Capítulo Seis

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Meu avô: meu mundo, meu tudo

 Quando entro no meu quarto vejo que o dia está quase nascendo, o céu mesmo embaçado tem aquele tom dourado que anuncia o sol chegando. "Tomara que seja menos agitado que ontem", peço baixinho e me deito sem nem ao menos tirar as sandálias.  Acordo com o celular tocando sem parar e ainda não são nem onze da manhã. Uau, vinte ligações perdidas.

 "Bom dia avô, o que houve?", atendo com voz sonolenta.

 "Bom dia para quem? Você perdeu as duas reuniões da manhã. Não atendeu nenhuma ligação desde ontem à noite. Sua boate está em todos os tabloides e sites de fofoca e Lorde Murray está vindo para a empresa. Tem certeza que quer mesmo me dar 'bom dia avô'?", mesmo tentando parecer irritado posso sentir uma nota de diversão na voz dele.

 Bom jeito de acordar, saber que o pai do cara que tentei castrar ontem está a caminho do meu trabalho. Lorde Andrew Philipps-Scott Murray. Ele realmente é um lorde, duque de alguma coisa, nunca parei para prestar atenção, pois isso não mexe com minha cabeça. Só sei que ele é um homem na faixa dos 50 anos, um empresário do setor de ferro e aço e tem alguns contratos com uma de nossas empresas. Além de ter treinamento militar e ter sido piloto da real marinha britânica. Também sei que ama montar e que os filhos não são tão encrenqueiros quanto ele quando era mais novo.

 "Avô, eu posso explicar. Acho que posso. Okay, não posso. Vou tomar um banho e vou para empresa", digo já de pé.

 "Esqueça, quero você longe daqui hoje. Aliás, muito romântica sua fuga com Kazimir. Você ficou extremamente linda chorando no carro dele no meio da madrugada, mais linda ainda voltando para sua casa com Dylon. Mais algum homem que eu deva saber ou paramos por aqui?".

 "Só o general, eu fui até a casa dele ontem". Depois de esperar que ele fale alguma coisa, "Vou ficar em casa o resto do dia, podemos nos falar amanhã?", e desligo o telefone sem nem ao menos esperar por sua resposta.

 Vovô é a minha referência masculina. Mais do que um avô amoroso, ele é meu pai, meu amigo, meu confidente, meu irmão. Tudo. Ele não supre a falta que sinto de ter tido um pai, ou mesmo a dor que sinto pela perda dos meus irmãos. Pensando bem, ele nunca tentou nem mesmo me confortar por nossas perdas, só ficou ali pronto para me acolher, me proteger.

 Mesmo sendo novo ainda, ele tem apenas 66 anos, mas parece ser tão mais novo, nunca pensou em se casar depois que vovó morreu, "Jamais sujaria meu amor por ela dormindo com outra mulher". Ele é de outro tempo, de outra era.

 Acordada e de pé o melhor que tenho a fazer é socar alguma coisa para tentar melhorar minhas ideias, sinto que o dia hoje será ainda pior que a noite de ontem. Ao passar pela sala a caminho da academia no andar de baixo, noto um vaso com Lisianthus na mesa perto da porta e um cartão "Jantar, hoje às 20:00. Estarei na porta, não se atrase. Anton"

 "Ei mocinha, quem é Anton?", pergunta Hannah saindo da cozinha. Da MINHA cozinha.

 "Se não for para você é para Tonia, eu não conheço nenhum Anton, e desde ontem às 4 da madrugada que sou uma mulher séria e casada.", digo sem conter o riso indo em direção à cozinha para ver se sobrou algo em minha despensa depois que essas duas a atacaram. Antes que possa falar alguma coisa vejo Dylon encostado no balcão sem o menor humor.

 "Quarto. AGORA", ele se limita a rugir me encarando com uma fúria mal disfarçada.

 "Pode parar, não sou um dos seus subordinados que tremem de medo só porque você colocou a camiseta do lado do avesso. Quer falar comigo? Ótimo. Mas primeiro me dê meu beijo de bom dia."

 "Bom dia? Bom dia para quem? Seu pai me fez voltar para a base, me interrogou durante horas querendo saber porque você não disse que está grávida e eu não podia responder nada, porque EU não sei de nada. Depois ele queria saber se o pai sou eu, meu irmão, o cara que te levou até a base ou o cara que te agarrou na boate, e eu não podia dizer que ele estava sendo injusto com você porque ele é meu superior, então tive que engolir a seco seu pai te chamando de vagabunda. Depois ele me apertou por mais quarenta minutos porque você estava em todos os jornais sendo acusada de tentar matar o filho do Murray, então não me venha com 'beijo de bom dia'".

 "É, acho que hoje realmente não será um dia bom para mim", digo devorando uma caixa de morangos. "Dylon, eu não estou grávida, de verdade. Liga para sua irmã e pergunte, ela pode confirmar. Ontem eu estava tensa com tudo o que aconteceu, eu bebi duas doses de whisky para relaxar e só piorou. Você sabe que eu não sei beber. Quando o William me agarrou eu perdi a razão e me defendi, confesso, com mais força que o necessário, ele estava bêbado, não sabia o que estava fazendo, eu não precisava tentar castrar o cara, ou tentar arrancar a traqueia dele, mas foi só isso. O Kazimir aparece na boate do nada e aí vejo seu irmão de uniforme me dizendo que estava partindo para mais uma missão. Ainda teve a adorável conversinha com meu pai. Eu pirei só isso. Vou me entender com o General, com o Murray, com o William, com meu avô, com você, com todo mundo. Só me dá um tempo. Estou de ressaca, tonta, preciso clarear as ideias.".

 "Ah! Não se esqueça do jantarzinho com Kazimir. Lembre-se 'não se atrase'", Dylon sai batendo a porta ainda mais irritado do que quando entrei na cozinha.

 "Gravidez, casamento, Kazimir, Dylon, Devlin, seu pai, William, onde eu estava que perdi essa noitada?", pergunta Tonia se fazendo notar pela primeira vez.

 "Agarrando o acompanhante da Kate no camarote da Bella, ele ainda está na sua cama?", Hannah consegue manter a cara mais inocente do mundo enquanto eu fico chocada com essas duas.

Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora