Não conversamos o restante da viagem. Seth parecia ocupado demais com os próprios pensamentos, enquanto eu tentava ignorar o corpo dele atrás do meu, enquanto o cavalo cavalgava pela estrada no meio da floresta. Chegamos a casa de campo quando o sol já estava sumindo no horizonte.
Era um imenso chalé de madeira escura, com dois andares, janelas e varandas longas. Ao redor, o jardim estava florido e repleto de tochas, já sendo acesas. Depois da casa e de uma linha que formava uma cerca de madeira branca, havia um estabulo, onde pude ver um grupo de elfos cuidando de alguns cavalos. E antes do inicio da floresta, um lago de águas claras e calmas refletia o céu e as nuvens.
Seth desceu do cavalo, me fazendo engolir em seco quando segurou minha cintura e me tirou de cima do mesmo. Não olhei pra ele, tentando manter o resto de sanidade que ainda existia em mim. Se é que ainda havia algo sã na minha mente. As vezes, tenho quase certeza que estou louca.
—Vossa alteza. —Olhei para o chalé, vendo a senhora magricela com pele branca como a neve se aproximando. —Estávamos aguardando a chegada de vocês! —Ela parou na nossa frente, fazendo uma reverência a Seth, antes de olhar pra mim e movimentar a cabeça em um cumprimento educado. —Srta. Fontaine, é uma honra recebê-la!
Olhei para Seth, vendo ele curvar os lábios em um sorriso curto, como se estivesse, de alguma forma, pedindo desculpas. Deixei que a senhora me guiasse para dentro da casa, com Seth nos seguindo em silencio. Fui levada para um dos maiores aposentos, onde a cama imensa, que pareciam caber cinco pessoas, estava arrumada com um lençol rosa claro, aguardando alguma princesa de conto de fadas que nunca viria.
Observei o dossel com cortinas brancas, as portas da varanda abertas, que mostravam os jardins já tomados pela noite e pelas luzes das tochas. Fiquei alguns segundos parada no meio daqueles aposentos, onde podia ver as portas que davam para o closet, o cômodo adjacente onde a banheira estava, aguardando por mim, e a lareira acesa e brilhante.
—Não parece real. —Murmurei, sentindo um arrepio de frio vindo da varanda. Caminhei até ela e fechei as portas, indo acender as velas. Olhei para a porta quando ouvi o som de uma batida. Antes de ela se abrir já sabia que era Seth, pronto para tentar mais um dialogo complicado comigo.
—Temos que resolver algumas coisas antes de irmos para o reino amanhã. —Comentou, me observando da porta, enquanto eu estava do outro lado do quarto, na frente da lareira.
—Srta. Fontaine, não é? —Sibilei, vendo ele pressionar os lábios em negação. —E os guardas?
—Que guardas?
—Aqueles lá fora, que foram com você até a torre, me viram atacando você. —Murmurei, gesticulando para a janela. —Eles sabem que não sou Charlote Fontaine.
—Eles sabem o que eu quiser que eles saibam. —Afirmou, fazendo uma risada de descrença se entalar na minha garganta. —Não tem que se preocupar com isso. —Ele apontou para o closet. —Suas coisas estão ali. Vestidos, sapatos, joias... qualquer coisa que a filha de um duque deva ter. —Ele se aproximou, de uma forma muito lenta. Quando percebi, ele já estava bem na minha frente, me obrigando a dar um passo para trás. —Você só precisa agir como uma dama, que eu sei que é, e fingir que está apaixonada por mim, assim como eu vou fingir estar apaixonado por você.
Prendi um pouco a respiração, percebendo o quanto aquilo estava se tornado uma bola de neve muito grande, que estava se preparando para passar por cima de mim e me esmagar.
—Você consegue fazer isso, Evangeline? —Encarei os olhos dele, percebendo a intensidade com que meu nome saiu dos seus lábios. Sem conseguir pensar direito, balancei a cabeça afirmativamente, observando seus lábios se curvarem em um pequeno sorriso de canto, enquanto meu coração batia acelerado. —Muito bem. Vamos começar os seus estudos agora.
[...]
Me sentei do outro lado da mesa, vendo Seth puxar um dos livros, junto com uma pena, o tinteiro e uma folha. Ele arrastou os três pra mim, parecendo avaliar cada reação minha.
—Você estava começando a aprender, certo? —Indagou, com um tom calmo. —Vamos começar assim, escreva as palavras que se lembra.
Olhei pra ele, um pouco envergonhada, Seth aguardou que eu pegasse a pena. De início, quando pensei naquilo imaginei que ele mandaria outra pessoa me ensinar. Mas ali estava ele, sentado na minha frente, na minha segunda noite em liberdade, me ensinando a ler e escrever.
Hesitante, peguei a pena, puxando o tinteiro junto e a folha. Com uma respiração pesada, comecei a escrever as palavras que me lembrava, sentindo os olhos de Seth em mim o tempo todo, avaliando cada reação minha a medida que eu escrevia as palavras. Algumas eu ainda sabia perfeitamente como se escrevia. Mas outras, eu tinha dúvidas de que havia escrito de fato certo.
Quando terminei, encarei a folha, observando minha letra com os lábios pressionados em negação. Eu havia borrado algumas partes e outras era difícil entender o que estava escrito. Eu precisava de prática, na verdade. Muita prática.
—Deixe-me ver. —Seth pediu, estendendo a mão para pegar o papel de mim. Deixei que ele puxasse o mesmo, um pouco constrangida por não saber escrever de fato, como uma princesa deveria saber. —Certo, vamos usar elas pra ensiná-la. Vou te dar algumas frases com essas palavras e outras, que você desconhece, para treinar.
—Tudo bem. —Sussurrei, balançando a cabeça afirmativamente, enquanto apertava meus dedos ao redor da pena. Seria uma longa noite, eu tinha certeza.
Continua...
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O Trono da Rainha
FantasíaEvangeline Hayes tinha uma certeza, mesmo que seus dias sejam na cinzenta torre que a aprisiona, ela é a verdadeira dona do trono que Castiel Ferraz usurpou de seus pais. Crescendo entre as paredes frias de pedra e sem contato com ninguém a mais de...