MARRETA
– Mãe, a senhora precisa falar com a Safira. – insisti mais uma vez para que ela pedisse para Safira ficar lá e não que fosse embora de uma vez.
Talvez isso me desse tempo de tentar convencer ela, como o Rafael tinha sugerido.
Minha mãe parou o que estava fazendo e me olhou, os olhos apertados. Ela sabia que eu não procurava ela para pedir ajuda a não ser que estivesse realmente desesperado. Ainda assim, não parecia muito disposta a me dar essa mão tão fácil assim.
– Você sabe que não adianta só falar, Murilo. – A voz dela era firme, como sempre. – Eu te conheço muito bem. O que você realmente quer?
Respirei fundo.
– Se eu tiver uma chance, vou fazer tudo diferente. – Prometi. Sabia que já tinha dito isso antes, mas dessa vez era pra valer. – Eu sei que errei com ela, mas não quero que a Safira sofra mais por minha causa. Eu quero a minha mulher aqui.
– A sua mulher? Aquela que você quase agrediu por ciúmes, Murilo? – A voz dela saiu dura como nunca antes, cada palavra carregada de decepção. – Você realmente acha que vou ignorar o que fez? Eu sou sua mãe, e claro que me preocupo com você, mas não sou cega! – Ela deu um passo na minha direção, apontando o dedo em riste, como se estivesse me acusando de um crime.
– Você perdeu a cabeça, Murilo! O que te deu o direito de tratar a Safira daquele jeito? – Eu podia ver a dor nos olhos dela, a angústia de uma mãe que não queria acreditar no que o filho se tornou. – Se você acha que vou ficar quieta enquanto você destrói a vida dessa menina por causa dessa sua loucura por ela, tá muito enganado! Entendeu?
Ela cruzou os braços, me olhando com reprovação.
– Você é meu filho, Murilo, mas não vou fechar os olhos pra isso. Se você continuar assim, vai acabar arruinando a vida de todo mundo ao seu redor, inclusive a sua própria. E eu não vou permitir que você faça isso, não com a Safira, não com ninguém!
Ela suspirou, o tom de voz abaixando um pouco, mas ainda firme.
– Se você quer que eu ajude, precisa me provar que merece uma segunda chance. Porque do jeito que tá agora, eu só vejo você empurrando ela ainda mais pra longe, e a culpa é toda sua.
Um suspiro escapou de mim.
Eu tinha ferrado com tudo.
– Eu sei, mãe... sei que errei... – Murmurei, admitindo. – Mas juro que, se a senhora convencer ela a ficar aqui mais um tempo, vou provar que posso ser diferente. Faz isso pelo seu filho, vai.
Ela balançou a cabeça, ainda cheia de dúvidas.
– Vou pensar no que você disse, Murilo. – Ela respondeu depois de um longo silêncio. – Mas não vou prometer nada e no menor sinal de que você tratou ela mal de novo, eu mesma dou um jeito de mandar Safira pra um lugar onde você nunca encontre ela.
Eu sabia que esse era o máximo que ia conseguir por enquanto, então resolvi não insistir. Mas ainda tinha uma coisa que eu precisava saber, uma pergunta que queimava na minha mente desde o momento em que acordei.
– E onde ela tá agora? – Perguntei, tentando soar casual, mas a ansiedade que eu sentia fez minha voz tremer um pouco, traindo a fachada de calma que eu tentava manter.
Minha mãe levantou a sobrancelha, como se estivesse me analisando, claramente desconfiada das minhas intenções. Ela sabia que quando eu perguntava por Safira, dificilmente era por um motivo inocente.
– No trabalho. – Ela respondeu, mas a resposta veio acompanhada de um olhar penetrante, como se tentasse ler meus pensamentos. Ela então cruzou os braços, um gesto que indicava que não estava disposta a ceder facilmente. – Mas você prometeu que ia dar um tempo pra ela, Murilo. Prometeu que ia respeitar o espaço dela. – A voz dela ficou mais séria, quase como uma advertência. – Deixa a Safira fazer as escolhas dela, sem interferir.
A última frase saiu quase como uma ordem, como se ela estivesse me avisando que qualquer deslize seria o suficiente para que ela se opusesse a mim. O tom dela deixava claro que, apesar de ser minha mãe, ela estava do lado da Safira nessa história.
Insisti mais um pouco, até que finalmente ela me disse onde ela trabalhava.
***
SAFIRA
Quando vi o carro do Murilo parado na frente da casa da dona Marta, senti o peito apertar. Suspirei, já me preparando para o pior.
"Lá vem ele de novo...", pensei.
Pela forma como as coisas terminaram entre nós, eu tinha certeza de que ele estava ali para brigar, para me forçar a voltar para casa, mesmo que eu tivesse deixado claro que dessa vez era definitivo.
Mas então ele desceu do carro, e o que vi me fez congelar por um instante. Murilo vinha em minha direção com um... sorriso que parecia um pouco forçado, mas, ainda assim, era um sorriso.
Aquilo era estranho. Ele nunca foi de tentar disfarçar o que sentia.
Talvez estivesse tentando me enganar, pensei, mantendo o olhar atento para qualquer sinal de que ele poderia explodir a qualquer momento.
A dona Marta, que estava ao meu lado com o Felipe nos braços, olhou para Murilo com curiosidade. Eu podia sentir seus olhos indo de mim para ele, como se tentasse adivinhar o que estava acontecendo entre nós.
– Quem é, Safira? – Ela perguntou, seu tom doce como sempre, mas com uma ponta de preocupação.
– É só... – Comecei a responder, mas Murilo foi mais rápido.
– Sou o namorado dela.
"Namorado... Se ele soubesse o quanto estamos longe disso agora", pensei, cruzando os braços.
– Eu não sabia que Safira namorava. – falou, surpresa. – Mas deve ser um cavalheiro, já que veio buscar ela na porta do serviço.
Murilo, claro, aproveitou a deixa. Ele sempre soube como usar as palavras para tentar me desarmar, e aquele sorrisinho sarcástico que ele me deu, o que me irritou. Eu sabia que ele estava tentando me provocar, mas não ia cair tão fácil dessa vez.
Felipe, no colo de Marta, começou a se agitar, trazendo a atenção de volta para ele.
– Esse aqui é o Felipe. – Apontei para o menino que agora deitava a cabeça no ombro da mãe. – Mas você já deve saber quem é, né?
Vi o desconforto passar pelo rosto de Murilo. Ele coçou a nuca, claramente envergonhado, e balançou a cabeça.
Era pouco pro que ele tinha feito.
Agora ele estava percebendo o quão ridículo isso era tinha sido ao me acusar e achar que Felipe era um amante ou algo do tipo.
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Aprisionada pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #2]
RomanceSafira cresceu na favela e nunca teve uma vida fácil. Ela fazia de tudo para ignorar aquela parte tão violenta do que era morar ali. Com a morte recente dos pais, Safira se vê sem rumo na vida. Do outro lado, Murilo, também conhecido com Marreta, er...