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SAFIRA

Na mesma noite...

— Vou pegar pipoca pra gente. — eu disse, tentando quebrar o silêncio confortável que se instalava.

Murilo sorriu, aquele sorriso que me deixava com as pernas fracas, e deu um leve aceno.

— Vou escolher um filme enquanto isso. — ele respondeu, mas antes que eu pudesse me levantar, ele me puxou de volta, colando nossos corpos.

Senti o toque da barba dele contra a minha pele e ri quando ele passou a ela pelo meu pescoço.

— Não consigo deixar você sair daqui. — ele murmurou. — Quem manda ser tão gostosa, hein?

— Se você não me deixar ir, não vamos ter nada pra beliscar durante o filme. — retruquei, tentando me afastar.

Murilo me olhou malicioso e apertou minha bunda com força.

— Tem outras coisas que eu poderia beliscar, sabia? — ele disse, com a boca ainda no meu pescoço, e eu não consegui segurar o riso.

Empurrei ele, me afastando.

— Safado! — brinquei, me levantando antes que ele me segurasse de novo. — Eu quero ver o filme com você. Essa é a primeira vez que a gente vai fazer um programa de namorados normais. — A ideia de um momento tão simples, mas tão significativo, me fez sorrir. Era tudo que eu queria.

Ele suspirou, mas havia um sorriso no rosto dele também. Um sorriso que dizia que ele estava disposto a tentar, pelo menos por mim.

— Tá bom, tá bom. O que eu não faço pra ver um sorriso bem aí, né? — ele disse, se ajeitando na cama.

Saí do quarto, ainda com um sorriso nos lábios, e desci as escadas, indo direto pra cozinha. Enquanto pegava a pipoqueira e despejava o milho dentro, meus pensamentos ainda estavam com Murilo.

Como seria bom se a gente pudesse ter mais momentos assim, de paz, de tranquilidade, de felicidade. Será que dessa vez as coisas realmente iam mudar?

O som da pipoqueira começou a preencher a cozinha, estourando grão por grão, e foi nesse momento que senti meu celular vibrar no bolso. Peguei o aparelho e vi o nome de Maíra na tela.

— Amiga? — A voz dela estava cheia de curiosidade. — Aconteceu alguma coisa? Você não voltou pra casa.

Maíra era minha melhor amiga, minha confidente, e eu sabia que podia contar com ela, mas explicar o que estava acontecendo entre mim e Murilo não era fácil. Ainda assim, decidi ser honesta.

— Vou ficar com o Murilo hoje. A gente tava conversando sobre umas coisas, Maíra.

Do outro lado da linha, ouvi Maíra rir de um jeito malicioso.

— Sei bem o que vocês conversaram. — Ela estava claramente se divertindo às minhas custas.

— Para de ser idiota, Maíra. — Respondi, tentando não rir também. — É sério, a gente só precisava conversar.

Houve um silêncio breve, e então Maíra perguntou, mas dessa vez  com certa  seriedade:

— E vai ficar tudo bem?

Eu fechei os olhos, tentando sentir a resposta no meu coração. Lembrando do olhar de Murilo, das promessas que ele fez, das palavras que ele usou para me segurar. Senti que, talvez pela primeira vez em muito tempo, a resposta fosse sim.

— Parece que sim. — respondi, deixando escapar um pequeno sorriso. — Acho que agora vai ficar tudo bem.

— Fico feliz em ouvir isso, Safira. De verdade. Você sabe o quanto eu amo vocês dois, e era difícil escolher entre minha melhor amiga e o meu irmão. O Murilo é complicado, mas eu torço tanto pra que vocês dois sejam felizes, seja lá qual o caminho que vocês decidirem.

Eu sorri, mesmo que ela não pudesse ver.

— Obrigada, Maíra. Eu vou contar tudo pra você quando eu voltar pra casa, tá bom?

— Vou cobrar, hein! — ela respondeu, rindo. — Agora vai lá e aproveita sua noite, porque eu não acredito nessa "conversa" que vocês vão ter não, viu?!

Ha ha ha. — debochei. — Vou desligar, amiga. Beijo. — Me despedi e desliguei o telefone, sentindo uma onda de otimismo tomar conta de mim.

O cheiro da pipoca começava a encher a cozinha, e eu me apressei em desligar a pipoqueira antes que queimasse. Despejei numa tigela grande, pegando um pouco de sal pra temperar, alguns biscoitos e doces no armário e refrigerante na geladeira.

Eu já estava subindo de volta quando ouvi Murilo me chamando lá de cima.

— Bora, Safira!

— Já tô indo! — gritei de volta.

Cheguei no quarto e encontrei Murilo deitado na cama, com o controle remoto na mão, zapeando pelos filmes.

— Até que enfim, hein? — ele disse, fingindo impaciência, mas eu sabia que ele estava brincando.

Coloquei as coisas perto da gente, enquanto ele me olhava.

— Vem cá, amor. — Murilo abriu os braços, com aquele sorriso de quem já sabia que eu não resistiria.

Amor.

Eu sorri, incapaz de resistir àquele convite. Assim que me aproximei, ele me puxou para mais perto e deu um beijo na minha cabeça.

Me deitei no peito dele, mas logo ouvi um gemido de dor, e me afastei rapidamente.

— Desculpa. Tá doendo? — perguntei, preocupada, analisando o machucado.

— Só um pouquinho. — Ele tentou disfarçar com um sorriso. — Mas nada que eu não aguente.

— Fiquei nervosa com o apelido. — ri.

— Já que você gosta tanto vou te chamar de "amor" toda hora, só pra você sorrir assim.

Sorri mais uma vez, balançando a cabeça.

— Eu aprovo! — brinquei. — Eu gosto mais desse do que "branquinha". — Coloquei a tigela de pipoca entre nós. — E aí, escolheu o filme?

Murilo fez um som pensativo, ainda navegando pelas opções na tela.

— Tô pensando aqui... mas nada me parece tão interessante quanto você.

Revirei os olhos, mas o elogio não deixou de aquecer meu coração.

— Deixa de ser bobo. Escolhe logo.

Ele finalmente parou em um filme de ação e deu play.

Eu me ajeitei na cama, puxando o cobertor sobre nós dois e me aconchegando ao lado dele.

Senti ele passar um braço por trás de mim, me puxando para mais perto.

— Murilo. — murmurei, virando o rosto para ele.

Ele olhou pra mim, os olhos ainda fixos na tela, mas com uma atenção que eu sabia ser só minha.

— Hum?

Eu sorri, sentindo uma onda de carinho me invadir.

— Obrigada por isso.

Ele não respondeu de imediato.

— A gente combinou que agora seria diferente, né? — eu assenti, sentindo um calor no peito. — A unica coisa que eu quero é te ver feliz, Safira. Quero que você tenha uma família e que ela seja do jeito que você sempre quis. Eu sei que eu vacilei muito, mas não vai mais acontecer.

— Isso significa muito pra mim, Murilo. Muito mesmo.

— Vou ser o homem que você merece, aquele que te faz sorrir. Eu quero que a nossa casa seja um lugar de alegria, não de medo. E, acima de tudo, eu quero que você nunca mais se sinta sozinha, meu amor.

Nos aconchegamos um pouco mais e continuamos assistindo o filme. 

Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]Onde histórias criam vida. Descubra agora