Abracei meu próprio corpo, enquanto meus olhos obsedavam o médico que estava abaixado na frente de Fitzy, cuidando do corte que havia no braço dele. Uma linha fina que ia do cotovelo até a mão. Ele estava sentado na poltrona perto da varanda, enquanto Seth andava de um lado para o outro, olhando pra ele uma vez ou outro e então pra mim.
Depois que o médico terminou, lhe dando uma poção de cura e enfaixando o ferimento, ele fez uma reverência ao príncipe e se retirou. O elfo ainda deu uma boa olhada em mim, como se quisesse ter certeza que o príncipe havia mesmo se casado com uma humana. Não olhei pra ele para lhe dar qualquer crédito, antes do mesmo sumir pela porta.
—Vá para os seus aposentos e descanse. —Seth murmurou para Fitzy, que ficou de pé e assentiu com a cabeça, antes de me indicar de leve. —Vou cuidar da Eva, pode deixar.
Fitzy se retirou sem olhar pra trás e sem fazer uma reverência. Absorvi os movimentos duros dele até sumir, antes de perceber que Seth havia me chamado pelo nome na frente dele. Apesar de saber que Fitzy sabia sobre mim, ele nunca havia sido tão direto na frente do guarda.
Mas então estávamos sozinhos, nos aposentos dele. Não havia entrado ali ainda. O quarto era idêntico ao meu, apesar de os tons da cortina e das roupas de cama serem mais escuros. Olhei para Seth, vendo que ele estava observando um ponto fixo no chão, esfregando a nuca como se estivesse cansado. Aproveitei e me virei para a porta que dava para os meus aposentos.
—Não, espere... —Seth deu dois passos e parou, como se estivesse com medo de que eu o afastasse agora que ninguém estava olhando. E eu certamente faria isso. Porque apesar do meu corpo responder positivamente a proximidade dele, meu coração ainda odiava cada elfo daquele lugar, incluindo ele.
—O que você quer? —Indaguei, levando a mão a maceta da porta, vendo-o ficar tenso, além de cansado.
—Só... vamos conversar, está bem? Só quero conversar com você. —Ele engoliu muito lentamente, nervoso. —Não achei que quando nós casássemos íamos viver tão afastados assim um do outro.
—Você desejou coisas impossíveis, Seth. Sempre deixei claro o quanto eu odiava tudo isso e só fiz porque era necessário. —Afirmei, sentindo a acidez das palavras na minha língua.
Não me casei porque o desejo. Não me casei porque lá no fundo sou agradecida.
—Tem razão. —Ele riu sem qualquer humor. —Sou um tolo com sonhos improváveis de serem atendidos. Mas isso não significa que eu vá desistir deles.
—O que você quer? —Insisti, sentindo meu coração disparar e o sangue esquentar no meu corpo, assim como todo ar daquele cômodo quando ele se aproximou de mim de novo, ficando a um passo de me tocar.
—De você eu quero muitas coisas, Eva. —Aquela frase saiu em um tom rouco que me fez estremecer. —Por hora, quero que aceite meu convite para um passeio amanhã logo cedo.
—Não. —Retruquei, quase rosnando as palavras.
—Não acha que vão começar a falar de nós quando perceberem o quão afastada você fica de mim? —Indagou, e eu quase soltei uma risada.
—Não me importo.
—Evangeline! —Meu nome saiu em um tom de alerta, como se ele estivesse começando a perder a paciência. O que era ótimo, porque a versão calma e gentil dele era difícil demais de ser absorvida por mim.
—Você disse... —Os olhos dele focaram nos meus. Oceano e céu azul se encontrando ali. —Você disse que não ia me dar nada até que eu confiasse em você. Você disse que se eu quisesse sua confiança, precisaria que eu confiasse em você primeiro. Mas como eu posso confiar se tudo que eu tenho é isso? Esse casamento que eu sequer sei o que significa? —Afirmei, sentindo minha garganta ficar seca quando ele deu aquele passo e parou bem na minha frente. —Você não me deu explicações. Você apenas me tirou daquela prisão e me trouxe para outra.
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O Trono da Rainha
FantasyEvangeline Hayes tinha uma certeza, mesmo que seus dias sejam na cinzenta torre que a aprisiona, ela é a verdadeira dona do trono que Castiel Ferraz usurpou de seus pais. Crescendo entre as paredes frias de pedra e sem contato com ninguém a mais de...