53

2.2K 153 4
                                    

MARRETA

O carro ia até o lugar que o Dante disse que era o cativeiro em alta velocidade. Ao meu lado, Pesadelo e no banco de trás Rafael não falavam uma palavra, mas eu sabia que a cabeça dele estava a mil, igual a minha.

Ninguém precisava falar nada para saber que queríamos a mesma coisa. Vingança. Eu sentia o sangue pulsando na cabeça, a raiva me corroendo por dentro. O celular da Maíra foi rastreado até um galpão velho, abandonado.

Patrick. O desgraçado tinha pego a Maíra e a Safira, e eu sabia que ele ia tentar fazer o pior. Se ele encostasse um dedo nelas... Eu não ia simplesmente matar ele, isso ia ser pouco demais, mas a minha atenção não estava nesse filho da puta, e sim no outro.

Eu faria questão de garantir que o William tivesse uma morte bem lenta e dolorosa, como ele merecia.

O celular vibrou no meu bolso, era o Coringa.

— Fala, Coringa.

— Pegamos o William, chefe! — A voz do Coringa explodiu do outro lado da linha, cheia de euforia e satisfação. Eu consegui ouvir o som abafado de risadas ao fundo. — O filho da puta tava fugindo com uma mala cheia de dinheiro. Tentou correr, mas a gente cercou ele. Tá na nossa mão agora.

— Boa, Coringa! É isso aí, cara! — pensei por um tempo, então tive uma ideia. —  Faz o seguinte. Chama o Negão e manda ele dar uma passadinha no matadouro. Tenho certeza que ele vai adorar o presentinho.

Houve um silêncio curto do outro lado da linha, e então Coringa explodiu numa gargalhada.

— Tá falando sério? O Negão?

Eu fechei a cara.

— Tu acha que eu tô de brincadeira, porra? Tá achando que eu tô com cara de palhaço aqui? — minha paciência no limite. — Minha irmã e minha mulher tão em perigo, e tu acha que eu tô fazendo piada?

Coringa pigarreou do outro lado da linha, a risada dele sumindo na hora. A voz dele ficou séria.

— Vou levar o William pro galpão e chamar o Negão.

— Joga aquele desgraçado numa das celas e deixa ele lá com o Negão. Ele vai saber exatamente o que fazer.

— Pode deixar, chefe. Entendido. — Coringa respondeu, uma risada baixa escapando antes de desligar.

Eu desliguei o telefone e respirei fundo. A visão do William, indefeso, nas mãos do Negão era quase satisfatória. O filho da puta ia sofrer. Negão era o apelido do Márcio, um cara que tinha quase dois metros de altura, forte como um touro e com um gosto tanto por mulheres quanto com homens.

Pesadelo, ao meu lado, gargalhou.

— Porra, o William tá fodido... Literalmente! O Negão vai acabar com aquele traíra.

— É muito menos do que ele merece. — murmurei.

Rafael, no banco de trás, soltou um sorriso nervoso, mas não falou nada. Ele respirou fundo e olhou pela janela. Eu sabia que ele tinha um coração mais mole, não curtia tanto a violência quanto a gente, mas ele estava aqui pelo que importava: proteger as meninas. Foda-se se ele não gostava do que ia acontecer. Aqui, o negócio era olho por olho, dente por dente.

 O carro parou em frente ao galpão abandonado, o motor desligando com um ronco baixo.

Desci do carro sem dizer uma palavra, com Pesadelo e Rafael logo atrás de mim. Atrás de nós, outros carros encostaram, e os homens começaram a descer em silêncio, as armas nas mãos, prontos para o que viesse.

O breu da noite cobria tudo ao nosso redor, mas o silêncio... esse silêncio era quase ensurdecedor. Não tinha ninguém na entrada. Nenhum dos capangas do Patrick estava ali.

Eu olhei ao redor, os olhos atentos em cada canto escuro, mas a porra toda tava vazia.

— Que merda é essa? — Pesadelo perguntou, quebrando o silêncio. — Nenhum soldado? O cara tá pedindo pra morrer.

— Patrick é um idiota. — rosnei, apertando o punho ao redor da arma. — Facilitou tudo pra gente o imbecil.

Rafael deu um passo à frente.

— Tá quieto demais. Isso não tá cheira bem. — murmurou, com a voz baixa.

— Foda-se o cheiro. Vamos entrar e exterminar qualquer filho da puta que aparecer na nossa frente. — falei,.

A gente ia invadir aquele lugar e transformar aquilo em um inferno. O Patrick e qualquer um que tivesse ao lado dele iam cair. Só que antes que eu pudesse dar a ordem pra avançar, o silêncio foi quebrado de um jeito que fez meu coração parar por um segundo.

Um grito.

Safira.

— Não! — A voz dela ecoou pelo galpão, desesperada.

Meu sangue gelou, mas em seguida virou puro fogo. Sem pensar e sem esperar ninguém, corri em direção à porta do galpão. Empurrei a porta com força, arrombando com um chute, e entrei sem pensar duas vezes.

— Todo mundo se espalhando! Quero que matem esses vermes todos! — gritei, os homens se espalhando, armas em punho.

Um estampido de balas rasgou o ar, o cheiro de pólvora logo preenchendo o ambiente. Os gritos vieram em seguida. Safira gritou de novo, e dessa vez eu ouvi o choro da minha irmã.

Elas estavam perto.

Eu corri pelo corredor, ouvindo Pesadelo e Rafael abrirem fogo. Os capangas de Patrick surgiram, mas eram burros. Fomos pegando um por um, as balas cortando o ar e derrubando aqueles desgraçados como sacos de lixo.

— Filhos da puta! — rugi, enquanto avançava. Vi um dos homens do Patrick levantar a arma, mas Pesadelo foi mais rápido. Um tiro certeiro no meio da testa e ele caiu sem vida.

Cheguei à porta de onde os gritos vinham e, sem pensar, chutei ela com toda a força. O que eu vi me deixou cego de raiva.

Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]Onde histórias criam vida. Descubra agora