18

4.6K 274 27
                                    

MARRETA

Eu estava na salinha, concentrado nos papéis, quando a porta se abriu com tudo, batendo na parede. Estefane entrou, e a primeira coisa que notei foi o rosto dela todo roxo, e o cabelo, ou o que restava dele, cortado de qualquer jeito, torto.

Ela estava ridícula.

– Como você teve coragem de mandar fazerem isso comigo, Marreta? – Ela falou com a voz embargada.

Levantei da cadeira devagar, mantendo meu olhar fixo nela. Não tava afim de escândalo, muito menos de ouvir as reclamações dela.

– Ei, ei, ei, quem você pensa que é pra entrar aqui desse jeito, hein? – Minha voz saiu baixa. Ela hesitou, percebendo que tinha exagerado, mas a raiva ainda brilhava nos olhos dela.

Estefane tentou disfarçar a tensão, levantando o queixo com uma falsa coragem.

– Eu posso ser melhor que a Safira, bastava você me dar uma chance, mas ao invés disso você faz isso comigo?

Deixei um riso amargo escapar enquanto me aproximava, dando passos lentos. Quando cheguei perto o suficiente, coloquei um dedo nos lábios dela.

– Cala essa boca. – Murmurei, frio. – Você só pode tá doida se acha que eu teria alguma coisa com você de novo. O que a gente teve, que aliás, já faz um bom tempo, nunca significou nada, caso não lembre.

Ela engoliu em seco.

– Nada? Desde que você começou a namorar a Safira, você mudou comigo... e com as outras também. – Ela deu um passo à frente, mais atrevida, e tentou passar a mão no meu peito, os dedos dela deslizando pela minha camisa.

Estefane se aproximou mais, deixando a voz cair para um sussurro carregado de malícia.

– Eu lembro das noites que a gente passava juntos... – Ela começou, mordendo o lábio inferior, os olhos brilhando com lembranças perversas. – Você me prendendo na cama, as minhas mãos amarradas, e eu implorando por mais enquanto você me usava do jeito que queria. Aí você chamava aqueles seus amigos, lembra? Eles vinham e me seguravam enquanto você me dividia com eles. – Ela passou a língua pelos lábios, como se saboreasse cada palavra.

Não falei nada, e ela continuou:

– Eu adorava quando você me colocava de joelhos na frente deles e me obrigava a chupar todos, um de cada vez, até eu não aguentar mais. E você ficava ali, assistindo, se divertindo, enquanto eu era fodida e depois me fodia também. E eu sei que você gostava, Marreta. – Ela deu um passo à frente, quase colando o corpo no meu, o rosto dela tão próximo que eu podia sentir sua respiração quente. – A gente podia fazer isso de novo, você sabe... eu ainda faço qualquer coisa que você quiser. A Safira nunca vai fazer isso.

Ela estava me testando, jogando sujo, tentando me levar de volta para aquele lugar onde tudo era permitido e nada tinha limites.

Fiquei tenso, as memórias invadindo minha mente por um segundo – as noites em que eu e outros caras aproveitávamos dela, do jeito que ela pedia.

Me aproximei mais de Estefane, nossos corpos quase se tocando, meu rosto a centímetros do dela.

– Safira nunca seria capaz de te dar isso, né? – Ela provocou, tentando usar aquilo como vantagem.

Sorri para ela.

– Você não aprende mesmo, né, vadia? Eu nunca dividiria a Safira com ninguém. – Falei, minha voz firme, o tom grave. – Porque ela é minha e só minha. – Deixei claro que Safira não era como Estefane.

Vi o sorriso dela vacilar, a confiança se esvaindo. Ela tentava disfarçar o desconforto, mas não dava pra esconder a expressão de derrota que começava a tomar conta.

Puta iludida!

– Diferente de você, Estefane, que não passa de uma puta com quem eu transava de vez em quando... A Safira é minha mulher. A diferença dessas duas coisas é que não me interessa quem te come ou deixa de comer, porque simplesmente não é da minha conta. O que a gente tinha era sem compromisso, já com Safira é algo... oficial, sabe? – olhei para ela. – Acho que não, né? 

Ela engoliu o choro, os olhos começando a encher de lágrimas. Mas eu só sentia desprezo.

– Você tá me ofendendo, Marreta. – Ela tentou argumentar, a voz tremendo, mas ainda se esforçando pra manter a pose.

Ri de novo, balançando a cabeça.

– Tá se ofendendo por quê, porra? Você passou pela mão de todos os moleques da favela. Vai dizer que é mentira? – A cada palavra, vi a expressão dela se fechar mais, mas não parei. – Acha que eu vou querer alguma coisa contigo? Era só diversão, Estefane. Só isso. E para de se iludir, porque putaria eu posso encontrar em qualquer lugar, não só com você.

Ela abaixou a cabeça.

Estefane levantou a cabeça de novo, agora com lágrimas escorrendo pelo rosto machucado. A raiva nos olhos dela voltou. Mas eu tava pouco me lixando.

– Por que ela é melhor que eu? Só porque você foi o primeiro a comer ela? – Ela cuspiu as palavras. – Eu posso te dar mais do que Safira jamais vai conseguir. Ela nunca vai te satisfazer como eu faço, nunca vai entender o que você realmente precisa. – A voz dela saiu trêmula, mas ainda tentando parecer segura.

– E o que eu preciso, Estefane? – Perguntei. Ela não respondeu, só mordeu o lábio inferior, me irritando ainda mais. – Você acha que me conhece? Que sabe o que eu quero? – Dei um passo em direção a ela, fazendo ela recuar. – Você não sabe de nada. Safira é diferente de você, e é exatamente por isso que eu nunca trataria ela como te trato. Ela não é pra ser dividida com ninguém.

Estefane pareceu absorver aquelas palavras como se fosse um soco no estômago. Ela abriu a boca pra falar, mas não saiu nada. Talvez agora ela estivesse entendendo que não tinha lugar nenhum ao meu lado.

Ela tentou se recompor, levantando o queixo, mas não conseguiu esconder a humilhação que sentia.

– Um dia você vai perceber que jogou fora alguém que podia te dar tudo. – Ela sussurrou, as palavras cheias de amargura.

Dei uma risada, que soou mais como deboche.

– Se tudo que você tem pra me oferecer é esse "tudo", então eu tô de boa. – Cruzei os braços, olhando pra ela com desdém. – Agora, vaza daqui, Estefane. E da próxima vez, bate antes de entrar... ou melhor, nem entra, caralho.


Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]Onde histórias criam vida. Descubra agora