Capítulo 15

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  Wei acordou antes mesmo do sol nascer, estava acostumado a sempre ter que estar bem cedo de pé para ir ao trabalho, por alguns segundos estranhou o enorme quarto onde estava e a cama confortável, mas logo lembrou-se de sua fatídica noite onde nada deu certo, pelo menos tinha saído vivo e não havia sido pego pelo tal Wen Ruohan, agora estava ali não mansão do alfa bonitão que lhe tratava de um forma estranhamente gentil, por um tempo tentaria não se preocupar com o que poderia acontecer. Dali a três dias sua pernas estaria melhor e poderia muito bem arrumar suas coisas e deixar Gusu na calada da noite, dessa vez se for possível sair do país e nunca mais ser visto, aquela ideia sempre passou pela sua cabeça, mas nunca pensou que algum dia teria que usá-la.

Gostava de onde estava agora, vivendo tranquilamente e em paz, mas seu maldito comandante havia ferrado com sua vida, o vendendo como uma mercadoria a um fodido escroto que ele não fazia ideia de quem era, sua tão sonhada paz havia sido jogada pela janela, podia confiar em Wangji mas não queria estragar tudo, se fugir dali fosse sua única opção iria sem exitar, dessa vez com destino ao Brasil. A porta do quarto foi aberta e Jiang Cheng passou por ela, segurando em suas mãos a mesma caixa de primeiro socorros da noite passada, aproximou-se devagar a deixando sobre a cômoda que ficava ao lado da cama.

— Se sente melhor? — perguntou.

— Minha perna não dói tanto como ontem, mas ainda sinto certo desconforto — deu de ombros — Nada que eu não possa aguentar.

— Ontem disse que tinha sofrido ferimentos piores que esse — sentou-se sobre a cama — Do que estava falando?

O outro não limitou-se a lhe dar uma resposta, apenas puxou a camisa branca que usava para fora de seu corpo, deixando seu peitoral amostra assim como todas cicatrizes que preenchiam sua pele de tamanhos e formas diferentes, marcas de guerra, missões e de seu pai que havia morrido a um bom tempo, em suas costas estava a maior que descia pela extensão de seus ombros parando acima de seus quadris, como uma enorme fenda com rasgos menores e médios ao seu redor, Cheng encarou o corpo de Wei com certo terror, já tinha visto pessoas "marcadas pela vida e seu passado" mas nunca nada que chegasse a tanto.

— Eu me lembro de cada ferimento — olhou para sua pele — Esse aqui — apontou para uma cicatriz em sua clavícula — Foi quando um homem pulou em cima de mim, na época eu não estava no exército ainda. Trabalhava em um bar no subúrbio da cidade, ele queria uma noite e eu neguei, então começamos a discutir, no meio de toda confusa ele puxou a faca e me acertou, doeu como um inferno. Os outros eram de missões, treinamentos e brigas, algumas alfas não gostavam de ter um ômega como um líder e acabavam tentando me oprimir.

— E o da suas costas? O que causou isso?

— Ah, esse — suspirou — Meu pai, ele queria que eu fosse diferente, mas parecido com um ômega e não um alfa, então me surrou para que eu aprendesse uma lição — olhou para o Jiang — Eu apanhei tanto que pensei que ia morrer, por alguns segundos tive certeza que não ia sair vivo dali.

— Sinto muito, sua vida parece não ter sido fácil.

— A vida de ninguém é, mas de algumas pessoas são mais do que as outras — deu de ombros — Faz muito tempo, de qualquer forma, eu já superei.

Houve um pequeno momento de silêncio antes que Cheng levanta-se e indicasse que ele fosse tomar um banho, para que assim pudesse fazer a troca de seus curativos e logo em seguida levá-lo para tomar café, mas o Jiang acreditava que logo Wangji estaria ali para ver como o ômega se encontrava, assumindo aquela missão. Quando Wei finalmente saiu do banheiro, sentou-se sobre a cama novamente, esperando que o outro fizesse seu trabalho.

— Pode me dizer o que há entre você e o goiaba?

— Goiaba? — o encarou confuso.

— O tal Meng Yao, você falou sobre ele antes — ponderou antes de continuar — Wangji me disse para perguntá-lo.

— Isso? Bom, no passado antes de eu e Xichen nos casarmos e termos um filho, eu, ele e Meng Yao éramos amigos — enrolou a nova atadura na perna de Wei — Íamos para todos os lugares juntos, na época eu já gostava de Xichen desde da primeira que o vi, mas nunca tive coragem de lhe falar nada. Tinha quase certeza que ele ia me rejeitar, éramos amigos antes mesmo de conhecermos Meng Yao.

— Antes mesmo do goiaba? Então é um amor antigo? — sua expressão parecia animada.

— Porque está tão animado com isso, é só uma história chata — terminou de trocar as ataduras e se levantou.

— Gosto de histórias de amor, minha mãe costumava contar para mim quando meu pai ainda era um homem bom.

Cheng olhou tristemente para Wei antes de sentar-se ao seu lado, e sorri lembrando-se daquele tempo nostálgico de quando se apaixonou por Xichen.

— Eu o conheci no ensino médio no meu primeiro ano, ele era da mesma sala que eu, no início eu não gostava muito dele porque era popular e sempre tinha pessoas ao seu redor. Nunca falava com ele, na época eu estava mais na minha só ficava com meus amigos, que não eram muitos, então em um belo dia a professora colocou a gente pra fazer um trabalho juntos — riu ao se lembrar — Não acreditei naquilo, a gente nunca tinha se falado e teríamos que fazer um trabalho juntos, diferente de mim que estava muito bravo com a situação, ele parecia muito feliz.

— Talvez ele gostasse de você.

— Bom, você está certo, porém na época eu não sabia, nós fizemos todo o trabalho juntos. No começo eu não queria me aproximar dele, mas Xichen era gentil, educado e me tratava muito bem, foi fácil se tornar amigo dele e muito mais me apaixonar, quando menos percebi eu me apaixonei — suspirou — Terminamos o ensino e fomos para a mesma universidade, lá nós conhecemos Meng Yao, ficamos amigos dele porque éramos do mesmo ano, eu percebi o jeito que ele olhava para Xichen mas achei que talvez fosse loucura minha. Então o tempo foi passando e durante uma festa da Universidade, Meng Yao bebeu demais e beijou Xichen, fiquei muito mal porque eu também gostava dele, achei que naquele momento tinha perdido a chance de me declarar, e acabei fugindo pra longe dali.

— O que aconteceu depois? — remexeu-se inquieto.

— Vou chegar lá, eu acabei não tendo coragem de ver Xichen e muito menos Meng Yao depois daquilo — encarou Wei — Fiquei um tempo sem ir na universidade, o evitando mas então Xichen apareceu na minha porta com muita raiva, falando que eu tinha sumido e o tinha esquecido. Eu nunca vi ele daquele jeito, não soube o que dizer e nem como reagir, ele segurou meu rosto e disse que se eu tentasse fugir iria atrás de mim, aonde fosse preciso, que me amava e que não gostava de ninguém além de mim. Depois que ele se acalmou nós conversamos, falamos sobre tudo e começamos a namorar.

— E o Meng Yao? Vocês terminaram a amizade?

— Ele se afastou, mudou-se de cidade e nunca mais nos vimos, só depois de um tempo quando virei líder da máfia de lótus — deu de ombros — Depois disso ficou tudo meio estranho, Xichen ainda fala com Meng Yao mas eu não consigo, ele me disse algumas coisas na época que não falei a Xichen, e preferi esquecer. Nós nos casamos depois de quatro anos de namoro e uma enorme cerimônia, e um ano depois tivemos Jingyi.

— Vocês formam um belo casal, sinto um pouco de inveja, não acho que terei alguém assim em minha vida.

Antes que pudesse responder, a porta do quarto foi aberta e Wangji adentrou o quarto, um sorriso dançava sobre os lábios do alfa.

— Como está pequeno lótus?

Cheng apenas sorriu consigo mesmo.

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