Capítulo Sete

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Jantares

 Ficar parada dentro de casa não existe. Não sei não fazer nada, tenho que me ocupar. Para começar, vamos tentar limpar a imagem de mimada louca que ataca meninos ricos sem motivo. Ligo para a floricultura e mando entregar Jacintos púrpura, um pedido explícito de desculpas e expressão de arrependimento, no escritório do William e na residência de seus pais. Chamo Tessa, nossa assessora para pepinos grandes demais e pergunto se uma retratação pública seria exagerado. De acordo com ela é melhor fingir um colapso nervoso e deixar pra lá. "Mas é bom evitar mais escândalos por algum tempo", isso significa ficar o mais longe possível da boate ou me trancar no meu apartamento para não correr mais riscos.

 Até que ter um dia de folga não é tão ruim quanto me pareceu de início, já que resolvi aproveitar para colocar em dia coisas que normalmente não tenho tempo para fazer. Amo cuidar da minha casa, limpar, arrumar, trocar coisas de lugar, então faço isso por quase metade do dia. Depois vou atrás de outras coisas que estão faltando, reabasteço a dispensa e aproveito para comprar coisinhas para mim. Já que estou de folga, nada melhor que dar uma verificada em algumas instituições de apoio a vítimas de abuso que ajudo. Visitas surpresa são ótimas para garantir que nada é maquiado.

 Depois de um dia tão diferente do meu normal, chego em casa exausta e isso me dá a desculpa perfeita para esquecer o jantar de mais tarde. Mas é claro que minhas amigas não vão sair assim da minha casa e me deixar quieta. Perto das sete da noite elas começam a me arrumar. Tento convencê-las que é melhor e mais seguro que seja um jantarzinho informal, no meu apartamento, mas a maneira que elas descrevem Antonov me faz querer ir para um estádio de futebol em final de campeonato, cercada por centenas de milhares de pessoas e completamente protegida por uma multidão.

 Sempre me pergunto por que deixo essas duas me vestir e maquiar. Tenho blusas de pijama que são mais decentes que esse vestido. Mas pelo menos hoje posso usar um sobretudo e meu cabelo solto. Ele é grosso e pesado, tão sedoso e brilhante quanto o de minha avó. E quase tão longo. São oito horas em ponto e o porteiro avisa que Antonov está na portaria me esperando. "Meninas, eu não quero ir, estou exausta, preciso de um belo banho e da minha cama linda, macia e quentinha". Não adianta discutir com essas duas, elas nunca me dão ouvidos, então lá vou eu, despachada elevador a dentro.

 Quando o vejo pelos vidros blindados da portaria ele está distraído e não nota minha aproximação. Por experiência própria sei que homens que lutam não são bons em receber surpresas, então acho melhor anunciar que cheguei. Ele se vira e mesmo sendo imune ao charme masculino não posso negar que ele quase me fez perder o fôlego. Ele está tão informal que me sinto arrumada demais, maquiada demais, com joias demais. Um jeans discreto e escuro, uma camisa branca de mangas curtas como se fosse alto verão e um blazer de veludo.

 "Oi", diz ele passando o braço pela minha cintura e beijando meu rosto novamente mais próximo da boca do que seria educado.

 "Ãhm, olá", digo tentando me afastar dele, mas ele me puxa de encontro ao corpo dele e se encosta no carro, enquanto afasta uma mexa do meu cabelo. "Queria saber o gosto que tem essa boca, ela se parece tanto com uma amora. Será que foi isso que aquele engomadinho pensou ontem?", ele desliza a mão pelas minhas costas chegando a minha nuca, tentando prender meu pescoço para que eu não fuja.

 "Não sei o que ele pensou, mas sei que ele não vai se divertir com ninguém por alguns dias, quer experimentar isso também?", pergunto tentando afastar nossos corpos e procurando Vargas que deveria estar por perto.

 Enquanto me solta e levanta os braços rindo, ele fala "esqueça, seu avô o chamou para uma reunião, então hoje EU sou a sua segurança. Vamos", e abre a porta do carro para mim. Antes de me ajudar a entrar no carro, ele chega ao meu ouvido e sussurra "Dylon, caso se perca, estamos indo para a marina, acho que sua amiga deve ficar fora de confusões por uns dias". Não posso segurar uma risada enquanto respondo para Kazimir "Dylon não é meu segurança e deve estar na base sendo torturado por meu, quer dizer, pelo general. Mas obrigada por acertar a escuta e por avisar meus seguranças".

Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora