Capítulo Dezesseis

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A tormenta começa


Ficar nesse hospital é a coisa mais chata e deprimente do mundo, tudo o que quero é ir para casa. Qual é a diferença de fazer repouso aqui ou em minha cama? Fiz um sinal para meu avô que queria meu tablet, falar ainda era bem dolorido, mas pelo menos poderia digitar o que pretendia falar.


"Abraçar você", realmente digitar doía menos. Primeiro ele tentou rir, mas as lágrimas não paravam de correr por suas faces enrugadas. Logo ele me deu um beijo na testa e começou a fazer cafuné.


"Está muito ruim? Por que não consigo falar?", digitei novamente. "Por que William está sempre no meu quarto?".


"Você não fala ainda porque está há seis dias e meio sem usar essa voz. Abençoado seja Allah", disse gargalhando da minha cara. "Mas você teve um pequeno trauma na mandíbula e, por isso, abrir a boca é dolorido, não é grave, mas como você está há tanto tempo de boca fechada a dor parece mais intensa".


Segurando delicadamente minha cabeça, vovô concentrou seu olhar nos meus olhos. Era assim que ele se assegurava que eu prestaria total e completa atenção nele, "Ameerah, não vou mentir para você, seu rosto está bem ruim. Sua face tem muitos cortes; hematomas em vários tons de roxo, preto e amarelo, além de estar ainda bem inchado. Seu amigo Kazimir enviou dois cirurgiões plásticos, enquanto você ainda estava na UTI, para que avaliassem os ferimentos e ambos garantiram que nem mesmo as lesões nos ossos são preocupantes, que não ficará nenhuma marca".


Eu ainda não estava satisfeita, é claro que eu gostava de me parecer com a mãe que não conheci, sei a importância da aparência no mundo que vivemos, mas não a valorizo a ponto de ficar preocupada em como o acidente me afetaria, minha preocupação era se os ferimentos poderiam prejudicar minha vida, afetar visão, paladar, olfato... se eu poderia continuar dançando.


"Nenhuma contusão, fratura ou lesão permanente. Sua perna levará umas quatro semanas para cicatrizar, mas não precisou ser operada para colocar o osso no lugar, o seu ombro estará bom antes disso, mas a costela trincou e os médicos precisaram operar para evitar que perfurasse o pulmão. Pelo que conversei com seu médico, acho que mais uma semana de hospital e então você poderá ir para casa."


"Onde estão meus amigos? Cadê o Dylon?", digitei, com menos rapidez dessa vez, possivelmente os remédios para dor estavam fazendo efeito novamente.


"Na base", e encerrou o assunto olhando para a janela pela primeira vez desde que entrou. "Preciso entender melhor essa sua cabeça oca. Mentir descaradamente para tentar evitar que ele fosse em uma missão?", vovô estava magoado. Sei que ele tinha planos de me ver casada, feliz, com filhos. Mas isso jamais aconteceria.


 "As meninas?", tive que esperar ele olhar para mim, antes de virar o tablet para que ele lesse a pergunta.


"Hannah precisou viajar por conta de um contrato e Tonia está trabalhando. Por um motivo que nem eu consigo entender, seu pai se aliou a William, e foi convencido por aquele menino mimado a proibir toda e qualquer visita a você. Principalmente se a visita for Kazimir. Pelo que entendi, William convenceu Connley que você não sofreu um acidente, mas que Kazimir a surpreendeu no meio de sua fuga, e a sequestrou com o objetivo de vendê-la em algum bordel no meio do nada e que, de alguma forma, no meio desse processo, você teria sido espancada. É claro que o fato de que foi Kazimir que a levou de volta para casa, após já ter feito um atendimento médico prévio em você, tem sido completamente ignorado por não ser condizente com tal teoria. Sinceramente não entendo qual o problema desses dois". Se eu pudesse teria rido da cara do meu avô ao falar isso, ele tinha toda a razão, a teoria não fazia nenhum sentido.

Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora