Capítulo 22: Poção do amor.

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Estávamos andando pela cidade a algum tempo, passando por várias lojas e comprando coisas pelo caminho enquanto Fitzy nos seguia. Na maior parte do tempo eu e Sarah recebíamos olhares atravessados dos elfos nas lojas e na rua. Mas nenhum deles falava nada quando viam Fitzy atrás de nós, com sua expressão séria.

—Vossa alteza deveria ter trazido alguém da realeza. —Sarah murmurou, paracendo nervosa. —Sou só uma empregada.

—Pelo que eu saiba, você é minha acompanhante e deve fazer tudo que eu desejar. Desejo companhia e amizade. Pode fazer isso por mim? —Indaguei, olhando pra ela com o rosto gentil e calmo, apesar do furacão que estava dentro do meu peito. —Sou uma humana que acabou de se casar com um elfo. Preciso de amigas que entendam o que isso significa.

—É claro, alteza. —Ela me observou um pouco surpresa, mas sorriu de volta.

—Então, me diga, de onde você é? Veio de outro reino? —Eu enlacei o braço dela para andarmos juntas, percebendo que ela estava surpresa, mas não desconfortável.

—Não, eu sou daqui. Morava em uma vila humana perto do território bruxo, onde os elfos ainda permitem que os humanos vivam. Meus pais ainda moram lá. Mas eu vim para o reino tentar uma vida melhor. —Explicou, umedecendo os lábios com a língua. —Nossa espécie não tem muito aqui, alteza. Depois que fomos expulsos do reino e obrigados a viver em vilas no meio da floresta, as coisas se tornaram difíceis pra nós.

Ela olhava ao redor, parecendo pensar longe enquanto via os elfos por toda parte, mas quase nenhum humano além de nós duas. Agora seu corpo estava tenso, mas ela se aproximava mais de mim em vez de se afastar.

—Eu entendo, Sarah. —Toquei a mão dela de leve, sorrindo. —Quero ajudar todos vocês. Não quero viver em um reino onde minha própria espécie é excluída.

Ela me encarou por longos segundos, com algo passando pelos olhos.

—Acho que tem um bom coração, alteza. Tome cuidado e o guarde bem. —Ela apertou minha mão de volta, comprimindo os lábios. —Não acho que o rei iria permitir que qualquer coisa fosse feita por nós.

—Você tem razão. —Balancei a cabeça. —Mas ele não será rei para sempre, não é? —Sarah apenas balançou a cabeça que sim, me olhando como se eu fosse uma criatura rara. Sorri com isso, olhando para as lojas até encontrar uma que chamou minha atenção. —Vamos naquela.

Sarah olhou para onde eu a estava levando, fazendo uma careta.

—É de uma bruxa. Não sei se seria... —Ela ficou muda quando soltei uma risada e entrei na loja a carregando junto.

O lugar era pequeno e apertado, cheio de estantes por todo lado que formavam corredores. Haviam livros antigos, ervas em saquinhos ou vidros, além de animais mortos e empalhados por todos os lados. Sarah estremeceu ao meu lado, ficando ainda mais grudada em mim, enquanto eu sentia a presença de Fitzy atrás de nós.

—Eu nunca vi uma bruxa. —Afirmei, porque quando era criança era difícil eu sair do castelo. —Mas sempre tive curiosidade.

Caminhei pelo pequeno corredor, observando os insetos vivos, presos dentro de vidros, que pareciam seguir nossos movimentos. Sarah estremeceu quando o chão rangeu embaixo dos nossos pés, já que parecíamos ser as únicas além de Fitzy ali.

—Vossa alteza, acho melhor irmos embora. —Sarah murmurou, enquanto eu me afastava dela para olhar os milhares de frascos que haviam dentro de uma caixa de madeira quando chegamos na frente do balcão. Peguei um deles, virando o frasco para olhar o nome na lateral.

—Cura. —Murmurei, soltando-o de volta no lugar e pegando outro. —Esquecimento. —Soltei de novo, pegando outro, que tinha um líquido escarlate como sangue. —Amor.

—A poção do amor é um tanto difícil de se fazer. —Soltei a mesma, dando um passo para trás quando a bruxa surgiu de trás de uma cortina atrás do balcão e me assustou. Ela caminhou até a minha frente e pegou a poção do amor. —Essa aqui foi feita a muito tempo. A pessoa que a pediu não voltou para buscá-la. Deixo-a apenas como uma amostra. Cada poção do amor é feita especialmente pra alguém.

—Por quê? —Indaguei, observando-a colocar o frasco de volta na caixa e erguer os olhos até mim. A pele negra parecia iluminada e brilhante pela luz das tochas ali, enquanto os olhos amarelos estavam acesos como chamas.

—Uma gota de sangue da pessoa por quem você deve se apaixonar é usada. —Ela me observou de cima a baixo, parecendo avaliar o vestido roxo que cobria todas as minhas curvas. —Pode ser quebrada por um antídoto ou pelo beijo do amor verdadeiro.

—É claro. —Soltei, balançando a cabeça em negação, enquanto comprimia os lábios.

—Deseja um? —Indagou, e eu balancei a cabeça negativamente. —Pense bem. A pessoa que se apaixonar por você, fará qualquer coisa por você. Absolutamente, qualquer coisa.

Olhei para a bruxa por longos segundos, antes da minha atenção ir para o brilho metálico da lâmina de uma adaga que havia do outro lado do balcão. Caminhei até a mesma, observando os símbolos e desenhos cravados na lâmina, enquanto o cabo era feito de madeira com pedras negras no centro. Quatro de cada lado.

—Cada pedra representa um Deus. —A bruxa se aproximou, parecendo perceber meu encanto pela lâmina. —Morte, vida, destino e magia. É encantada. Se matar alguém com ela, a alma, por mais que deseje ficar como fantasma, irá partir na mesma hora.

—Quanto quer por ela? —Indaguei na mesma hora, levando as mãos até a adaga. Mas ela a puxou antes que eu conseguisse segura-la e me lançou um olhar duro.

—Não está a venda.

—Quanto? —Questionei de novo, sentindo meu coração disparar quando as chamas das tochas oscilaram.

—Eu já disse, não está a venda. —Ela segurou a adaga e cerrou os olhos na minha direção. Fitzy estava do meu lado no mesmo instante, fazendo-a se encolher e abaixar a cabeça. —Não está a venda. Mas qualquer outra coisa na loja está disponível, vossa alteza.

Olhei pra ela com meu peito subindo e descendo, enquanto meus lábios se curvavam em negação.

—Vamos embora. —Afirmei, virando as costas pra sair dali.



Continua...

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