SAFIRA
Estávamos sentadas no chão frio e sujo de um lugar que parecia ter sido abandonado há muito tempo. O cheiro de mofo era quase insuportável. As paredes eram escuras, manchadas pelo tempo e pela umidade. A única luz que entrava vinha de uma pequena janela com grades enferrujadas, quase no teto, que não oferecia nenhuma esperança de fuga. Tudo ali parecia ter sido escolhido para nos fazer sentir ainda mais desamparadas, mais isoladas.
Meu corpo tremia, e eu não conseguia parar de chorar. As lágrimas desciam silenciosamente pelo meu rosto, enquanto eu tentava manter o controle, mas a verdade é que eu estava apavorada. Maíra e eu estávamos ali há horas.
Eu senti os braços dela ao meu redor, tentando me consolar, mas eu sabia que minha amiga também estava com medo, eu podia sentir, mas de alguma forma, ela conseguia manter a calma.
— Safira, fica calma. — Ela disse, tentou parecer forte, apesar do pânico evidente nos olhos. — Você precisa pensar no bebê agora, tá? Você não pode contar pra ninguém aqui que está grávida, entendeu?
Eu assenti lentamente, limpando os olhos com a manga da minha blusa. Eu sabia que ela estava certa. Revelar que estava grávida seria um risco, algo que poderia complicar ainda mais a situação. Mas a verdade é que eu mal conseguia pensar direito. Meu coração estava acelerado, e a única coisa que ecoava na minha mente era o medo do que poderia acontecer a seguir.
O que eles fariam com a gente? Qual era o objetivo de tudo isso?
O som de passos pesados me fez erguer a cabeça. William estava voltando. Ele se aproximou lentamente, seus olhos cravados em mim e se agachou na minha frente.
Ele não disse nada de imediato, apenas ficou ali, me encarando. Seu olhar era frio, vazio de qualquer emoção. Era como se ele estivesse tentando me dissecar com os olhos, querendo ver até onde eu aguentava antes de desmoronar.
Então, ele riu. Uma risada amarga, carregada de desprezo.
— Sabe... — Ele começou, a voz gotejando veneno. — Tudo isso poderia ter sido evitado se você simplesmente tivesse se colocado no seu maldito lugar. Se você tivesse saído da porra dessa cidade e ido pra qualquer outro lugar. Eu até teria ajudado, sabia? Mas não... — Ele balançou a cabeça, como se estivesse decepcionado. — Você quis ficar aqui, brincando de casinha como uma puta idiota. Você fodeu com ele, Safira. Transformou ele num merda que faz tudo o que você manda. Você foi muito idiota, garota. Muito.
Eu o olhei confusa. Não estava entendendo o que ele queria dizer com aquilo. Minha mente estava uma bagunça, mas uma coisa era certa: nada daquilo fazia sentido para mim. Eu só queria estar longe dali, em segurança.
— Do que você tá falando? — Minha voz saiu trêmula, quase um sussurro.
Ele bufou, irritado.
— Desde que vocês começaram com aquela merda de relacionamento, ele nunca mais fui o mesmo. — Ele cuspiu as palavras. — Você transformou o Marreta num fraco, num pau mandado de merda! E tudo por quê? Por uma mulher que não vale nada, que não passa de uma... — Ele parou, olhando para mim com um nojo tão profundo que eu tive que desviar o olhar. — Uma vadia como você, Safira. Você destruiu ele, e agora você vai pagar por isso.
O olhar que ele me lançou em seguida foi um misto de ódio e desdém. O desprezo em seus olhos era cortante, como se eu fosse a culpada por todos os problemas dele.
Antes que eu pudesse responder, Maíra interveio. Ela sempre foi corajosa, mesmo quando tudo estava desmoronando ao nosso redor.
— O Murilo e a Safira se amam. — Ela disse. — O relacionamento deles não colocaria ninguém em risco, William. Você não tem o direito de...
William girou a cabeça na direção dela, os olhos dele faiscando de raiva.
— Cala a boca! — Ele gritou, o som de sua voz ecoando pelo espaço vazio e me fazendo estremecer.
Maíra se encolheu ao meu lado, mas permaneceu em silêncio. Eu sabia que ela estava apenas tentando me proteger, tentando proteger a todos nós, mas as palavras de William deixaram claro que ele estava além da razão. Ele estava fora de si.
Antes que eu pudesse reagir, ele levantou a mão e me deu um tapa, que veio com força, estalando contra o meu rosto. O impacto fez minha cabeça girar, e eu soltei um gemido de dor. Maíra, desesperada, se jogou na frente dele, tentando me proteger.
— Não bate nela, William. Deixa ela em paz, ela não fez nada. — Maíra gritou, mas William a empurrou com tanta força que ela caiu no chão, chorando.
— Cala a boca, Maíra! — Ele rugiu, sua voz cheia de raiva, enquanto se voltava para mim. — Isso aqui é entre eu e essa puta!
Maíra continuou chorando, tentando se levantar, mas eu sabia que ela não podia fazer nada para parar William. Ele estava fora de controle. Ele agarrou meu cabelo, me puxando com força para cima. Ele rugiu, enquanto o segundo tapa veio com mais violência, seguido de outro e mais outro.
Minha pele queimava, e as lágrimas escorriam sem controle pelo meu rosto, mas ele não parava. Eu tentei levantar as mãos para me proteger, mas William agarrou meus pulsos, impedindo qualquer defesa.
Eu gritava, o som saindo desesperado, implorando para que ele parasse, mas era como se ele não me ouvisse, como se o ódio dentro dele fosse mais alto do que qualquer súplica.
E eu nem mesma entendia o porquê dele me odiar tanto.
— Para! Por favor, para! — Eu chorava, sentindo meu rosto inchar.
— Você merece isso e muito mais, sua desgraçada! — Ele gritou. — Se eu não tivesse que te entregar pro Patrick, eu te matava aqui e agora! Mas não... — Ele sorriu, um sorriso cruel que me deu arrepios. — Você vai implorar pra morrer, porque ele vai fazer você sofrer de um jeito que nem nos seus piores pesadelos você conseguiria imaginar. — William me sacudiu brutalmente.
Eu soluçava, e Maíra gritava ao meu lado, implorando para que ele parasse, mas William apenas a empurrou novamente, com a mesma brutalidade de antes.
— Fica quieta, Maíra! — Ele rosnou, voltando sua atenção para mim. — Essa puta merece cada segundo dessa merda, entendeu, caralho?!
Ele me soltou com um empurrão, e eu caí no chão, sentindo o corpo todo dolorido.
— Vocês duas não fazem ideia do que é estar no meu lugar. — Ele começou. — Nunca entenderiam o que eu vivo. De ter tudo o que construiu ameaçado por escolhas de putas idiotas que não sabem o seu lugar.
Minha garganta estava seca, e eu lutava para engolir, enquanto amiga me puxava mais para perto e me abraçava, como se aquilo fosse me proteger da ira dele.
— Você vai se arrepender de tudo isso, William. — Maíra disse, a voz dela baixa. — Somos as únicas pessoas que poderiam ter te ajudado, que poderiam ter feito a diferença. Quando o meu irmão te encontrar, quando ele souber de tudo isso que você está fazendo com ela, você vai se arrepender, William.
William riu de novo, mas dessa vez foi uma risada amarga, cheia de descrença.
— Ajudado? — Ele repetiu, como se a ideia fosse absurda. — Vocês duas nunca entenderiam. A única coisa que eu preciso é... Quer saber, não interessa a você e nem a ninguém, vadias.
Ele se virou e saiu do cômodo, deixando a gente ali, sozinhas novamente. As portas se fecharam com um estrondo, e o som dos passos dele ecoou pelo corredor até desaparecer. O silêncio que se seguiu era quase ensurdecedor. Eu podia ouvir meu próprio coração batendo acelerado, e o som do choro baixo de Maíra ao meu lado.
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Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]
RomanceSafira cresceu na favela e nunca teve uma vida fácil. Ela fazia de tudo para ignorar aquela parte tão violenta do que era morar ali. Com a morte recente dos pais, Safira se vê sem rumo na vida. Do outro lado, Murilo, também conhecido com Marreta, er...