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MARRETA

(versão do Marreta)

Estávamos todos sentados à mesa, e eu, como de costume, estava calado, concentrado no prato à minha frente. Não era novidade para ninguém que eu preferia o silêncio em momentos como esse. Para ser honesto, eu nunca entendi a necessidade de encher o espaço com conversa fiada, especialmente durante uma refeição.

Minha mãe estava radiante, distribuindo os pratos como se fosse um ritual sagrado. Eu podia ver o brilho nos olhos dela, aquele brilho de quem finalmente conseguia reunir todos os filhos ao redor da mesa. Eu sabia o quanto isso significava para ela, mas, mesmo assim, não conseguia me livrar da sensação de que tudo isso era temporário, uma espécie de ilusão que ela criava para si mesma.

– Eu sinto tanta falta disso. – disse ela, com um suspiro satisfeito enquanto passava a travessa de arroz para Safira. – Todo mundo junto aqui, como uma família deveria ser. Não devia acontecer raramente assim, sabia?

Eu sabia que minha mãe estava se referindo a algo mais profundo do que um simples almoço em família. Ela queria recriar o que tínhamos perdido, o que nunca mais seria o mesmo. Mas para mim, isso tudo era apenas uma tentativa de mascarar a realidade.

– É só um almoço. – respondi, pegando um pedaço de carne com o garfo e colocando no prato. – Não preciso de todo mundo junto pra ficar com a barriga cheia.

Eu sabia que aquela resposta não ia agradar, mas não me importava.. A verdade é que eu nunca me importei muito com essa coisa de família reunida, pelo menos não do jeito que minha mãe gostaria. Para mim, estar junto não mudava nada.

Minha mãe, é claro, não ia deixar passar aquela resposta. Ela nunca deixava. E eu já sabia que ela viria com algum sermão que, sinceramente, não mudaria em nada o que eu pensava.

– Meu filho, você é tão bruto às vezes. – disse ela, balançando a cabeça em desaprovação. – Não é só sobre comida, é sobre a nossa família, sobre estarmos juntos, compartilhando esses momentos. Vai muito além de encher a barriga.

Enquanto ela falava, eu sentia os olhos de Safira sobre mim. Ela sempre parecia querer que eu dissesse algo para agradar minha mãe, como se ela esperasse que eu fosse um tipo diferente de homem. Eu sabia que a decepção estava lá, escondida no olhar dela, mas eu não podia ser outra pessoa, nem por ela.

Eu simplesmente encolhi os ombros, mostrando minha indiferença. No fundo, sabia que minha mãe queria me ver de outra maneira, queria que eu fosse o filho ideal, o homem que talvez Safira merecesse.

– Quando você tiver filhos, vai entender o que eu tô dizendo.

Aquela frase me pegou de surpresa, mas eu disfarcei. Não queria que ela visse o impacto que as palavras tiveram em mim. Filhos? Aquilo era a última coisa na minha mente. Por que ela estava falando sobre isso agora?

Safira se engasgou com a comida, e eu automaticamente levei a mão às costas dela, batendo devagar para ajudar. Ela parecia tão desconcertada quanto eu com aquela conversa, e ver o nervosismo dela só me fez ficar ainda mais irritado. Por que minha mãe tinha que tocar nesse assunto? Ela não via que aquilo não fazia sentido?

– Safira! – exclamou minha mãe, preocupada, mas com um tom divertido na voz. – Tá tudo bem?

Eu continuei batendo nas costas de Safira, esperando que ela se recuperasse. Quando finalmente parou de tossir, eu voltei minha atenção ao prato, tentando me concentrar em algo que não fosse aquela conversa ridícula.

Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]Onde histórias criam vida. Descubra agora