Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]

8

SAFIRA

Depois da tempestade de palavras, do olhar frio e dos gritos que Murilo havia despejado sobre mim, o silêncio da casa me envolveu, mas não trouxe o alívio que eu tanto precisava. 

A mente ainda fervilhava com a intensidade da discussão, e o coração batia descompassado no peito. Sentei no sofá, tentando controlar a respiração enquanto olhava para o nada. Eu sabia que a vida com Murilo nunca seria fácil, mas naquele momento, tudo parecia estar desmoronando. Ele tinha a necessidade de controlar cada passo meu, e a cada dia que passava, parecia que eu estava perdendo o pouco de sanidade que me restava.

Algumas horas depois, ouvi uma batida na porta. Me levantei lentamente, ainda exausta e sem ânimo. Ao abrir a porta, me deparei com o rosto preocupado de Maíra. Ela não precisou dizer nada; o olhar dela já dizia que sabia que algo estava errado.

— O Murilo chegou lá em casa louco. Me falou um monte de coisa e disse que eu devia parar de colocar coisa na tua cabeça, acredita? — disse Maíra, entrando na sala sem esperar convite. — Você tá bem?

— Não tô bem, Maíra. — Admiti, soltando um suspiro pesado. — Eu já não aguento mais essa loucura. Ele acha que eu tô sempre fazendo algo errado, mas eu não tô! A única coisa que eu quero é tentar ter uma vida normal, longe dessas amarras que ele tenta colocar em mim o tempo todo.

Maíra me olhou com preocupação. Ela sabia o quanto eu estava sofrendo, mas também sabia que lidar com Murilo era como caminhar sobre cacos de vidro.

— Eu sei que é difícil, amiga. Mas bater de frente com ele... só piora as coisas. Murilo não é alguém que aceita bem ser desafiado. Você conhece ele.

Eu me levantei do sofá, começando a andar pela sala, sentindo a necessidade de me mover, de liberar aquela energia acumulada.

— Você acha que eu não sei? Mas você não tem ideia do quanto tá difícil. A vontade que eu tenho é de sumir, de deixar ele pra lá, com esse monte de mulher que fica atrás dele. — Eu parei por um momento. — Chegou num ponto em que tudo o que eu quero é paz, e se pra isso eu precisar me afastar dele, é o que eu vou fazer. Eu tô exausta. Eu só quero ter uma vida normal.

Maíra me observava atentamente, como se estivesse medindo o peso das minhas palavras. Ela sabia que não era apenas um desabafo. Sabia que eu estava falando sério, que aquela situação estava me levando ao limite.

— Safira... — Maíra começou, sua voz baixa e cheia de preocupação. — Você sabe que Murilo nunca vai deixar você abandonar ele, né? Ele não vai aceitar isso.

Eu me virei para encarar ela.

— E se eu simplesmente sair dizendo que vou pro curso e não voltar? — Levantei uma hipótese. — Eu poderia ir pra um lugar onde ele nunca me encontraria.

Maíra arregalou os olhos, visivelmente chocada com minha proposta.

— Safira, você sabe o que ele vai fazer se descobrir que você sumiu? Ele vai ficar louco! E se ele suspeitar que você tá tentando fugir dele... — Ela deixou a frase no ar, mas eu sabia exatamente o que ela queria dizer.

— Eu sei, Maíra. — Respondi, cruzando os braços. — Mas eu já não tô me importando mais. Eu não posso continuar vivendo assim, com esse medo constante, com essa desconfiança que ele tem de mim o tempo todo. Eu não tô fazendo nada de errado, só quero viver minha vida em paz.

Maíra balançou a cabeça, seus olhos cheios de preocupação.

— Você pode até tentar fugir, Safira, mas ele vai te encontrar. Murilo tem olhos e ouvidos em todo lugar. Ele vai te achar, e você sabe que ele não vai deixar isso barato.