Capítulo 10: Eu não estava sozinha.

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Quando Seth finalmente se retirou do quarto depois de jantarmos e de deixar uma lista de frases e palavras que eu deveria repetir, pude finalmente respirar aliviada. Ficar no mesmo ambiente que ele por muito tempo fazia meu corpo ficar aceso como uma fogueira. Sentia todos os sentimentos mais vivos do que nunca. Raiva, rancor, tristeza, injustiça e até mesmo, um pingo de agradecimento. Se não fosse por ele, eu ainda estaria morrendo aos poucos naquela torre. Mas não quero que ele perceba o quanto sou grata. Porque minha raiva ainda é maior do que tudo.

Dormi no chão de novo, enrolada nos lençóis, na frente da lareira. Precisaria me acostumar com o colchão macio primeiro. Mas podia fazer isso quando estivesse no castelo e não tivesse outra alternativa. Não tive pesadelos como costumava ter na torre. Foi a noite mais tranquila que eu tive em toda minha vida depois que fiquei presa.

Quando amanheceu, um dos empregados apareceu trazendo o café da manhã e se retirando. De novo, eu tinha apenas uma hora antes de ir encontrar Seth para podermos continuar o caminho. Dessa vez fiz tudo o mais rápido que conseguia. Comida, banho, roupas e logo eu estava do lado de fora observando a carruagem que nos levaria o restante da viagem até o reino. Sem cavalos dessa vez.

—Estudou as frases que eu lhe dei? —Seth indagou, enquanto me dava a mão e me ajudava a subir na carruagem.

Balancei a cabeça em concordância, vendo ele assentir e entrar na carruagem atrás de mim, se sentando na minha frente. O restante da viagem passamos em silêncio, observando o caminho pela janela. As vezes nossos olhares se encontravam, mas nenhum de nós dois parecia querer ser o primeiro a quebrar o silêncio.

Então, no meio da tarde, quando outra chuva começou a cair do céu, eu finalmente avistei o reino que não via a mais de 13 anos. Parecia uma miragem. A sombra do que um dia eu me lembrava. Um sonho de um lugar que um dia eu vivi, quando era feliz e tinha uma família. Agora eu tinha apenas uma proposta de Seth. Mas iria me agarrar a ela com tudo que eu tinha. Era minha última esperança.

Observei a carruagem passar pela cidade que ficava ao redor do castelo, com as casas de pedra que eu me lembrava muito bem. Então passamos pelos muros, depois pela ponte que ficava acima do lago que circulava os territórios do castelo, até enfim a carruagem parar. Meu coração disparou no mesmo instante, porque eu sabia o que aquilo significava.

—Evangeline? —Seth quebrou o silêncio, olhando pra mim com uma expressão que eu não sabia identificar o que era. —Sei que odeia meu pai. Sei que odeia tudo isso. Mas, por favor, confie em mim. Essa é a melhor alternativa pra você. Só quero que confie em mim e me deixei ajudar você.

—Assim como meus pais confiaram nos seus? —Indaguei, sem conseguir me conter, vendo os ombros dele caírem e ele comprimir os lábios. —Vou me comportar, se é com isso que está preocupado.

—Na verdade, não é. —Ele suspirou, se inclinando para descer da carruagem quando as portas foram abertas. —Estou preocupado com a sua segurança. A coisas que precisamos conversar e que você precisa saber.

—Que coisas? —Indaguei, olhando pra ele sem entender. Seth me observou por alguns segundos e então desceu da carruagem, estendendo a mão para me ajudar a descer também.

—Eu disse a você que o reino estava um caos, não disse? —Indagou, assim que coloquei meus pés no chão e fiquei de frente pra ele. Seth se inclinou na minha direção, como se não quisesse que os outros ouvissem o que diria pra mim. —Humanos tem tentando derrubar meu pai desde a morte do seu antigo rei. Nos últimos anos as coisas tem ficado piores e a tensão tem aumentado. Grupos tem se erguido e nos atacado as sombras, incitando uma guerra. —Seth encarou meus olhos, curvando os lábios no que deveria ser um sorriso. —Você quer justiça pelo que aconteceu, eu também quero. Mas além de tudo, quero ajudar meu povo. Tanto os humanos como os elfos. E você, princesa, é a minha salvação pra tudo isso.

Ele sorriu pra mim, antes de se virar e acenar para algumas pessoas que estavam na praça do castelo, olhando pra nós dois. Olhei ao redor, absorvendo aquelas palavras e sentindo elas adentrarem nos meus ossos. Minha espécie estava lutando contra os elfos, mesmo depois de tanto tempo. O que significava que eu não estava sozinha.

—Sorria. —Seth me ofereceu o braço, que eu aceitei na mesma hora, abrindo o maior sorriso que conseguia para aquelas pessoas que nos observavam entrar no castelo. —Lembre-se, agora você é Charlote Fontaine, filha de um duque de Castylha.

—Nos conhecemos quando você fez uma viagem pra lá a algumas semanas. Nos apaixonamos e você me pediu em casamento. —Completei, porque eu me lembrava de cada palavra que ele havia dito.

Seth assentiu, com o sorriso se tornando maior quando começamos a percorrer os corredores do castelo. Não sabia se era um sorriso verdadeiro ou falso, mas ele parecia estar orgulhoso de alguma coisa.

—Quando irei... conhecer os seus pais? —Indaguei, sentindo minha língua ficar pesada com o pensamento.

—Logo. —Afirmou, erguendo a mão e tocando a minha que estava sobre seu braço.

Minha pele se arrepiou, fazendo meu coração disparar dentro do peito. Engoli o nó que se formou na minha garganta, sabendo o quão arriscado aquele jogo era. Mas se eu precisava disso para chegar ao pai dele, para ter a justiça que meus pais merecem, então eu seria a melhor atriz que Seth poderia conhecer. Faria meu papel com a maior boa vontade de todas. Mas não deixaria de lutar em nenhum momento


Continua...

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