MARRETA
— Quem atirou em mim, William? — Perguntei direto. — E por que você não apareceu quando eu cheguei no lugar que você disse que tava?
William levantou a cabeça devagar.
— Eu não sei, Marreta. Não sei quem pode ter feito isso contigo. Eu tava no lugar, mas na hora do desespero eu devo ter mandado a localização errada, sei lá, merda!
Eu soltei uma risada seca.
— Você errou a localização? Tá de sacanagem comigo, né, porra? Eu não sou burro, William. — Continuei. — Se tinha algum filho da puta ali, esperando pra me pegar, é porque alguém avisou eles. E se não foi você, então quem, porra?
Ele abriu a boca pra responder, mas eu não dei tempo.
— Eu já tô de saco cheio das suas desculpas. Ou você começa a falar a verdade, ou a gente vai resolver isso do jeito difícil. Você sabe qual é, né?
Ele engoliu em seco, o suor escorrendo pela testa dele. Ele era bom em esconder emoções, mas não era perfeito.
— Marreta, eu juro por tudo que é mais sagrado, eu não sei quem fez isso contigo. — A voz dele estava mais firme agora, mas eu sabia que ele estava tentando esconder o medo. — E quanto à localização, foi erro meu, eu te mandei errado porque tava nervoso, com medo. Eu sou seu amigo, cara. Por que eu ia fazer isso contigo?
Aquelas palavras me irritaram ainda mais.
— Aquela área é perigosa... — Ele continuou, a voz falhando um pouco.
Eu parei de andar e encarei ele diretamente nos olhos. William piscou, parecendo confuso, mas eu não estava dando brecha pra ele.
— E como você sabe de qual área eu tô falando, hein? — Perguntei. Ele se mexeu na cadeira, claramente pego de surpresa. — Eu nem mencionei a porra do lugar exato.
— Eu não fiz nada, irmão. Acredita em mim, Marreta. — implorou.
— Tá na defensiva por quê, hein? — Questionei, com ironia na voz. — Eu quero a verdade, William. Se você sabe de alguma coisa, fala agora. Porque se eu descobrir que você tá me escondendo alguma coisa, não vai ter mais conversa. E aí, vai falar ou não vai?
Eu dei outro passo à frente, até ficar cara a cara com ele. O cheiro de cigarro impregnado na roupa dele misturava com o suor que começava a aparecer na testa. Minha mão coçava de vontade de enfiar um soco na cara dele.
— Vocês tão mesmo duvidando de mim? — Ele quase gritou. — A gente é amigo desde moleque, caralho! Fizemos merda junto, corremos risco juntos! E agora vocês tão com essa palhaçada de desconfiar de mim, é isso?
— Eu também achava isso, parceiro. — Disse, irônico. — Mas de uns tempos pra cá, você tá estranho demais.
— Tô normal, só me preocupo com os negócios. E você, cara... — Ele hesitou, mas continuou. — Essa tua loucura pela Safira ainda pode ferrar todo mundo.
O sangue subiu à minha cabeça, e eu sabia que ele ia jogar Safira no meio disso.
— Tá mais do que na cara que você tá interessado na Safira. — Quando eu disse isso, ele abaixou a cabeça. Dei um passo à frente, segurando ele pela gola da camisa e puxando com força, levantando ele da cadeira. — Tira essa ideia da tua cabeça, seu fodido. Eu sou tão louco por ela que, se precisar, eu mato até você, William. Amizade? Foda-se! Eu não vou deixar nada nem ninguém tirar a Safira de mim.
O ambiente ficou pesado. Rafael, que estava quieto até agora, deu um passo à frente, tentando manter a calma na situação.
— Vamos voltar ao que interessa, William, o ataque ao Murilo. — Rafael disse, tentando focar no que importava. William se virou pra ele.
— Eu não sei quem foi. — Ele disse, finalmente, então para Rafael e depois para mim. — Mas eu vou te ajudar a descobrir, Marreta. Eu tô do seu lado, cara. Juro.
Eu não consegui evitar um sorriso sarcástico. William estava jogando, tentando se livrar, mas eu não estava nem um pouco convencido.
—— Tá bom, William. Você me convenceu. — Disse, com um sorriso falso. — Vou te dar o benefício da dúvida. Afinal, nós temos um amizade de anos, né?!
Ele assentiu rápido, como se quisesse sair dali o mais rápido possível. Quando ele finalmente saiu, eu me virei pra Rafael, que tava em silêncio o tempo todo, observando de perto.
— Você acredita nele? — Ele perguntou, a dúvida clara na voz.
Eu olhei pra porta por onde William tinha acabado de sair.
— Se eu fosse burro, sim. — Respondi, minha voz fria como gelo. — Mas eu não sou. Eu sei que ele tá envolvido nisso de algum jeito, e vou descobrir o que é. Não vou deixar isso passar, Rafael.
Ele suspirou, passando a mão pelo rosto.
— Porra, Marreta... O William nunca foi santo, mas... trair a gente assim? Não imaginei que ele fosse capaz de fazer isso. — Eu cruzei os braços, refletindo sobre o que tinha acabado de acontecer.
— Alguma coisa mudou ele, Rafael. — Falei, pensando alto. — E isso não vai acabar bem pra ele. Eu vou descobrir tudo e, quando eu descobrir, ele vai pagar caro por essa merda.
— Você acha que o William vai tentar alguma coisa contra você?
Eu me virei para ele, meu rosto endurecido pela certeza.
— Tenho certeza que sim. Mas ele vai descobrir do jeito mais difícil que não pode fazer isso. — Minha voz estava firme, sem hesitação. — O William vai descobrir que traidor aqui, se fode.
Ele sabia o que isso significava. Não havia mais espaço para sentimentos, para compaixão.
— Entende o que isso significa, né?
— Entendo. — Rafael respondeu, sem vestígios de dúvida. — E agora, o que a gente faz? — Rafael perguntou, a voz hesitante.Eu olhei de novo pra porta, minha mente já começando a formar um plano.
— Quero que você avise os moleques. — Ordenei. — Quero eles de olho no William. Se ele pisar fora da linha, eu quero saber antes mesmo dele perceber. Entendeu?
— Entendi. Pode deixar, vou cuidar disso. — Rafael respondeu, firme.
Eu sabia que a partir daquele momento, as coisas iam mudar. William era uma ameaça, e eu não podia deixar ele livre sem vigilância. Se ele realmente tava envolvido nisso, eu ia garantir que ele pagasse.
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Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]
RomanceSafira cresceu na favela e nunca teve uma vida fácil. Ela fazia de tudo para ignorar aquela parte tão violenta do que era morar ali. Com a morte recente dos pais, Safira se vê sem rumo na vida. Do outro lado, Murilo, também conhecido com Marreta, er...