Capítulo Treze

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Conflitos e descobertas


 Minha língua estava grossa, pesada e sentia aquele gosto metálico de sangue, misturado com terra em minha boca e eu sabia que isso não era bom. Mas não ficava acordada tempo suficiente para pensar no que significava. A próxima vez que acordei eu senti um cheiro conhecido, que me deixou alerta, mas não o suficiente para não derivar novamente.


 Acordei mais uma vez e as imagens que surgiram em minha cabeça quase me levaram ao pânico por achar que fui novamente sequestrada e estava presa naquele lugar asqueroso. Queria gritar, dessa vez eu não queria ser forte, não tinha motivos para isso. Imploraria por minha vida, sem a menor vergonha. Tentei controlar minha respiração. Inspirar provocava dores, porém eu não sentia mais frio, minhas costas estavam em algo macio e limpo e o lugar estava meio claro, iluminado. Quando finalmente me lembrei o que aconteceu, tentei falar, mas não conseguia, meu rosto doía de maneira impensável e percebi que mesmo que quisesse meus olhos não abririam. Ouvi uma voz familiar dizendo "você está segura, pode dormir que vou ficar aqui, velando seu sono". Não sei por que, mas foi exatamente o que fiz.


 O mesmo homem da noite anterior, que levou Cillian Segundo para casa, subia apressado as escadas da casa de meu avô, atrás dele Kazimir me carregava no colo, envolta em roupas limpas, medicada, mas ainda semiconsciente. Antes que ele chegasse até a porta, Dylon e Alex estavam no meio das escadas, junto com meu avô e o general.


 "Senhor Farid, encontrei sua neta em minhas terras, não sei bem o que aconteceu porque ela não fica consciente mais de alguns poucos minutos por vez, ela não está gravemente ferida, já foi examinada por um médico, mas precisa de alguns cuidados ainda, mesmo que pareça que ela foi pisoteada por elefantes, não é nada realmente tão sério. Teve uma fratura na perna e o ombro foi deslocado, eu coloquei no lugar para diminuir a pressão e o incômodo. Ela tem algumas escoriações e arranhões, não posso dizer mais do que isso, a propriedade não possui máquina de raio x. Infelizmente seu cavalo morreu na queda", Kazimir não parecia com a menor vontade de me largar. "Onde é o quarto dela? Queria deixa-la o mais confortável possível enquanto vocês decidem o que fazer".


 Quando Dylon tentou me tirar dos braços dele, Kazimir foi seco "já estou fazendo um esforço enorme tentando não machuca-la ainda mais, e eu sei exatamente onde está cada pequeno arranhão, não vou deixar que você a carregue".


 Percebi uma montanha se movendo em minha direção e William não deu a menor atenção a Kazimir, simplesmente passou os braços em volta do meu corpo e me pegou da maneira mais gentil que ele conseguia. Eu tremi não de dor, mas de puro medo e consegui gemer baixinho "por favor, não me machuque mais". Antes de apagar novamente eu o ouvi dizer "jamais Cotovia, eu nunca deixaria nada de ruim acontecer com você novamente".


***


 Descendo as escadas com ela em seu colo, William falou por cima do ombro "senhor McCarthy, o helicóptero. Vou levá-la", e isso não soou como um pedido.


 "Para onde você vai leva-la?", perguntou Kazimir.


 "Não que seja da sua conta, mas para o mais distante de você que eu puder", William falou com raiva contida.


Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora