Capítulo 34: Tempestade.

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Quando saímos da linha das árvores, andando pela estrada que seguia a linha da água, podia ver a sombra da ilha onde ficava a floresta fantasma. Meus dedos se firmaram na sela do cavalo, enquanto eu pensava no quão próxima estava dos meus irmãos naquele momento e tão longe ao mesmo.

—Você está bem? —Seth sussurrou no meu ouvido, me fazendo estremecer quando senti sua respiração na minha nuca. Meus lábios se comprimiram e eu balancei a cabeça que sim, desviando os olhos daquela ilha para qualquer outra coisa que fosse.

A viagem se seguiu e nos afastamos dos arredores da floresta fantasma sem qualquer problema. Os guardas voltaram a ficar tranquilos quando entramos na floresta de novo, deixando aquele lugar para trás. Observei o tempo ir passando enquanto gotas de chuva começavam a cair do céu.

Não demorou muito para a tempestade cair sobre nossas cabeças, com raios brilhando no céu.

[...]

Me encolhi, abraçando meu próprio corpo frio e trêmulo. A barraca estava iluminada apenas pelas chamas de duas lamparinas. Do lado de fora a tempestade continuava a cair com força, fazendo barulho quando se chocava contra a lona da barraca. Eu estava ensopada até os ossos, esperando que Seth aparecesse para me ajudar com os botões do vestido. Mas ele estava pelo acampamento, ajudando os outros a montarem suas barracas para fugirem da chuva também.

Comecei a arrancar os grampos dos meus cabelos, sentindo os fios úmidos se enroscarem nos mesmos, fazendo minha cabeça doer quando eu os puxava e os jogava sobre minhas coisas no canto da barraca. Meus lábios se comprimiram quando meus cabelos enfim se soltaram, caindo pesados sobre meus ombros. Os fios que já eram cacheados pareciam mais ainda.

—Droga! —Passei a mão entre eles, sentindo alguns grampos ainda presos ali.

—Deixa que eu faço isso. —Me virei, vendo Seth fechando a entrada da barraca, enquanto os raios continuavam clareando a floresta do lado de fora. Ele também estava molhado, com os cabelos grudados na testa, deixando à mostra aquelas orelhas pontudas de elfo.

Ele se aproximou de mim, tirando cada grampo restante com cuidado. Esfreguei meus braços enquanto ele fazia isso, tremendo dentro do vestido encharcado e que parecia muito mais pesado. Os dedos dele roçaram de leve nos meus ombros enquanto ele mexia nos meus cabelos, deixando um rastro de fogo pela minha pele, me fazendo segurar a respiração.

—Onde está Fitzy? —Indaguei, com minha boca extremante seca quando ele enfim terminou de tirar o restante dos grampo e me permitiu virar e encara-lo.

—Na barraca da frente. Vou pegar algumas roupas e ir pra lá. Só vim ajudá-la com vestido. Você está tremendo de frio. —Ele balançou a cabeça negativamente, parecendo irritado com o fato. —Vire-se, temos que nos livrar dessas roupas molhadas rápido.

Meu coração martelou dentro do peito quando me virei, puxando meus cabelos para frente para que ele pudesse abrir os botões. Minha respiração se acelerou quando senti as mãos dele pela linha da minha coluna, cada vez mais baixo enquanto abria os botões. O frio que eu estava sentindo simplesmente desapareceu quando a cabana ficou quente e meu sangue pareceu ferver.

—Por que se casou comigo? —Indaguei, quase sem fôlego, sentindo as mãos dele pararem no meio do movimento. Meus pelos se arrepiaram quando a respiração dele acariciou minha nuca e a pele exposta das minhas costas, onde o vestido já estava aberto. —Por que você se sentia culpado pelo que havia feito, ou por outra coisa totalmente diferente?

Eu me virei quando ele afastou as mãos de mim, encontrando seus olhos quentes e vivos, parecendo o oceano infinito.

—No início, quando eu fui crescendo e entendi as consequências do que havia feito, comecei a procurá-la porque me sentia culpado. Ainda me sinto. —Ele umedeceu os lábios com a língua, me encarando de uma forma que fazia meu interior se contorcer e incendiar. —Mas depois de um tempo comecei a pensar muito nas vezes que brincávamos juntos. Comecei a pensar em você, especificamente. Não no que eu havia feito ao deixado de fazer. Não no que meus pais tinham feito. Eu pensava em você e em como nosso futuro poderia ter sido se nada daquilo tivesse acontecido. Se nós dois tivéssemos continuado a nós ver e acabássemos crescendo juntos.

Ele tirou o casaco que usava, jogando-o no chão. Então abriu os botões da manga da camisa nos pulsos, sem tirar os olhos de mim, fazendo meu coração doer de tão rápido que batia e minha garganta arder pela minha respiração pesada.

—E sabe qual a conclusão que eu cheguei? —Ele soltou uma risada baixa e fraca, me olhando como se eu estivesse longe demais para ele segurar. —Eu entendi que estava fazendo aquilo porque me sentia culpado, mas também porque eu a queria. Cada dia que passava eu a queria mais. E quando entrei naquela torre e a vi dormindo sobre aqueles panos imundos e sujos... quando olhou pra mim pela primeira vez em anos e eu tive certeza que não fazia ideia de quem eu era, sabia que iria me casar com você, Evangeline. Sabia que faria qualquer coisa pra me casar com você. —Ele se aproximou, ficando na minha frente e me obrigando a erguer o queixo para encarar os olhos dele, repletos de desejo e dor. —Se tivesse escolhido a outra opção que não envolvia se casar comigo, eu a faria mudar de ideia. Eu sabia no fundo do meu coração que se você tivesse me dito não naquela época, eu a faria mudar de ideia. Eu a cortejaria e daria o melhor de mim para que dissesse sim. Então, sim, fiz isso porque me sentia culpado e porque queria reparar o que eu havia te causado. Mas principalmente, fiz isso porque a queria. Ainda quero. Todos os dias. Mais do que antes.

Ele me encarou. Me encarou por tanto tempo que pensei que iria derreter bem ali. Meus lábios pareciam pedras de gelo e as palavras haviam deixado minha boca, enquanto tudo que eu conseguia fazer era olhá-lo de volta, com o meu coração se ruindo dentro do peito.

Mas dessa vez, quando ele deu um passo para trás, para longe de mim, eu agarrei seu braço, fazendo ele soltar uma respiração trêmula e me encarar com uma misturava de hesitação, desejo e ansiedade.


Continua...

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