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SAFIRA

Maíra eu eu estávamos em casa. Finalmente.

Eu estava no sofá, observando Maíra e Rafael no terraço. Eles conversavam baixinho e vi quando ele acariciou o rosto dela, deixando um sorriso se formar nos meus lábios.

Era muito bom ver minha amiga assim, calma e em paz.

— Filha, posso ter uma palavrinha com você? — a voz de dona Odete me trouxe de volta ao presente.

Eu assenti.

Ela se sentou ao meu lado. Notei suas mãos segurando algo pequeno, algo que reconheci imediatamente: o teste de gravidez que eu havia feito dias atrás.

— Isso é seu, querida? — perguntou ela, com um olhar suave, mas cheio de curiosidade.

Eu assenti, incapaz de falar no momento. As palavras pareciam presas na garganta.

Finalmente, consegui murmurar:

— Eu e Maíra fomos ao médico antes de sermos raptadas pra confirmar...

Dona Odete sorriu, emocionada, como se as peças do quebra-cabeça finalmente estivessem se encaixando na sua cabeça. Ela colocou a mão sobre a minha.

— E você está feliz com essa notícia, Safira? — a pergunta dela foi delicada, mas direta, e me fez pensar.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando organizar meus pensamentos.

No começo, quando descobri, o medo foi a primeira coisa que me atingiu. Não era a melhor hora, isso era óbvio. Mas depois, enquanto estávamos em perigo, a única coisa que eu conseguia pensar era se o bebê estaria bem.

Foi ali que percebi o quanto já amava essa pequena vida dentro de mim, e o quanto me arrependia de ter, por um segundo que fosse, considerado que ela poderia atrapalhar algo.

— No começo, fiquei apavorada, dona Odete. — admiti, com a voz embargada. — Achei que não era o momento certo, que eu não daria conta... Mas, depois, quando tudo aconteceu... eu me senti tão culpada, só conseguia pensar em proteger esse bebê. E percebi que nada no mundo seria mais importante do que isso. Me arrependi tanto de ter pensado que ele poderia ser um problema.

Dona Odete apertou minha mão, sorrindo com compreensão.

— Não se culpe, minha querida. É normal sentir medo, principalmente quando a vida nos surpreende dessa forma. Mas quero que você saiba que essa criança é uma bênção, e você tem todo o meu apoio, não importa o que aconteça, Safira.

Aquelas palavras me trouxeram alívio.

Eu ainda segurava a mão da dona Odete quando ouvi a porta da frente se abrir. Murilo entrou, o cansaço estampado no rosto, mas assim que nos viu, seu semblante mudou.

— O que aconteceu? — perguntou, com a voz cheia de cuidado. — Amor, você tá bem?

Eu não pude evitar um pequeno sorriso ao ouvir ele me chamar assim. Era raro ver Murilo demonstrar tanto carinho em público, e pelo jeito que dona Odete nos olhava, ela também estava surpresa.

— A Safira tem algo muito importante pra te contar, meu filho. — disse dona Odete, me lançando um olhar encorajador.

Murilo imediatamente ficou em alerta. Ele se aproximou de mim, com a preocupação evidente em cada traço de seu rosto.

— Tá tudo bem? Fizeram algo com você? — Ele mal esperou a resposta antes de continuar: — Me diz, que eu vou atrás agora.

— Não, Murilo... Não é isso. — eu balançava a cabeça, tentando acalmar ele. — Podemos ir pro quarto? Preciso conversar com você a sós.

Ele assentiu, pegou minha mão, entrelaçando nossos dedos, e me guiou até o quarto, fechando a porta atrás de nós. Murilo me puxou para perto dele.

— Você tá bem mesmo? — insistiu ele, acariciando meu rosto com o polegar. — Safira, tá me deixando preocupado. Me fala o que aconteceu.

Eu respirei fundo, sentindo meu coração acelerar. Murilo merecia saber, e eu precisava compartilhar esse momento com ele. Mesmo que eu ainda estivesse assustada.

— Murilo... — comecei, a voz trêmula. — Eu... eu tô grávida.

O silêncio que se seguiu parecia se estender por uma eternidade. Eu assistia a cada microexpressão no rosto dele, tentando decifrar seus pensamentos. Primeiro, ele pareceu não acreditar, como se as palavras não tivessem feito sentido. Depois, vi um lampejo de surpresa em seus olhos, seguido por algo mais profundo.

— Grávida? — ele repetiu, como se estivesse tentando absorver a ideia.

Eu assenti, meu coração batendo tão rápido que parecia que ele podia ouvir.

Ele se afastou um passo, e por um momento, o medo de que ele pudesse reagir mal me atingiu. Mas então, seus olhos encontraram os meus novamente, e vi algo mudar neles.

Ele estendeu a mão, tocando minha barriga.

— Eu... eu vou ser pai? — Sua voz estava embargada, carregada de uma emoção que eu nunca tinha visto antes.

— Vai. — murmurei, tentando conter as lágrimas que ameaçavam voltar. — Eu sei que é inesperado, e talvez não fosse o melhor momento, mas...

Ele não me deixou terminar. Murilo me puxou para seus braços, me segurando como se nunca mais fosse me soltar.

Eu senti o calor do corpo dele, e a intensidade daquele abraço me disse tudo que eu precisava saber. Ele estava feliz.

Eu amo vocês. — ele sussurrou contra o meu cabelo.

Eu senti meu coração acelerar. Era surreal pensar que, de repente, nossas vidas estavam ligadas por algo tão poderoso quanto uma nova vida.

Quando ele se afastou um pouco, apenas o suficiente para olhar nos meus olhos, havia uma sinceridade profunda em seu olhar.

— Preciso confessar uma coisa... — ele começou, e vi a hesitação em seus olhos. — Eu já tinha pensado nisso, sabe? Em ter um filho com você... — Ele fez uma pausa, desviando o olhar por um instante antes de voltar a me encarar. — Queria que você ficasse comigo pra sempre.

Eu franzi a testa, sem saber como reagir àquela confissão. Não esperava por isso.

— Eu sei, foi uma idiotice... — ele continuou, apertando minhas mãos nas dele. — Achei que talvez, se tivéssemos um filho, você nunca iria me deixar. Mas eu aprendi a lição. Aprendi que não adianta ter um filho se não tiver amor. E, Safira, eu amo você. Amo você pra caralho. E esse bebê... — Ele tocou meu ventre, seus dedos aquecendo minha pele através da roupa. — Esse bebê vai nascer em um lugar cheio de amor. Eu prometo que vou ser o melhor pai que ele poderia ter... e o melhor marido também.

Meu coração deu um salto.

— Marido? — perguntei, surpresa, enquanto o encarava.

Um sorriso brincou nos lábios dele, ele soltou minhas mãos e, sem aviso, se ajoelhou na minha frente. Eu cobri a boca com as mãos, surpresa, enquanto meu coração batia descontrolado.

— Safira... — A voz de Murilo saiu rouca, quase um rosnado, enquanto ele me puxava para mais perto, segurando minhas mãos como se sua vida dependesse disso. Seus olhos, fixos nos meus, brilhavam com uma intensidade que quase me fez desmoronar ali mesmo.

— Eu sou um desgraçado, cheio de falhas e merdas que eu sei que você não merece. Mas caralho, eu te amo mais do que qualquer coisa nesse mundo, mais do que eu achei que fosse possível amar alguém. E eu sei que não sou o cara mais certo, mas uma coisa eu sei: eu quero você comigo, pra sempre.

Ele respirou fundo.

— Então, eu tô aqui, de joelhos, te pedindo... Safira, casa comigo. Porque, porra, eu não sei mais viver sem você. Eu não quero mais viver sem você. Prometo que vou ser o melhor marido que eu puder, o melhor pai, e que se for preciso, vou dar minha vida por vocês dois.

Minhas mãos tremiam enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu não conseguia falar, as palavras simplesmente não saíam, então fiz o que meu coração gritava.

Assenti, chorando, e vi o alívio e a felicidade tomarem conta do rosto de Murilo.

Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]Onde histórias criam vida. Descubra agora