1

8.9K 430 18
                                    

SAFIRA

Tudo começou em um encontro inesperado com uma antiga colega de escola, no dia em que eu entregaria a casa alugada por meus pais, afinal, eu não teria mais como pagar, mas então tudo mudou...

— Safira! — ouvi uma voz atrás de mim e fiquei surpresa ao encontrar Maíra, uma colega de sala que eu não via há tempos.

Sorri abertamente e fui envolvida de imediato em um abraço forte.

Era a mesma Maíra de sete anos atrás. Não era à toa que ela conhecia metade da escola

Eu sempre quis ter a facilidade dela em abraçar, beijar, enfim... fazer algum amigo, mas não dava, eu não conseguia assim.

Maíra era uma das poucas pessoas que se aproximavam de mim na escola e eu sempre agradeci por isso.

— Como você está, garota? — perguntou em meio ao abraço, com sua voz abafada pelo meu ombro.

Pelo tom de pesar, eu sabia que era pela tragédia com os meus pais oito meses atrás.

É claro, todos por aqui sabiam.

— Tentando seguir. — minha voz embargou como em todas às vezes em que eu tocava no assunto.

— Poderia passar cinquenta anos, a dor ainda será a mesma.

— Poxa, Safi. — lamentou Maíra, me apertando ainda mais. — Eu cheguei por esses dias, soube ontem do que aconteceu e estava torcendo para te ver e te dar esse abraço.

Carinhosa como sempre com as pessoas, aceitei o acalento da garota que me defendia na escola.

— Obrigada mesmo, Maíra. — limpei meus olhos e vi que tinha molhado todo o seu ombro. — Desculpa por molhar sua blusa. —  solucei.

— Não tem problema nenhum, querida. —  afagou meu ombro e eu fiquei grata pela demonstração de afeto.

Eu estava sozinha.

Não conhecia nenhum parente, fosse do lado paterno ou materno... Nada.

Meus pais saíram ainda muito jovens da pequena cidade em que moravam no sul do país e deixaram tudo para trás, pois muitos não concordavam com o relacionamento deles.

Amigos? Eu não tinha.

Nunca fui próxima de muitas pessoas. No bairro, eu não conhecia bem as pessoas, pois quase não saia de casa e na escola, o máximo que cheguei de ter uma amiga foi com Maíra.

 — Eu não tenho mais ninguém, Maíra. —  admiti, enquanto olhava para as pessoas andando para lá e para cá.

— É claro que tem, Safi.  — disse. — Eu sou a sua amiga e mesmo sem todos esses anos sem trocar uma palavra, eu estou aqui agora.

A olhei e encarei o seu rosto, meus olhos estavam embaçados pelas lágrimas.

Eu não disse mais nada, porque eu sabia que uma hora ou outra eu não teria mais Maíra também.

O problema é você, sempre foi você, Safira.

Eu era difícil e sabia bem disso. Fazer amigos era difícil, falar com estranhos era difícil, conviver com outras pessoas também era difícil. 

Mesmo gostando de estar sozinha a maior parte do tempo, eu não gostava da solidão que insistia em me acompanhar nesses últimos meses.

***

Maíra me esperou na porta da lotérica e pediu para eu passar o dia na casa dela.

De início neguei, mas ao pensar na casa vazia que me esperava, a ideia de conversar com alguém me pareceu mais acolhedora do que deitar no meu sofá e chorar pelo resto do dia.

Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]Onde histórias criam vida. Descubra agora