Capítulo 32: Antigo território dos elfos.

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Não consegui dormir absolutamente nada depois que Zion saiu do quarto. Primeiro porque estava com medo dele simplesmente voltar ali e não suportava essa ideia de jeito nenhum. Depois porque minha cabeça estava repassando cada palavra que ele havia dito, sem conseguir parar de pensar em como foi a vida para Seth nesse castelo.

—Vossa alteza? —Sarah tocou no meu ombro, me tirando dos meus pensamentos. Virei o rosto e olhei pra ela, percebendo que ela já havia terminado de fechar os botões do vestido e arrumar meus cabelos, presos com aqueles grampos que cutucavam meu couro cabeludo o dia todo. —A senhora está bem? Parece um pouco pálida essa manhã. Quase não comeu nada.

—O general esteve aqui na noite passada. —Sussurrei, vendo os olhos dela se arregalaram e ela ficar pálida. —Ele não fez nada comigo. Consegui arrancar algumas coisas dele, só... só estou pensando em tudo.

—O que ele revelou? —Indagou, parecendo tão ansiosa para saber. —Algo que possa nos ajudar? Algo para repassar aos outros?

—Não... não. —Engoli em seco, percebendo que ela parecia um pouco decepcionada. —Mas são boas informações. Tenho algumas ideias do que fazer com elas e de como elas podem nos ajudar.

—Fico feliz em ouvir isso. —Ela voltou a sorrir, parando na minha frente. —Sobre o pedido que havia me feito. Andei mexendo em alguns dos seus vestidos.

Sarah pegou aquela adaga sobre a penteadeira, trazendo-a e colocando-a entre o tecido da saia do vestido. A adaga desapareceu e Sarah se afastou, erguendo os olhos pra mim com uma expressão vitoriosa.

—O que você fez? —Indaguei, passando a mão pela saia do vestido, até encontrar a abertura no tecido e enfiar a mão ali. Era como um bolso de um casaco. A adaga estava escondida ali, fora da vista de todos e não era sequer possível notar qualquer diferença no vestido. —Oh, isso é incrível, Sarah.

—Pode andar com ela agora. Não ficará a vista de ninguém, mas também está fácil para você pega-lá. —Ela caminhou até meu closet. —Já arrumei alguns vestidos. Farei isso nos outros.

—Muito obrigada. Ficou perfeito. —Sorri pra ela, sentindo a adaga entre meus dedos, antes de olhar na direção da porta que dava para os aposentos de Seth. —Meu marido já saiu?

—Ah, ele está terminando os preparativos para a viagem, alteza. Aposto que virá se despedir em breve. —Ela me olhou, antes de desaparecer dentro do closet.

[...]

Desci as escadas da entrada do castelo, observando os homens que arrumavam os cavalos para a viagem. Seth estava entre eles, dando ordens e arrumando a sela do cavalo de pelagem negra que ele sempre usava. Ele se virou assim que terminei de descer as escadas, como se sentisse a minha presença.

—Pra onde está indo? —Indaguei, sentindo algo quente dentro do meu peito quando ele olhou pra mim e sorriu de leve.

—Eu ia me despedir antes de partir. Tenho que ir até o antigo território dos elfos verificar como andam as coisas por lá. —Esclareceu, se virando para ajustar as rédeas do cavalo.

—Quanto tempo? —Olhei para todos aqueles cavalos e aqueles guardas que provavelmente iriam com ele. Sabia que o antigo território dos elfos era longe, após o imenso lago onde ficavam as terras fantasmas e entre as montanhas e as águas que cortavam parte do continente.

—Duas ou três semanas. Vamos a cavalo até metade do caminho, até uma antiga torre e então usaremos um espelho de duas faces pra chegar até lá. —Deu de ombros, enquanto eu absorvia aquela informação como se algo tivesse batido com força no meu estômago.

Seth continuou arrumando tudo, enquanto eu o olhava sem sequer piscar. Pela primeira vez desde que ele apareceu naquela torre, eu o olhei de verdade. Não havia percebido que por trás daquela gentileza e dos momentos de frustração e raiva, havia algo fundo e vazio na expressão e no jeito dele. Os ombros rígidos como se estivesse esperando uma batalha. Os lábios em uma linha fina, enquanto os olhos pareciam longe, cansados e apagados.

Ele sempre esteve assim? Será que eu nunca o olhei além de um elfo filho dos culpados por tudo de ruim que me ocorreu? Eu sabia a resposta dessas perguntas. Eu nunca havia o olhado além de quem eu pensava que ele era. Eu nunca havia me permitido isso, nem mesmo quando o desejo falava mais alto. Mas ele estava bem ali. E ele não era quem eu pensava que fosse.

—Me leve com você. —Falei, vendo as mãos dele ficarem imóveis e ele girar o rosto para me encarar, com as sobrancelhas unidas em confusão. —Me leve com você.

—O que? —Ele se virou por completo, parecendo sem reação. —Eu não posso levá-la comigo. São dias e noites de viagem. É perigoso.

—Não me importo. Me leve com você. —Repeti, olhando pra ele com o coração disparado dentro do peito, percebendo que ele sequer piscava enquanto me encarava. —Não quero ficar sozinha nesse lugar por duas semanas. Me leve com você, Seth.

—Mas... —Ele engoliu lentamente, dando um passo para perto de mim e tocando minha mão com a sua. O toque foi hesitante, como se ele esperasse que eu me afastasse. Mas quando não fiz isso, ele segurou de fato minha mão, entrelaçando nossos dedos. —Você não vai estar sozinha. Fitzy e Sarah estarão aqui com você.

Mas você não estará aqui.

Vou pegar aquela adaga e matar o seu pai se me deixar aqui. —Afirmei, mesmo que eu tivesse vontade, mas não fosse verdade. Seth riu, inclinando o rosto para perto do meu e fazendo minha boca ficar seca com o brilho que surgiu nos seus olhos.

—Ah, Eva... —Ele fechou os olhos por alguns segundos, como se percebesse que estava prestes a dizer meu nome. —Quer que eu deixe alguns guardas encarregados de limpar a sujeira pra você?

Você os odeia, não é? Você os odeia mais do que eu mesma os odeio.

Por favor. —A palavra queimou na minha boca e deixou Seth surpreso. —Por favor, me leve com você. Eu quero ir. Você disse que faria qualquer coisa por mim. Estou pedindo algo e você está negando.

Ele me encarou por alguns segundos, com o polegar brincando os meus dedos, enquanto minha respiração se acelerava tanto que meu peito doía.

—O que você acha? —Seth não desviou os olhos de mim, mas percebi que a pergunta era direcionada a Fitzy atrás de mim, no meio dos degraus. Seu irmão.

Acho que ela vai estar mais segura indo com você do que ficando aqui. —Fitzy murmurou, fazendo algo aconchegante e carinhoso tomar conta do meu peito. Eu o adorava. Eu mal o conhecia, mas eu o adorava.

—Peça para Sarah arrumar suas coisas. —Seth abriu um sorriso pequeno, apertando minha mão. —Você irá junto comigo no meu cavalo.

Eu não ousei retrucar aquilo.



Continua...

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