Capítulo Cinco

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Papai — O General

O guarda de plantão chama um jipe para me levar até a casa do meu pai. Isso vai ser difícil. O General foi avisado que eu estava entrando e me esperava na varanda; seu ar marcial não me intimida mais, mas também não suaviza a situação e a postura dele deixa claro que a conversa será pública.

"Ãm, boa noite senhor", digo limpando a garganta, meio sem saber por onde começar. Não tem carinho em nossa relação, eu nunca soube o que é isso da parte do meu pai e se alguém da minha família me amou ou ainda me ama, foram meus irmãos e meu avô.

"O que você quer a essa hora?". O General de três estrelas do corpo de fuzileiros navais, Connley McArthy, é o homem mais irritante e difícil de lidar que já conheci. Neto de irlandeses — daí a inspiração para a temática da boate — seus cabelos são de um ruivo suave, que em um primeiro olhar deixa a impressão de ter sido loiro e seus olhos são de um tom azulado, frios, capazes de congelar a alma. Enérgico, duro e extremamente disciplinado. Alto como um poste, seus músculos intimidam seus subordinados, assim como a voz de comando.

"É sobre a missão do Devlin", começo a falar e ele me interrompe.

"Pode parar, pois não tenho nada a dizer sobre isso, você sabe como funciona".

"Pai", tento mudar a abordagem. "Pai, será que não tem como cancelar, adiar, mandar outro esquadrão?".

"Pare de besteiras.".

Caio de joelhos a frente desse homem que parece um iceberg, "Pai, por favor, eu nunca te pedi nada. Estou implorando, por favor".

"Tire ela daqui tenente Dylon". Ele nem ao menos me responde, simplesmente vira as costas e entra na casa, batendo a porta.

Dylon me ajuda a levantar e tenta secar as lágrimas que escorrem pelo meu rosto, "venha, vou te levar pra casa". "Não Dylon, não posso", sinto que essa noite não vai ter um fim.

"Me leve até o campo de pouso, por favor, eu tenho que falar com seu irmão, por favor". Sem a menor vontade de contrariar seu comandante ele desobedece meu pai e me leva até onde seu irmão está, era isso ou me ver invadir o hangar.

Felizmente cheguei antes que embarcassem. Odeio essas missões, sei que são importantes, mas nunca sei se meus amigos vão voltar ou não e eu já perdi pessoas demais na minha vida. "Devlin, desculpe pela boate, eu me descontrolei".

"Tudo bem Pequena, eu e meu irmão somos bons de braço. Defender você é o que nos mantém vivos e unidos", ele parece triste ao falar isso.

"Senhorita, creio que seu pai a mandou para casa", ouço o comandante da missão rugir baixo, vindo em minha direção.

"Senhor, sim senhor. Mas eu precisava me despedir do ... do pai do meu filho", falo corando. "Como não sei nada sobre a missão e vocês não podem me falar nada, o senhor poderia me fazer um favor?", falo sem pensar. "Poderia nos casar agora? Não quero ter que contar para meu pai que o meu namorado se aproveitou de mim, me engravidou e fugiu", sem saber o que fazer, o comandante olha enfurecido para Devlin. "É verdade que você engravidou a filha do General McCarthy e se voluntariou para essa missão? E tome muito cuidado com o que vai responder, não são apenas as suas divisas que estão em jogo", Devlin engole seco, me olha com raiva, abaixa a cabeça e responde "Senhor, eu não estou fugindo da minha responsabilidade, eu só não sabia que seria pai, senhor", o comandante nos olha atordoado.

A filha do general falando na frente de todo um esquadrão que o líder de campo a engravidou e logo depois se voluntariou para uma missão que poderia durar meses. Como lidar com todas as informações? "Eu vou ligar para o seu pai", diz ele indo em direção ao telefone do hangar. "Senhor, por favor, não, eu não estou preparada para lidar com ele novamente essa noite".

A cara de Dylon olhando para nós era de assustar, mas agora não tinha como voltar atrás. Muito a contragosto o comandante realizou uma cerimônia tendo como testemunhas todo o esquadrão de Devlin. Como não tínhamos alianças eu dei a ele a tornozeleira da qual nunca havia me separado, que era da minha avó e ele me deu a medalha de São Patrício que ganhou do pai. Assim que terminou, o sargento nos olhou e com mais raiva que antes gritou: "Dois minutos".

"O que você fez?", me perguntou Devlin assustado.

"Eu precisava me despedir de você. Não quero que você vá e pensei que conseguiria adiar a missão, mas não deu certo. Depois eu desfaço essa confusão, pode ficar tranquilo", disse me abraçando a ele e recebendo um beijo na testa.

"Maluquinha. Agora sou o pervertido que acabou com a vida da filha do general. Minha carreira que já era uma porcaria agora vai pelo ralo", ele não sabia se ria ou se brigava comigo. "Até a volta meu amor, agora estamos casados e eu vou voltar pra você, eu prometo". Antes que o comandante colocasse a cabeça para fora anunciando o final dos dois minutos, ele me beija de leve e corre para o avião.

A massa de músculos ao meu lado está tão tensa que tenho certeza que vai quebrar o volante ao meio. "Precisamos conversar 'cunhada'".

"Não Dylon, não precisamos conversar. Pode ligar para sua irmã e confirmar, eu não estou grávida. Só queria arrumar um jeito de impedir seu irmão de embarcar, mas não funcionou. Não tenho um bom pressentimento sobre essa missão".

Dou um suspiro profundo, quebrado, olhando para o piso do carro, como se lá eu pudesse encontrar as respostas que necessito, "Você sabe que eu nunca vou engravidar de ninguém, mas vamos mudar de assunto, preciso voltar para a boate".

"Depois do que você fez? Nem em sonho. Se quiser beber vamos para a sua casa, ou para a minha, mas na boate você não volta. E como chegou à base?"

"Táxi", respondo com cara de poucos amigos.

Dylon é o mais próximo que tenho de um irmão hoje. Ele conheceu Cillian quando ainda eram crianças e cresceram todos juntos, ou quase. Parecia ser mais um dos filhos do meu pai, tão loiro e forte como meus irmãos, tão militar. Claro que a diferença de idade pesou uma hora, ainda mais quando eu estava em um colégio interno e ele e meus irmãos em uma turma muito suspeita onde apenas homens irlandeses ou descendentes diretos eram aceitos. Três anos atrás, quando voltei, foi como se nada tivesse acontecido, como se tivéssemos nos visto no dia anterior.

"Entregue, agora sai do meu carro".

"Dylon, o que houve?", pergunto desconfiada.

"Nada, quero ir pra casa, tirar essa roupa e beber até esquecer essa noite".

"Dorme aqui em casa", peço, já sabendo a resposta.

"Outro dia, Bella". Ou em outra vida, eu escuto ele sussurrar.

Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora