Capítulo 44: O que você fez?

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Quando entrei nos meus aposentos a porta que dava para os aposentos de Seth estava aberta e eu podia ver Sarah correndo de um lado para o outro tentando limpar o sangue que havia no chão. Assim que passei e fechei a porta ela me olhou, parecendo assustada com meu estado, ou talvez fosse apenas por descobrir quem eu era de verdade.

Sarah não falou absolutamente nada. Ela ficou me olhando como se nunca tivesse me visto antes. Olhei para a porta que dava para o cômodo adjacente, escutando as vozes abafadas que vinham de lá. Não esperei para ver se teria alguma reação de Sarah, atravessei os aposentos e entrei lá, vendo Seth dentro da banheira vazia, enquanto Fitzy tentava limpar seus cortes nas costas.

—Eva... —Seth gemeu assim que me viu, tentando se manter afastado da borda da banheira para que Fitzy cuidasse de seus machucados. Fechei a porta com força, não querendo que Sarah visse nada disso, e corri até o lado oposto da banheira.

—Como posso ajudar? —Indaguei, me abaixando quando Seth segurou minha mão ensanguentada, me olhando com os olhos pesados.

—Segure-o pra frente. Preciso passar a poção de cura. —Fitzy pediu e assim eu fiz, segurando o corpo de Seth pra frente, deixando o rosto dele encostado no meu ombro.

—Eva...

—Não vamos conversar agora. —O cortei, sentindo a respiração dele rápida demais, enquanto ele grunhia de dor toda vez que Fitzy limpava o sangue que escorria das suas costas.

—O que... o que você fez? —Indagou, apertando as mãos ao redor dos meus braços que o seguravam. —Eva... por favor...

—Shiii! —Meus lábios tocaram sua testa febril e suas mãos apertaram ainda mais meus braços.

Fitzy abriu o frasco com a poção de cura, enquanto Seth afundava o rosto na curva do meu pescoço, tremendo quando Fitzy derramou o líquido em todos os cortes. Seth gritou contra mim, me fazendo aperta-lo com mais força quando ele tentou se mover e se esquivar de Fitzy.

—Pronto. —Sussurrei, acariciando a nuca dele enquanto seu corpo tremia sem parar e ele passava os braços ao redor de mim, como se estivesse desesperado para se agarrar a algo. —Já acabou, Seth. Já acabou.

Fitzy começou a encher a banheira de água, enquanto eu observava todo aquele sangue que se misturava com ela. Antes que ela tivesse cheia por completo, ele a esvaziou para tirar a água suja e fez todo o processo de enche-la de novo. Quando a água morna estava se derramando pelas beiradas, deixei que Seth se afastasse, se deitando com a cabeça na borda da banheira, parecendo cansado e fraco.

—Pode ir, Fitzy. Sarah deve estar precisando de ajuda. —Falei, vendo-o balançar a cabeça que sim, enquanto eu me afastava para limpar o sangue nas minhas mãos em um balde de água que estava ali.

—Eva? —Seth chamou quando a porta se fechou e ficamos sozinhos. Fiquei em silencio, ouvindo a respiração dele até que terminei de limpar minhas mãos e voltei para perto da banheira. —O que fez com ele? O que... Eva? —Afundei as mãos na água, abrindo o cinto da calça dele para tirá-la. —Por que não está falando comigo? —Indagou, com uma agonia na voz que fez meu coração contrair. —Por que não olha pra mim? Eva, por favor...

—Erga o quadril. —Mandei, quase entredentes, puxando a calça quando ele fez o que eu mandei e o deixando nu dentro da banheira. —Quantas?

—O que? —A voz dele parecia um sussurro no meio da noite. Ergui os olhos pra ele, vendo que ele me observava com uma expressão que parecia desespero, como se ele quisesse algo e não pudesse ter.

—Quantas foram? —Os olhos dele se fecharam com força quando ele entendeu a pergunta, soltando uma respiração entrecortada.

—34. —Sussurrou. —Mas eram 50.

Meus dedos apertaram as bordas da banheira com força, quando toda aquela raiva voltou pra dentro de mim com força, me fazendo ficar rígida no lugar. Sabia que não havia feito com Zion nem metade do que ele de fato merecia. Eu teria feito muito mais se pudesse. Eu teria me demorado dias.

—Eva... —Seth se inclinou com dificuldade para perto de mim, com o rosto se aproximando do meu quando suas mãos tocaram as minhas. —O que você fez? —Quando não respondi ele engoliu em seco. —Você... você o matou?

—Não. —Falei com um tom de voz amargo. —Ele está bem vivo.

Mas não inteiro.

—O que você fez? —Insistiu, tocando meu queixo e me fazendo encarar aqueles olhos azuis que pareciam tão profundos naquele momento.

—Ele disse que o rei estava mandando um aviso pra você. —Os dedos dele se firmaram no meu queixo quando ouviu aquilo. —Então eu mandei um aviso pra ele também.

Ele encostou a testa na minha, respirando com dificuldade enquanto seus dedos tocavam meu rosto com cuidado. Eu mantive meus olhos abertos, absorvendo a expressão carregada no rosto dele.

—Por que deixou que ele fizesse aquilo? —Questionei, com minha língua ficando pesada pelas lembranças. —Por que, Seth?

—Porque se não fosse em mim... —Ele suspirou, abrindo os olhos e me encarando com aquela imensidão azul. —Seria em você. E eu não podia permitir que eles a machucassem dessa forma. Não podia permitir que sentisse isso.

—Ele já tinha feito outras vezes, não é? —Ele não negou e nem afirmou, apenas engoliu com dificuldade.

—Quando eu descobri onde você estava e depois quando eu disse que iria buscá-la. —Os olhos dele ficaram sombrios e vazios. —Eu já estou acostumado com isso. Não deveria ter ido até lá, Eva. Não deveria...

Eu o beijei, fazendo com que as palavras dele morressem em seus lábios quando os devorei, apertando o rosto dele contra o meu e senti do seu gosto invadir minha boca. Seth correspondeu na mesma hora, gemendo contra meus lábios quando nossas línguas se encontraram e nossas respirações pesadas preencheram aquele cômodo.

—Eva. —Meu nome parecia apenas um sussurro nos seus lábios que ainda estava junto aos meus. —Ele vai...

Eu o beijei de novo, porque não queria falar sobre o que havia feito. Eu não queria que ele soubesse o que estava prestes a acontecer. E meu coração acelerou quando ele me beijou de volta de novo, parecendo tão desesperado por mim quanto eu estava por ele.

[...]

Coloquei a mão na testa de Seth, percebendo que ele estava quente demais. Fitzy tinha dito que aquilo era normal e que logo ele ficaria bem. Havíamos dado uma sopa a ele depois que saiu da banheira e então o levamos para cama, onde ele dormiu em segundos, como se estivesse cansado demais.

—Ele vai ficar bem. —Fitzy afirmou, apesar da sua voz estar áspera. —O que era aquilo que Sarah lhe entregou?

—Não acha que está sendo curioso demais para um guarda? —Provoquei, o olhando por cima do ombro, vendo ele se encolher de leve.

—Perdoe-me. É que o príncipe não me disse nada e...

—Assim como Seth tem seus segredos, eu tenho os meus. —Afirmei, fazendo-o engolir em seco e balançar a cabeça em concordância, parecendo tenso. —Não se preocupe com aquilo, Fitzy. Mas acho que deveria ficar de olhos abertos daqui pra frente. —Ele ergueu as sobrancelhas e eu abri um sorriso leve. —O general não vai demorar pra se recuperar, tenho certeza.

Ele olhou para Seth e depois para mim. Sarah, para minha sorte, havia sido dispensada por ele antes que eu e Seth saíssemos da banheira. Fitzy demorou longos segundos pra responder aquilo, como se estivesse tentando descobrir o que poderia significar. Mas então assentiu e se retirou dos aposentos.

Encarei o cômodo vazio, além das chamas crepitantes na lareira, antes de subir naquela cama que parecia algodão e me deitar ao lado de Seth. Havia tomado banho e me trocado. Tirado todo aquele sangue de mim. Não estava cansada, mas mesmo assim me deitei ali, com o rosto no peito de Seth, ouvindo seu coração bater. E por incrível que pareça, dormi em segundos sentindo o cheiro dele.



Continua...

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