cabelo cortado como de um menino, aprendi a fazer coisas de meninos, me vestia, comportava e falava como um menino. Mas isso só deixava Connley ainda mais irritado. Jiro, com sua atenção, seu carinho, me manteve sã.

Aprendi japonês e um pouco de luta com Jiro. Eu idolatrava Kotaro (algo como filho grande e brilhante, em japonês), o filho de Jiro. Kotaro é quatro anos mais velho que eu. Um menino lindo que se tornou um homem perigoso.

Jiro era um professor exigente, um disciplinador. Eu e meus irmãos aprendemos muitas coisas com ele: lutar, falar e escrever em japonês, além do senso de honra, dever e cidadania que movem o povo japonês.

Kotaro nunca entendeu ou aceitou bem a atenção que o pai dele me dava. A princípio ele não se incomodava muito, raramente dividia seus brinquedos comigo, mas ficava por perto, ajudava nas lições de japonês ou até mesmo nos treinamentos de judô e Aikidô.

Claro que toda vez que ele participava dos treinamentos eu sofria mais quedas, mais torções e mais lesões. Ele nunca pegou leve comigo. Não sei se era ciúmes da atenção que o pai dele me dava ou se ele só não me suportava mesmo.

Jiro nunca foi tão ligado aos meus irmãos como era comigo. Os meninos tinham a atenção do general, que sempre estava lá para eles. Principalmente para Cillian, o mais velho. Mas todos os meninos tinham igual atenção, menos eu.

Conforme fui crescendo, o ressentimento de Kotaro foi aumentando. Até que um ano antes da minha saída do Japão para o colégio interno, Cillian teve uma briga feia com ele porque Kotaro pegou tão pesado comigo em um dos treinos que quebrou meu braço.

Até a morte da minha avó, Jiro trabalhou cuidando de mim. Quando Connley saiu do Japão e voltou aos Estados Unidos, antes de pedir transferência para Londres, meu avô contratou Jiro para ajudar a cuidar da casa. Um pouco antes da minha fuga, ele me contou que o filho tinha se juntado a Yakuza como kobun (filho adotivo) de um oyabun (padrasto, pai adotivo), o chefão de um dos clãs. Até onde entendi, Kotaro odiava ocidentais, desde que descobriu que sua mãe fugiu com um. Detestava, também, o trabalho do pai, achava indigno um homem com a inteligência e o conhecimento que seu pai possuía, trabalhar servindo outras pessoas.

O carinho e a atenção que Jiro dispensava a mim agravou o frágil equilíbrio de Kotaro, fazendo com que ele caísse no submundo.

Quando voltei para a casa do meu avô, três anos depois de fugir do colégio e sumir no mundo, descobri que Kotaro tinha virado um mercenário, matando pelo melhor preço e com isso ele simplesmente desapareceu da face da Terra.

Jiro se tornou um homem deprimido e amedrontado. Ele sabia que seu filho um dia iria atrás dele, e não seria com intenções carinhosas.

Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora