Capítulo 11: Guarda pessoal.

2.2K 325 58
                                    

Seth me levou até onde seriam meus aposentos, enquanto eu observava todos aqueles corredores do castelo, sentindo meu coração acelerar com cada mínima lembrança que aquilo arrancava de mim. Não importava o quanto eu evitasse, minha garganta ardeu e meus olhos se encheram de lágrimas. Me obriguei a engolir cada lágrima, porque a última coisa que eu podia fazer era chorar na frente dele.

—Seus aposentos são aqui. Suas coisas logo serão trazidas. —Seth abriu a porta, revelando o imenso quarto com paredes de cor creme. A cama estava escondida por um dossel com cortinas claras. E havia uma varanda enorme, revelando os jardins do castelo.

—Estes são Sarah e Fitzy. —Seth gesticulou para as duas pessoas que estavam ali, que eu nem havia notado. —Sarah será sua acompanhante e a servirá em qualquer coisa que precisar e desejar. Fitzy será seu guarda pessoal. Seguirá você aonde quer que for e manterá sua segurança.

—Pensei que eu estivesse livre. —Sussurrei, olhando de relance para Seth.

—Você está. Isso é para garantir a sua segurança caso queira sair e ir a cidade ou a outro lugar. Fitzy é um guarda de confiança. Ele protegerá você com a vida se necessário.

Eu olhei para eles e os dois fizeram uma reverência na mesma hora, exibindo ares de seriedade. Analisei ambos, sabendo que passaria muito tempo com os dois. Fitzy era claramente um elfo, porque a primeira coisa que notei foram suas orelhas pontudas atrás dos cabelos curtos e negros, assim como sua pele. Parecia não ter mais de 25 anos, e carregava uma espada na cintura, enquanto usava as roupas com simbôlo do reino.

Sarah tinha pele clara e os cabelos tão vermelhos quando as chamas das tochas a noite. Parecia ter a minha idade, ou muito perto disso. Usava um vestido simples e parecia pronta para servir a qualquer pedido que eu fizesse, já que me olhava de forma ansiosa. Mas o que mais me chamou a atenção é que ela não era uma elfa, como Fitzy. Era tão humana quanto eu.

—Sarah irá prepara-la para o banquete de hoje a noite, quando irei apresenta-la ao meu rei e rainha. —Seth voltou a falar, chamando minha atenção. Ele fez um sinal e os dois se moveram para fora dos aposentos, nos deixando sozinhos quando fecharam a porta. —Pergunte.

—Por que uma humana? Pensei que todos eles haviam sido expulsos do reino depois que os elfos tomaram o trono. —Falei, vendo ele balançar a cabeça, com os olhos fixos nos meus.

—Com o tempo alguns humanos foram autorizados a viver no reino. Eles juraram servir a coroa e em troca ganharam nossa proteção. Foi uma das formas que meu pai achou de tentar conter os humanos que se erguem contra ele. —Seth esclareceu, dando de ombros. —Você já deve imaginar que isso não deu certo.

—Por que não me falou desses humanos antes? —Indaguei, sem deixar de transparecer minha irritação. Seth hesitou, desviando os olhos de mim para o chão.

—Eu ia contar na primeira noite, mas fiquei com receio de que resolvesse fugir para se juntar a eles de alguma forma. —Ele voltou a olhar pra mim e eu me assustei com a sinceridade que via em seus olhos. —Não sei o que está passando na sua cabeça e tenho certeza que não vai dividir comigo. Mas não quero que faça nada imprudente, Evangeline. Estou pedindo, por favor, fique segura. Ninguém sabe onde esses humanos estão no reino. Homens já foram procurar, mas nunca encontraram. Não tente fazer isso.

—Não vou fazer nada. —Afirmei, mordendo o interior da bochecha quando ele me encarou desconfiado. —Mas por que escolheu ela?

—Achei que ficaria mais confortável se fosse uma humana. —Ele parecia ter pensado muito sobre aquilo. —E Fitzy eu já disse, é da minha confiança.

—Tudo bem. —Esfreguei minhas mãos na saia do vestido, ansiosa. —Não me disse que teria um banquete.

—Pensei que você fosse imaginar que sim. —Ele esfregou a nuca, antes de passar as mãos nos cabelos. —Me perdoe por presumir isso. Está tudo bem? Ou prefere que eu cancele e invente alguma desculpa?

Não pensei que ele faria isso de fato, mas ele parecia soar sincero de novo, o que era tão estranho pra mim.

—Pode deixar. —Dei de ombros, não fazia muita diferença se eu encontraria com os pais dele uma hora ou outra. E eu preferia fazer isso logo, porque era por causa deles que eu estava entrando em tudo aquilo.

—Muito bem. Sarah irá cuidar de você agora. Se arrume, descanse... se prepare. —Ele pareceu pela primeira vez preocupado. —E se precisar de algo ou se alguma coisa acontecer, pode me procurar. Você entendeu, Evangeline? Quero que venha me procurar se precisar de algo.

Ele deu um passo na minha direção, fazendo meu coração disparar. Dei outro para trás, sentindo minha pele formigar pela forma intensa que ele me olhava. Consegui balançar a cabeça em concordância, mesmo sabendo que provavelmente não faria aquilo. Não queria depender de Seth para tudo. Não queria dar a ele o ar de vitória precisando dele. Me casar com ele já parece demais.

—Tenho umas coisas pra resolver. Nos vemos mais tarde, está bem? Antes do banquete vamos praticar mais algum pouco com aquelas palavras que você se lembra e as frases que te dei. —Falou, e eu assenti, um pouco mais animada.

Porque aprender a ler era importante pra mim. Era importante pra qualquer um que quisesse ser alguém. E eu queria tomar minhas próprias decisões. Queria lidar sozinha com meus próprios demônios. E mais importante de tudo, queria encontrar meus irmãos e agora que estava livre daria um jeito nisso. Mas não ousadia pedir ajuda a Seth. Não podia imaginar o que o rei faria se tivesse os três filhos do rei que assassinou em suas mãos.

—Srta. Fontaine. —Sarah entrou no quarto e eu pude ver a sombra de Fitzy de guarda lá fora quando ela fechou a porta atrás de si. —Gostaria de alguma coisa? Um banho talvez?

—Um banho seria perfeito. —Falei, sentindo meus lábios tremerem quando ela sorriu pra mim, com uma gentileza de partir o coração. —E eu acho... —Olhei para o espelho na parede, vendo meus cabelos longos demais. —Acho que preciso cortar meus cabelos também.

—Posso corta-los enquanto toma seu banho. —Ela caminhou até a outra porta, que dava para um cômodo adjacente onde havia uma banheira já cheia. —Deixei preparada quando soube que estava chegando.

Olhei pra ela, observando suas feições humanas. Não queria sentir isso, mas Seth tinha acertado, eu estava mais confortável com ela sendo humana como eu. Precisava bloquear essa sensação de agradecimento por ele, porque não podia deixar isso atrapalhar meus planos.

—É uma ótima ideia, Sarah. —Abri um sorriso pra ela. —Enquanto isso, por que não me conta um pouco sobre o seu reino? Vim de muito longe e estou muito curiosa sobre esse lugar e sobre as pessoas daqui.


Continua...

O Trono da Rainha Onde histórias criam vida. Descubra agora