Capítulo Três

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Os Irmãos Encrenca

Ninguém pode brilhar mais que minhas amigas e por isso a urgência de ir para a pista de dança.  O show dos Irmãos Encrenca já estava ofuscando a entrada triunfal das duas, então elas precisavam demonstrar que são as donas da noite. Quando chegamos à pista eles já haviam voltado para o camarote e Hannah dançava de frente para eles, olhando insistentemente Billy, o chamando de volta para a pista. Eu dei mais uma olhada, e não posso negar que algo nele me atraiu.

"William, aquilo é dançar. Que tal pedir umas aulas?". E todos começam a rir do som do tapa que Edward leva da mulher.

William é o filho mais velho de Lord e Lady Murray, tem 25 anos e de acordo com a tradição é o herdeiro do título de Duque do pai, assim como ficará com a maior parte das ações das empresas da família. Um dos melhores advogados do mundo em direito ambiental, é impulsivo, direto e arrogante. Já vi algumas de suas atuações no tribunal, infelizmente quase sempre contra minha empresa.

Um excelente nadador e, além disso, foi duas vezes campeão britânico de artes marciais mistas. Sabe que muito mais do que o físico privilegiado o que atrai as mulheres como moscas é o dinheiro e o título da família. Ao contrário de todos os irmãos é o único que tem olhos azuis, um tom profundo, como o do mar na calmaria antes da tempestade que destrói o que encontra pela frente. Tem uma irmã gêmea, Elizabeth Lloyd Phillips-Scott Murray. Lizzie, como todos a chamam, não se parece em nada com irmão, seja no físico, seja no temperamento, racional e doce. Estudou administração, é a CEO das empresas da família. Loira como a mãe tem um olhar que deixa desconcertado qualquer um.

Katherine Lloyd Phillips-Scott Murray, Kate, é a caçula e gêmea de Edward. Tem uma cabeça fantástica para números, mas ama arte e moda. Modelou por um tempo, mas acha que as restrições e privações dessa vida não são para pessoas que como ela simplesmente amam a noite e a boa mesa. Já Edward tem 23 anos, advogado como o irmão, mais voltado para área sindical. Casado, pai de três filhos. Era o rebelde da família até que foi atropelado pelo furacão Kellyn. Tão bom lutador quanto o irmão, é melhor com armas e arco, chegou a integrar a equipe olímpica de tiro esportivo. Nas horas de folga gosta de correr de moto com os amigos.

"Ei, calma aí querida, estava falando do gigante loiro dançando com a morena", Edward se encolhe depois do tapa.

"Nossa, será que são namorados, são bem quentes em público, na cama ele deve ser de pedir pra morrer?". Pensa Kate em voz alta, deixando os irmãos e seu acompanhante enciumados.

"Vai lá e pergunta, mas nem precisa voltar"; rosna William, que nos últimos dias anda com o humor pior que o normal.

"Talvez você deva aceitar o convite da loirinha e tentar se acalmar um pouco irmão", brinca Lizzie, sabendo que o problema é profissional e não pessoal como todos pensam. O final de mais um namoro com a modelo da vez afeta William tanto quanto um péssimo corte de cabelo. Pensando bem, ele fica mais irritado quando o corte não fica do jeito que ele gosta.

Quando ele vai ver o que os irmãos tanto falam, Bella começa a dançar em cima do palco. Ele perde o fôlego, já viu algumas apresentações de dança do ventre, mas algo nela brilha, prende sua atenção e ele mal consegue respirar. Depois da dança, quando o cantor a abraça e beija seu rosto de maneira muito íntima, William emite um som que lembra um animal pronto para o ataque.

Gabby, a hostess do camarote, parece uma estátua, a única coisa que faz é respirar. Se não falam com ela, ela não emite um som, se não olham para ela, ela não existe. De repente Kate a olha diretamente nos olhos e a reconhece, "Gabby Hathway?! Você de garçonete de boate?".

"Não senhorita Murray, hoje sou a hostess exclusiva do seu camarote. Aliás, cada camarote tem uma hostess exclusiva e todos os atendentes da casa pertencem as melhores famílias do país. Somos os representantes do olimpo", responde de maneira fria, a bem treinada filha mais velha de uma das mais ricas e tradicionais famílias do país.

Meia hora depois, Gabby esquece que é uma parte da decoração e exclama "Merda, está na hora da minha apresentação e ninguém sobe para me substituir". Mas antes que ela conseguisse terminar o pensamento, entro pela porta, novamente de cabelo preso e agora com um tubinho preto, como todas as hostesses. "Boa noite senhoras. Senhores. Minha colega Gabby faz parte do show e precisa descer agora, por isso serei sua nova hostess até o final da apresentação, estou aqui para servi-los". Digo suavemente ocupando o lugar onde estava Gabby.

Fico ali observando os irmãos, tão diferentes uns dos outros e tão unidos, uma intimidade que só família consegue ter. Queria minha família de volta. Lembro quando era criança e íamos à praia com vovó ou esquiar, ou fazer qualquer coisa que irmãos fazem juntos. Balanço a cabeça para afastar uma lágrima que teima em se formar e sinto o rabo de cavalo sacudir às minhas costas.

Vejo William se aproximando, um tanto cambaleante. Concordo com Hannah, ele é estonteante, se bem que não foi assim que ela o descreveu, do jeito dela, usou palavras mais explícitas: 1,88 de altura, magro, mas com o corpo definido, pelo menos é que mostram as fotos das revistas de fofoca e o que dizem as dezenas de ex-namoradas que ele ostenta no currículo, o cabelo é de um castanho dourado com fios vermelhos, a barba mais fechada em torno da boca confere um ar sexy para a boca de lábios bem desenhados. Então os olhos dele me prendem por um minuto e percebo que são de um tom de azul que lembra o mar à noite, revolto, como se uma tempestade fosse cair.

Volto a mim antes que ele termine de se aproximar, tentando soar distante, mas realmente algo nesse homem me afeta de uma maneira diferente, "boa noite senhor Murray, em que posso servi-lo?", falo da maneira mais cordial e fria possível, não posso deixar transparecer que me sinto desconfortável por tanta testosterona.

Ele para a minha frente e me mede de cima abaixo, analisa cada milímetro do meu corpo e mostra o copo de whisky vazio, assim como a garrafa. "Sim senhor Murray, já tenho outra garrafa subindo, desculpe não ter notado antes". E ele se afasta sem me olhar uma segunda vez. Mas não há a menor necessidade, pois o modo como ele me olhou, incendiou todo meu corpo de uma maneira que nunca senti em toda a minha vida. Parece que a fada madrinha encostou sua varinha na minha cabeça e eu fiquei viva de repente.

Lizzie se aproxima do irmão e com a mão em seu ombro fala baixo, mas mesmo assim eu consigo ouvir, "Billy, melhor parar agora, você já está indo para a terceira garrafa". Ela é tão diferente do irmão, loira, alta e flexível, os olhos são da cor do céu ao amanhecer. Se eu não fosse filha de um homem capaz de me fazer tremer de medo só por estar na mesma casa que eu, meu sangue teria congelado com o olhar que ele lançou à irmã.

Quando vou servir seu whisky ouço Vargas no meu fone "ele teve coragem de aparecer? Bella, Kazimir Antonov está na porta principal, com pelo menos 12 homens armados. E ele está forçando a entrada". Minhas mãos tremem por um momento e me endireito olhando sem graça para William, que tem pelo menos duas doses de whisky ensopando sua calça. A fúria no olhar dele poderia parar meu coração. Não faço ideia se a raiva é porque estraguei sua roupa ou por causa do homem discutindo na entrada da boate, que de onde William está sentado, pode ver perfeitamente. "Sinto muito senhor, eu não queria, de verdade, por favor... Sinto muito, eu, eu eu, tenho que descer, mas já volto". "George, camarote Murray, AGORA", grito através do pequeno microfone que as hostesses usam para se comunicar. E saio correndo para a porta principal.

Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora