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SAFIRA

Já passava das duas horas da tarde quando me despedi de Felipe e dona Marta. Aquela rotina na casa daquele menino era meu escape, o único lugar onde ainda me sentia útil, amada e respeitada. Ajoelhei na altura de Felipe e abracei ele bem forte, sentindo o calor do corpinho dele contra o meu. Ele era como um irmãozinho pra mim. Um que nunca tive.

– Vou sentir muita saudade, viu, pequeno? – sussurrei, segurando as lágrimas. – Mas logo chega segunda-feira de novo, e eu volto, tá? A gente vai brincar bastante.

Eu não sei porque justo hoje estava me sentindo mais emotiva que nunca.

Felipe me abraçou de volta com aquela força que só as crianças têm, como se estivesse tentando me segurar ali por mais um pouco. Mas eu sabia que tinha que ir, então me soltei devagar e sorri.

Peguei o ônibus de volta pra casa, pensando em tudo o que tinha que fazer. Assim que cheguei, comecei a limpar a casa, tentando manter a cabeça ocupada.

Estava varrendo a sala quando meu celular tocou. Era dona Marta. Meu coração deu um salto, e eu atendi rapidamente.

– Alô, dona Marta, tá tudo bem?

– Oi, Safira. O Felipe tá meio enjoado, chorando muito. Acho que ele tá com saudade de você.

Senti um aperto no peito.

– Põe ele no telefone, dona Marta. Vou falar com ele.

Ela colocou o Felipe na linha, e eu podia ouvir os soluços dele do outro lado.

– Oi, meu amor, o que foi?

– Tia Safi...

Felipe choramingou um pouco, mas depois começou a falar, e eu fiquei ali, ouvindo e tentando acalmar ele. Eu disse que logo estaríamos juntos de novo, que ele não precisava ficar triste.

– Segunda já vamos estar juntos de novo, Felipe. Tá bom, meu amor?

Assim que desliguei, me virei e quase tive um ataque do coração ao ver Murilo parado na porta.

– Que susto! – exclamei, colocando a mão no peito. – Você tava aí parado ouvindo a minha conversa?

Ele não respondeu de imediato, mas deu alguns passos largos em minha direção. Senti um frio na espinha ao perceber que ele estava com raiva.

– Quem é Felipe? – ele perguntou.

Minha mente começou a girar. Ele estava escutando a conversa inteira, e agora achava que eu estava escondendo alguma coisa dele. Tentei manter a calma.

– Você não tem o direito de ficar ouvindo a minha conversa! – respondi.

Ele não ligou para o que eu disse. Se aproximou de mim, segurando meu braço com força. Seus dedos cravaram na minha pele, tanto que doeu.

– Eu perguntei quem é a porra do Felipe! – ele gritou, seu rosto a poucos centímetros do meu.

Fechei os olhos por um segundo.

– Você é louco, Murilo! E quer saber? Isso não interessa! – eu gritei de volta. – Você sempre age como um louco e tô cansada de você, ouviu?

Ele não parecia ouvir nada do que eu estava dizendo. Sua raiva crescia a cada segundo.

– Você me enganou direitinho com essa história de curso, né, vagabunda? – ele continuou, apertando meu braço ainda mais. – Mas agora chega, Safira. Você não vai sair mais de casa. Eu não vou mais ser idiota!

Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]Onde histórias criam vida. Descubra agora