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MARRETA

O som abafado do ventilador rodando no teto não era suficiente para dissipar o calor que fazia na salinha. A mesa de madeira velha no centro estava cheia de papéis, planilhas de contabilidade rabiscadas à mão, com números que representavam o dinheiro que entrava e saía do negócio. Rafael e William estavam sentados à minha frente.

– Esses números não tão batendo, Marreta. – começou Rafael, passando a mão pelos papéis espalhados. – A gente tá com um rombo aqui. Tem alguém levando mais do que devia, porra.

Eu olhei para os números, mas minha mente já estava em outro lugar. Claro, o dinheiro era importante, mas tinha outra coisa queimando na minha cabeça, algo que não me deixava em paz. Safira. Ela estava me desafiando e a cada dia que passava, se afastando mais de mim, isso me deixava louco.

Eu não suportava a ideia de perder ela, de ver aqueles olhos me olhando com desconfiança, como se eu fosse o vilão da história. Mas eu não era. Eu fazia tudo por ela, tudo para proteger ela.

Um homem não podia se preocupar e cuidar da sua mulher?

– Eu vou resolver isso. – murmurei, respondendo ao comentário de Rafael sobre o dinheiro, mas sem realmente me concentrar no problema.

William, que estava mais calado que o normal, finalmente se pronunciou, como se tivesse lido minha mente.

– Tá com a cabeça em outro lugar, cara? – perguntou ele, com um sorriso malicioso. – Ou melhor, em outra pessoa?

Eu levantei o olhar para ele, sem esboçar nenhum sorriso. William sempre foi um filho da puta sarcástico, mas sabia que não tinha o direito de brincar com certas coisas. E Safira era uma delas.

– Não é da sua conta. – rebati, seco, mas isso só fez o sorriso de William aumentar.

Rafael, que estava mais sério, se inclinou na cadeira, como se quisesse mudar de assunto.

– Marreta, a gente sabe que você gosta dela, mas tá pegando pesado demais, parceiro. Isso pode acabar afastando ela de você, não acha?

Meu sangue ferveu instantaneamente. Rafael não entendia, não sabia o que era precisar de alguém como eu precisava de Safira. Ele achava que podia me dar lição de moral, mas não sabia de nada.

– Você não sabe de porra nenhuma, Rafael. – rosnei, as palavras saindo antes que eu pudesse me controlar. – Ela é minha. E eu faço o que for preciso pra manter ela comigo.

Rafael sempre foi mais racional, mais calmo, mas isso não me impressionava. Eu não era calmo, nunca fui, e essa calmaria que ele pregava me deixava puto.

– Não tô dizendo que não é, Marreta. – respondeu ele, tentando manter o tom tranquilo. – Só acho que você podia pegar mais leve. Mulher não gosta de se sentir presa.

Aquelas palavras me atingiram como um soco. Presa?

Safira não estava presa. Ela estava protegida.

E isso era o que importava. Não era sobre controle, era sobre cuidado. Mas Rafael não entendia, e a paciência que eu tinha estava no fim.

William, que até então tinha ficado em silêncio, resolveu intervir, e claro, ele sempre sabia o que dizer pra jogar gasolina na fogueira.

– Se der muita liberdade, elas sobem em cima. – disse ele, com um sorriso cínico. – Tem que mostrar quem manda, senão elas te fazem de idiota.

Eu sabia que William estava do meu lado, pelo menos nesse ponto. Ele era do tipo que achava que mulher tinha que saber o lugar dela, e eu não discordava.

– William tem razão. – murmurei, finalmente tomando um gole da cerveja quente, que só piorou o gosto amargo na boca. – Eu não vou deixar Safira fazer o que quer.

Rafael olhou para mim, sem falar nada. Eu sabia que ele não concordava, mas eu não importava. O que importava era que eu mantivesse Safira comigo, custe o que custar.

– A Estefane tá se metendo onde não deve. – comentou Rafael, mudando o foco da conversa. – Vi ela e a Carla de papinho outro dia. E descobri que foi a Carla quem tirou aquela foto e mandou pra Safira.

O simples fato de ouvir o nome de Estefane fez minha raiva subir como fogo. Aquela vadia estava tentando foder com a minha vida, mexendo com Safira. Ela não sabia onde estava se metendo, mas ia aprender do pior jeito possível.

– Puta nenhuma vai separar eu e a Safira. Nenhuma. – comecei, sentindo a raiva escorrendo pelas palavras.

William soltou uma risada.

– Isso mesmo. Essas vagabundas pensam que mandam em alguma coisa, mas quem manda aqui é você.

Se Safira estava recebendo fotos e mensagens, era porque alguém queria botar minhoca na cabeça dela. E eu não ia permitir que isso continuasse. Não enquanto eu estivesse respirando.

Minha mente começou a correr a mil por hora. A ideia de alguém, especialmente uma vagabunda como Carla ou Estefane, se metendo no meu relacionamento, tentando envenenar a minha mulher contra mim, era algo que eu não podia aceitar.

Safira era minha. E a simples ideia de que alguém estava tentando afastar ela de mim me deixava cego de raiva. Não era apenas uma questão de orgulho, mas de sobrevivência. Eu precisava de Safira ao meu lado, e qualquer um que tentasse separar a gente estava cavando a própria cova.

Parei por um instante, sentindo o peso do silêncio na sala. Rafael e William me observavam atentamente, como se esperassem o comando. Eles sabiam que eu estava prestes a explodir, mas estavam preparados para seguir qualquer ordem que eu desse. Eram leais, meus irmãos de batalha, mas acima de tudo, sabiam do que eu era capaz quando alguém me desafiava.

– Carla vai aprender a não mexer com quem não deve. – disse, quase num sussurro, mas o tom de ameaça era claro e firme.

Meus olhos se estreitaram enquanto eu continuava, deixando cada palavra pesar na sala como uma sentença de morte.

– Quero que vocês deem um sacode nela. Não precisa pegar leve. Nela e na Estefane.

Eles sabiam que "dar um sacode" não era apenas um aviso. Era uma punição, um lembrete de que ninguém, absolutamente ninguém, se metia na minha vida sem consequências. Carla e Estefane precisavam sentir na pele o que significava cruzar o meu caminho.

Rafael e William assentiram. Eles sabiam o que isso significava. Eu não era de dar segunda chance. Quem cruzava meu caminho, especialmente quando se tratava de Safira, pagava caro.


Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]Onde histórias criam vida. Descubra agora