MARRETA
O carro ia até o lugar que o Dante disse que era o cativeiro em alta velocidade. Ao meu lado, Pesadelo e no banco de trás Rafael não falavam uma palavra, mas eu sabia que a cabeça dele estava a mil, igual a minha.
Ninguém precisava falar nada para saber que queríamos a mesma coisa. Vingança. Eu sentia o sangue pulsando na cabeça, a raiva me corroendo por dentro. O celular da Maíra foi rastreado até um galpão velho, abandonado.
Patrick. O desgraçado tinha pego a Maíra e a Safira, e eu sabia que ele ia tentar fazer o pior. Se ele encostasse um dedo nelas... Eu não ia simplesmente matar ele, isso ia ser pouco demais, mas a minha atenção não estava nesse filho da puta, e sim no outro.
Eu faria questão de garantir que o William tivesse uma morte bem lenta e dolorosa, como ele merecia.
O celular vibrou no meu bolso, era o Coringa.
— Fala, Coringa.
— Pegamos o William, chefe! — A voz do Coringa explodiu do outro lado da linha, cheia de euforia e satisfação. Eu consegui ouvir o som abafado de risadas ao fundo. — O filho da puta tava fugindo com uma mala cheia de dinheiro. Tentou correr, mas a gente cercou ele. Tá na nossa mão agora.
— Boa, Coringa! É isso aí, cara! — pensei por um tempo, então tive uma ideia. — Faz o seguinte. Chama o Negão e manda ele dar uma passadinha no matadouro. Tenho certeza que ele vai adorar o presentinho.
Houve um silêncio curto do outro lado da linha, e então Coringa explodiu numa gargalhada.
— Tá falando sério? O Negão?
Eu fechei a cara.
— Tu acha que eu tô de brincadeira, porra? Tá achando que eu tô com cara de palhaço aqui? — minha paciência no limite. — Minha irmã e minha mulher tão em perigo, e tu acha que eu tô fazendo piada?
Coringa pigarreou do outro lado da linha, a risada dele sumindo na hora. A voz dele ficou séria.
— Vou levar o William pro galpão e chamar o Negão.
— Joga aquele desgraçado numa das celas e deixa ele lá com o Negão. Ele vai saber exatamente o que fazer.
— Pode deixar, chefe. Entendido. — Coringa respondeu, uma risada baixa escapando antes de desligar.
Eu desliguei o telefone e respirei fundo. A visão do William, indefeso, nas mãos do Negão era quase satisfatória. O filho da puta ia sofrer. Negão era o apelido do Márcio, um cara que tinha quase dois metros de altura, forte como um touro e com um gosto tanto por mulheres quanto com homens.
Pesadelo, ao meu lado, gargalhou.
— Porra, o William tá fodido... Literalmente! O Negão vai acabar com aquele traíra.
— É muito menos do que ele merece. — murmurei.
Rafael, no banco de trás, soltou um sorriso nervoso, mas não falou nada. Ele respirou fundo e olhou pela janela. Eu sabia que ele tinha um coração mais mole, não curtia tanto a violência quanto a gente, mas ele estava aqui pelo que importava: proteger as meninas. Foda-se se ele não gostava do que ia acontecer. Aqui, o negócio era olho por olho, dente por dente.
O carro parou em frente ao galpão abandonado, o motor desligando com um ronco baixo.
Desci do carro sem dizer uma palavra, com Pesadelo e Rafael logo atrás de mim. Atrás de nós, outros carros encostaram, e os homens começaram a descer em silêncio, as armas nas mãos, prontos para o que viesse.
O breu da noite cobria tudo ao nosso redor, mas o silêncio... esse silêncio era quase ensurdecedor. Não tinha ninguém na entrada. Nenhum dos capangas do Patrick estava ali.
Eu olhei ao redor, os olhos atentos em cada canto escuro, mas a porra toda tava vazia.
— Que merda é essa? — Pesadelo perguntou, quebrando o silêncio. — Nenhum soldado? O cara tá pedindo pra morrer.
— Patrick é um idiota. — rosnei, apertando o punho ao redor da arma. — Facilitou tudo pra gente o imbecil.
Rafael deu um passo à frente.
— Tá quieto demais. Isso não tá cheira bem. — murmurou, com a voz baixa.
— Foda-se o cheiro. Vamos entrar e exterminar qualquer filho da puta que aparecer na nossa frente. — falei,.
A gente ia invadir aquele lugar e transformar aquilo em um inferno. O Patrick e qualquer um que tivesse ao lado dele iam cair. Só que antes que eu pudesse dar a ordem pra avançar, o silêncio foi quebrado de um jeito que fez meu coração parar por um segundo.
Um grito.
Safira.
— Não! — A voz dela ecoou pelo galpão, desesperada.
Meu sangue gelou, mas em seguida virou puro fogo. Sem pensar e sem esperar ninguém, corri em direção à porta do galpão. Empurrei a porta com força, arrombando com um chute, e entrei sem pensar duas vezes.
— Todo mundo se espalhando! Quero que matem esses vermes todos! — gritei, os homens se espalhando, armas em punho.
Um estampido de balas rasgou o ar, o cheiro de pólvora logo preenchendo o ambiente. Os gritos vieram em seguida. Safira gritou de novo, e dessa vez eu ouvi o choro da minha irmã.
Elas estavam perto.
Eu corri pelo corredor, ouvindo Pesadelo e Rafael abrirem fogo. Os capangas de Patrick surgiram, mas eram burros. Fomos pegando um por um, as balas cortando o ar e derrubando aqueles desgraçados como sacos de lixo.
— Filhos da puta! — rugi, enquanto avançava. Vi um dos homens do Patrick levantar a arma, mas Pesadelo foi mais rápido. Um tiro certeiro no meio da testa e ele caiu sem vida.
Cheguei à porta de onde os gritos vinham e, sem pensar, chutei ela com toda a força. O que eu vi me deixou cego de raiva.
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Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]
RomanceSafira cresceu na favela e nunca teve uma vida fácil. Ela fazia de tudo para ignorar aquela parte tão violenta do que era morar ali. Com a morte recente dos pais, Safira se vê sem rumo na vida. Do outro lado, Murilo, também conhecido com Marreta, er...