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SAFIRA

Senti os braços da minha sogra ao meu redor, tentando me consolar, mas a dor dentro de mim era profunda demais para ser aliviada com um simples abraço. Ainda assim, o calor dela me trazia algum conforto, como se a minha própria mãe estivesse me abraçando ali.

– Eu sinto muito, minha filha. – a voz de dona Odete soou baixa e trêmula, quase um sussurro, carregada de uma tristeza que eu sabia que vinha do fundo da alma dela. – Não era pra ser assim. Ele... ele não devia ter feito isso, Safira. Eu pensei que Murilo tinha melhorado desde que vocês começaram a namorar...

Minha cabeça balançava de um lado para o outro, negando o que ela dizia. Eu sabia que ela se sentia culpada, mas nada daquilo era culpa dela. Não era ela quem tomava as decisões, quem agia sem pensar, sem jamais me dar o benefício da dúvida.

– Não, dona Odete – consegui murmurar, mesmo que minha voz falhasse a cada palavra. – Não é culpa sua. A culpa é só dele. Ele age sem pensar, nunca acredita em mim, achando o pior de todo mundo, até de quem só quer o bem dele.

Me afastei um pouco dela, limpando as lágrimas com as costas das mãos. Mesmo com o coração partido, eu sabia que precisava colocar tudo para fora. Eu precisava falar, porque guardar aquilo dentro de mim estava me sufocando.

– Eu só queria ganhar meu próprio dinheiro, sabe? – comecei a dizer, tentando manter minha voz firme, mas ela saía quebrada.– Eu só queria ter um pouco de liberdade, poder interagir com outras pessoas, ver o mundo lá fora. Mas ele... – suspirei profundamente, sentindo um nó apertar na minha garganta. – Ele tirou isso de mim há dois anos. Dois anos em que eu fiquei presa aqui, nessa casa, vendo só ele, dependendo dele para tudo. Eu não aguentava mais.

Ela me olhava com olhos cheios de compreensão, e isso me deu forças para continuar.

– Eu escondi que estava trabalhando porque sabia que ele ia reagir assim. – continuei. – Eu só queria sentir que era capaz de algo, que eu podia fazer alguma coisa sem precisar dele, sem ter que pedir permissão para tudo. Mas ele... – Minha voz falhou de novo, e senti as lágrimas voltando com força. – Ele não entende isso. Ele nunca vai entender.

Dona Odete me abraçou de novo, e eu me permiti chorar mais um pouco em seu ombro.

– Eu não aguento mais. – disse, minha voz quase inaudível, abafada pelo choro. – Eu quero ir embora, dona Odete. Por favor, me ajuda a sair daqui.

Ela apertou mais o abraço, e eu senti a confirmação no toque dela antes mesmo de ouvir as palavras. Ela me entendia, e mais importante, ela estava disposta a me ajudar.

– Eu entendo, minha filha. – ela sussurrou no meu ouvido. – E eu vou te ajudar, não se preocupa.

Nesse momento, ouvi um som atrás de mim, e um arrepio percorreu meu corpo. Murilo estava ali, parado na porta da sala, os olhos fixos em nós duas.

Safira fica, mãe. – ele disse com a voz baixa, quase um rosnado. – Não se mete nos problemas dos outros. A senhora sabe que ela não vai pra lugar nenhum.

Minha respiração acelerou, e eu segurei o braço de dona Odete, meu corpo inteiro tremendo de pavor. Eu não queria ficar sozinha com ele. Depois do que tinha acontecido, não depois de tudo o que ele tinha feito e dito.

– Pode ficar tranquila, minha filha. – Dona Odete falou firme, se virando para Murilo com um olhar severo. – Você já fez muito hoje, Murilo. Agora é hora de dar um tempo para ela, dar espaço. Porque até eu, que sou sua mãe, estou com vergonha das suas atitudes com essa garota.

Murilo respirou fundo, como se estivesse se preparando para uma explosão, mas tentou se controlar. Eu podia ver a raiva queimando em seus olhos, mas ele parecia estar lutando para não explodir naquele momento.

– Você não entende nada, mãe. – ele disse, a voz carregada de frustração.

Ela não recuou nem por um segundo.

– Murilo, não adianta. – ela disse, firme. – O que você fez hoje foi inaceitável, e você precisa entender isso. Safira vai ficar lá em casa hoje. Ela não vai ficar aqui, e você vai ter que aceitar isso, gostando ou não.

Ele olhou para mim, como se pedisse para eu negar o que estava acontecendo, para eu dizer que iria ficar com ele, mas eu não podia mais fazer isso. Talvez antes de perceber que Murilo não tinha um pingo de confiança em mim, eu poderia fazer isso... Eu sempre cedia a tudo o que ele pedia, mas o meu coração estava muito machucado para tentar entender ele mais uma vez.

Do que adiantava tentar entender ele, se ele nunca tentava fazer isso por mim?

Eu precisava sair dali, precisava de um pouco de ar, de espaço para pensar.

– Eu vou com a sua mãe. – falei, tentando manter minha voz firme, mesmo que meu coração estivesse batendo acelerado no peito.

Vi o rosto de Murilo se contorcer, mas ele não disse nada. Apenas ficou ali, me olhando.

Dona Odete se levantou, me puxando com ela. Eu me agarrei a ela como se fosse minha única salvação, e talvez naquele momento, fosse exatamente isso que ela representava para mim.

– Vamos, querida. – ela disse, sua voz agora mais suave.

Eu segui dona Odete para fora da casa, sem olhar para trás. Não queria ver a expressão no rosto de Murilo, porque eu era tão idiota que poderia acabar desistindo e ficaria ali com ele.


Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]Onde histórias criam vida. Descubra agora