Capítulo Vinte e Três

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E então é sábado, que tal mais um capítulo?

Esse é meio pesado, foi complicado escrever e se não fosse uma amiga querida, ele não teria saído. 

Yuri é louco. O pior tipo de louco que existe, ele é rico e não tem limites.

Não vou desejar que se divirtam, também não vou pedir estrelinhas e comentários porque Yuri é cruel a ponto de ser assustador.

*****

Yuri Sadulayev

Não consigo lembrar há quantos anos persigo o general McCarthy, o homem responsável por destruir minha vida, matar meus pais e eliminar do mapa a vila onde nasci.

Ao contrário do que o crédulo do meu irmão pensa, meu pai não era um santo. Sim, ele era o médico da vila. Também era o dono da única farmácia de toda a região. Além disso, meu pai, de quem herdei meu nome, era o que pode ser considerado um pequeno mafioso. Prefiro usar o termo facilitador. Papai facilitava o transporte de mercadorias, armas e qualquer tipo de mercadoria pelas fronteiras.

Minha mãe sabia, apoiava e sempre que possível ajudava meu pai. Eu seria seu herdeiro natural e já fazia alguns pequenos trabalhos para a 'empresa familiar'. Estava começando a conhecer as pessoas importantes, as que me ajudariam a erguer um império. Seríamos tão grandes que nem mesmo os italianos e russos poderiam nos fazer frente.

Então o coronel McCarthy ordenou um ataque e tudo foi pelos ares. Meu pai desapareceu durante os bombardeios, foi pulverizado dentro da farmácia. Eu, mamãe e Kazimir estávamos na entrada da vila, longe das primeiras explosões.

Ela nos escondeu em uma caverna próxima, um lugar que os homens que faziam os transportes usavam para escapar de patrulhas. Tinha de tudo nessas cavernas: comida, água, cobertores. Era uma rede de túneis subterrâneos. Implorei para que mamãe ficasse conosco. Porém o amor dela por meu pai fez com que tentasse descobrir o que aconteceu a ele, assim como ver o que sobrou de nossa vila.

Nossa sorte foi que Kazimir chorou pouco antes dela chegar à entrada da caverna. Mamãe ficou conosco por toda a tarde e boa parte da noite. No meio da madrugada ela foi até a vila. No meio do dia seguinte ela ainda não havia voltado. Desci pelos túneis e fui tentar descobrir o que aconteceu.

Não era um menino inocente, por ajudar meu pai eu sabia que existiam pessoas ruins no mundo. Só nunca imaginei ver de perto o quanto as pessoas podem ser más. Minha mãe ainda estava viva, mas ela não tinha mais um dos lindos olhos verdes. Nem a língua. Muito menos os dentes.

Ela não foi a única pessoa a ser torturada. Mas quem invadiu a vila sabia quem ela era. Mamãe foi mantida viva por três dias inteiros e foi estuprada por todo batalhão de mercenários mais de uma vez. Aqueles porcos viviam tentando roubar o domínio do meu pai. Graças à ordem desastrada do então coronel McCarthy eles conseguiram destruir quase tudo que meu avô e meu pai levaram anos construindo.

As poucas pessoas que consegui tirar da vila se esconderam comigo e Kazimir nos subterrâneos e depois nas cavernas; só os aliados da minha família conheciam a rede de túneis, cavernas e as rotas de fuga. Mas os mercenários conseguiram me capturar em minha última incursão. Fui torturado por cinco dias. Passei fome e sede, fui estuprado, inclusive com objetos. Fui cortado e surrado. Arrancaram minhas unhas, quebraram ossos que eu nem sabia que existiam.

Gostaria de dizer que resisti bravamente, mas não. Eu urrava e chorava e gritava por minha mãe, que a essa altura era apenas um cadáver jogado em uma vala comum.

Depois de cinco longos dias no inferno, algumas pessoas que eu ajudei a fugir da vila conseguiram me resgatar. Levei meses para me recuperar, mas apenas 20 dias para ser transportado até a casa dos meus tios. Eles eram empregados do meu pai, além de irmãos da minha mãe. Eles me respeitavam, porque mesmo novo fui capaz de matar alguns dos assassinos de minha mãe e porque sobrevivi ao cativeiro.

Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora