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SAFIRA

Eu estava ali, deitada sobre o peito de Murilo, sentindo o calor do corpo dele se misturar ao meu, mas, ao mesmo tempo, parecia que algo estava errado. O contato era físico, sim, mas ainda assim, estávamos distantes, e isso era impossível de ignorar.

Minha cabeça estava cheia. A mão dele passava pelos meus cabelos de forma lenta e eu queria desesperadamente romper aquele silêncio, entender o que se passava na cabeça dele.

– Murilo. – chamei, tentando soar tranquila, mas com a voz baixa, como se estivesse testando o terreno. Ele não respondeu de imediato. – Eu não entendo você – continuei, sentindo um nó se formar na garganta. – Eu não entendo essa relação nossa.

Ele não disse nada, mas o silêncio que seguiu foi ensurdecedor. Levantei um pouco a cabeça para olhar para ele, mas o rosto dele permanecia impassível.

– Murilo, eu tô falando sério. – insisti, tentando manter a calma, mas sentindo a frustração crescer. – Você não pode me confundir assim. Uma hora você é de um jeito, e na outra é completamente diferente. Como você espera que eu entenda o que se passa na sua cabeça?

Finalmente, ele suspirou, como se o peso das minhas palavras tivesse caído sobre ele. Fechou os olhos por um instante, e quando finalmente falou, sua voz saiu baixa, quase como um murmúrio:

– Eu tô aqui, não tô?

Essas palavras. Tão simples, tão óbvias, mas ao mesmo tempo tão vazias. Senti um aperto no peito. Ele estava ali, fisicamente, mas não de verdade. E isso me machucava mais do que eu queria admitir. Um sorriso triste surgiu nos meus lábios.

– É o mesmo que não estivesse. – respondi, sentindo a amargura transbordar na minha voz. – O que aconteceu ontem... mudou tudo. Aquela foto foi demais pra mim, Murilo. Você fica doido por cada coisinha que eu faço, mas anda por aí com outras mulheres como se eu não existisse. Isso não faz sentido pra mim.

A expressão dele não mudou. Ele continuava me olhando com aqueles olhos que eu não conseguia ler. A dor dentro de mim só aumentava. Eu precisava saber, precisava entender o que significava para ele. Eu já não aguentava mais aquela confusão, aquela incerteza que me devorava por dentro.

– E se fosse eu? – perguntei, sentindo meu coração acelerar. – E se eu te traísse?

As palavras saíram antes que eu pudesse me conter. E assim que as disse, o tempo pareceu parar. Vi Murilo virar a cabeça lentamente para me encarar, e o que vi nos olhos dele me deu arrepios. Havia uma intensidade ali. Mas não desviei o olhar. Eu precisava saber. Precisava ouvir o que ele tinha a dizer.

– Que história é essa? – a voz dele saiu baixa, mas o tom era carregado de uma gravidade que fez meu estômago revirar. – Você tá ficando maluca, caralho?

Eu deveria ter sentido medo, mas só senti um alívio estranho. Ele estava sentindo. Talvez agora ele entendesse o que eu estava passando.

– Você não gostou da ideia, não é? – continuei, tentando manter o controle, mesmo com minhas mãos começando a tremer. – Pois é a mesma coisa comigo, Murilo. Quando eu vejo você com outras mulheres, sinto como se meu coração fosse esmagado. E você nem se importa, age como se não fosse nada demais. Como você acha que eu devo me sentir?

Murilo ficou em silêncio, e a tensão entre nós era quase insuportável. Ele parou de acariciar meu cabelo, e eu soube que havia tocado em um ponto sensível. Ele me afastou levemente e se sentou no sofá suspenso, os olhos nunca deixando os meus.

– Se isso acontecesse, Safira... – ele começou, com uma seriedade que fez meu sangue gelar. – Se você me traísse... você e o cara pagariam muito caro.

O silêncio que se seguiu foi ainda mais pesado. Eu senti um arrepio percorrer minha espinha.

– É assim, então? – perguntei, minha voz saindo fraca. – Você acha que pode fazer o que quiser, mas eu sou obrigada a aceitar, quieta, sem questionar?

– Não é questão de aceitar ou não. – ele respondeu, com um tom cansado, quase indiferente. – Eu sou assim, Safira. Eu não vou mudar por ninguém, nem por você.

As palavras dele foram como um soco no estômago. Lágrimas ameaçaram cair, mas eu me recusei a deixar elas escorrerem. Eu não podia parecer fraca, não agora.

– Você diz que tá aqui, mas nunca tá de verdade. – continuei, a amargura se transformando em raiva. – Eu tô cansada de tentar entender você, de tentar decifrar o que se passa na sua cabeça, enquanto você não faz nenhum esforço pra entender como eu me sinto.

Murilo desviou o olhar, como se minhas palavras não o afetassem. E isso doía mais do que qualquer coisa. Eu estava me expondo, me despindo emocionalmente diante dele, e ele parecia estar a quilômetros de distância.

– Eu já te disse como as coisas são. – ele disse, impassível. – Eu sou o que sou, e se você não consegue lidar com isso, então...

– Então o quê? – cortei, sentindo a raiva e a dor borbulharem dentro de mim. – Você vai me deixar embora? Porque se você for, é melhor fazer isso de uma vez do que continuar me fazendo sofrer assim.

Murilo voltou a me olhar, e dessa vez, havia algo mais nos olhos dele. Ele não respondeu de imediato, e o silêncio que se seguiu foi sufocante.

– Não espere por isso, porque eu não vou permitir. Nunca. – ele disse finalmente, o tom firme, inabalável. – Mas você precisa entender que isso aqui... – ele gesticulou entre nós dois. – É o que é, e vai permanecer assim. A escolha não é sua.

Senti meu coração despedaçar. As lágrimas finalmente escaparam dos meus olhos. Eu sabia que ele estava falando sério, que não havia espaço para negociação.

Ele não estava disposto a lutar por nós, e isso era uma dor que eu não sabia se podia suportar.

– Você tá dizendo que não se importa – murmurei, com a voz quebrada. – Você não se importa comigo, com a gente. Você só se importa com você mesmo.

Ele não disse nada, e o silêncio dele foi a confirmação que eu precisava. Eu estava sozinha nessa luta, e a decisão de continuar ou não era minha.

Com um esforço enorme, me levantei do sofá suspenso.

Dessa vez Murilo não me impediu de sair.

Senti meu corpo tremer, mas não podia deixar que ele visse o quanto eu estava destruída por dentro. Cada passo em direção à casa parecia mais difícil. Eu precisava sair dali antes que eu desabasse na frente dele.


Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]Onde histórias criam vida. Descubra agora