Não demorei a atravessar o castelo até a ala dos guardas, com um Fitzy ofegante e confuso atrás de mim. Meu coração parecia doer de tão rápido que estava batendo, enquanto eu sentia minhas mãos soando de nervosismo e ansiedade.
—Onde fica o quarto do general? —Indaguei, parando no meio do corredor e quase fazendo Fitzy trombar o corpo enorme no meu. Ele me olhou ainda mais confuso, um pouco assombrado agora.
—Vossa alteza, não acho que seja prudente...
—Eu perguntei, onde fica o quarto do general? —Insisti, vendo-o comprimir os lábios em reprovação e tomar a frente para indicar a direção.
Segui ele em silêncio, sabendo que Fitzy entenderia tudo quando chegássemos lá. Passamos por várias portas, ignorando alguns guardas que nos encontravam pelo caminho e nos olhavam com confusão e curiosidade. Em breve todos eles estariam ocupados demais para pensar em uma teoria de porque eu estaria ali naquele momento.
Tanto Fitzy quanto eu paramos no meio do corredor, imóveis quando ouvimos o som da voz de Sarah. Ele me olhou por cima do ombro, com a sombra de algo frio e furioso passando nos olhos antes de disparar na direção que a voz dela vinha. Talvez ele não precisasse de mais para saber o que estava acontecendo ali.
Na frente de duas portas enormes de madeira, haviam dois elfos empunhando suas espadas e se colocando na frente da porta. Eles ficaram rígidos quando viram Fitzy e mais ainda quando perceberam que eu estava com ele.
—Onde está o general? —Questionei, percebendo que eles hesitaram, me olhando como se eu fosse apenas uma humana intrometida. —Eu vou perguntar só mais uma vez! Onde está o general?
Fitzy puxou a espada, fazendo ambos sairem de frente da porta e olharem pra ela, como se confirmassem que ele estava ali. Quando a voz de Sarah veio lá de dentro de novo, assustada e um pouco desesperada, tanto Fitzy como eu irrompemos por ela. O cômodo era um depósito de armas e haviam pilhas de caixas em um canto, onde Zion e Sarah estavam.
O general se afastou dela quando escutou o barulho da porta se abrindo. Estava com o cinto da calça aberto, como se estivesse prestes a tirá-la. Sarah estava encolhida contra as caixas, segurando o vestido contra o corpo como se alguém tivesse tentado arrancá-lo dela. Estava pálida e com o rosto manchado de lágrimas.
—Vossa alteza... —Zion olhou de mim, para Fitzy, para Sarah e para mim de novo, parecendo sem saber o que fazer e como agir. —O que a senhora faz aqui, a essa hora da noite?
—Vim atrás da minha acompanhante. —Afirmei, apertando minhas mãos fechadas. —Pelo visto cheguei no momento certo.
—Nos dois só estávamos... —Ele fechou a calça, soltando uma risadinha que fez meu estômago se revirar. —Conversando.
—Pela cara dela, não estava sendo uma conversa muito agradável. —Sibilei, estendendo a mão para Sarah.
Ela se levantou tão rápido que me pegou de surpresa, já que correu até onde eu estava, agarrando minha mão e ficando ao meu lado. Estava tremendo dos pés a cabeça, ofegante e vermelha em uma mistura de raiva e vergonha.
—Não sei o que quer dizer com isso, vossa alteza. Mas eu e a sua acompanhante já temos uma história juntos. Sabemos nós entender muito bem. —Zion afirmou, enquanto eu sentia Sarah ficar rígida ao meu lado, apertando meus dedos com mais força do que eu achava ser possível.
—Bem, eu acho que você sabe muito bem o que eu quero dizer. —Afirmei, olhando para Zion com as sobrancelhas erguidas. —Quero que fique longe da minha acompanhante e de todos os empregados. Se voltar a tocar em qualquer um deles, vai arrumar problemas, general.
—Você é só a princesa. —Ele retrucou assim que me virei para ir embora dali, puxando Sarah junto comigo. Parei e o olhei por cima do ombro, vendo-o desafio que havia acabado de começar. —E o rei...
—Ele não vai ser rei pra sempre, não é? —Abri um sorriso com o canto dos lábios, percebendo o choque que minhas palavras o causaram. —Acredite, general, o senhor não vai me querer como sua inimiga. Porque se chegar a tocar nela ou em qualquer outro empregado, irei cortar suas mãos fora.
Sarah arquejou ao meu lado, mas eu já havia saído daquela sala puxando ela junto comigo. Os guardas que estavam nas portas haviam desaparecido, como se não quisessem que algo sobrasse pra eles. Fitzy veio atrás de mim, me deixando sentir seus olhos na minha nuca. Ele parecia estar se decidindo que tipo de humana eu era naquele momento.
—Vossa alteza, eu não... —Sarah ficou muda, mordendo o lábio quando eu girei a cabeça e olhei pra ela.
—Vamos conversar nos meus aposentos. —Afirmei, observando ela balançar a cabeça que sim.
Antes que pudéssemos seguir pelo corredor, um barulho alto chamou nossa atenção, antes do chão tremer embaixo de nós e as paredes de pedra do castelo estalarem, deixando uma poeira cair sobre nossas cabeças. Outro barulho veio logo a seguir, mais longe que o último, seguido de outro. Explosões que estavam fazendo o castelo estremecer ao nosso redor.
—Merda! —Fitzy agarrou meu braço, disparando pelo corredor e me obrigando a correr também. —Tenho que levá-la para um lugar seguro!
Sarah estava tentando me acompanhar, já que eu não havia soltado sua mão. As portas dos corredores começaram a se abrir e guardas começaram a surgir de todos os lados, enquanto um sino começava a tocar ao longe, anunciando que estávamos sendo atacados. Fitzy tentava desviar dos guardas enquanto ordens eram berradas por todos os lados e mais explosões aconteciam do lado de fora.
—Pra onde está me levando? —Indaguei, falando alto o bastante para Fitzy ouvir, já que com o barulho das explosões e dos gritos dos guardas era praticamente impossível escutar alguma coisa a não ser o caos completo.
Mas Fitzy não respondeu. Ele segurou a espada com força na sua mão, me obrigando a descer alguns lances de escada. Sarah estava tropeçando junto comigo, já que não conseguíamos correr tão rápido como ele com nossos sapatos.
—Tire-os! —Gritei pra ela, tirando os meus e os chutando pelo caminho. Ela fez o que eu mandei, exibindo uma careta ao correr descalça por aqueles corredores. O chão de pedra pinicava nos meus pés, mas era algo que eu estivesse acostumada desde a infância. Quase não havia sensibilidade pra mim ali. —Firzy, pra onde estamos indo?!
Uma parede explodiu ao nosso lado assim que descemos outro lance de escadas. Nós três fomos para o chão, com o barulho da explosão causando um zumbido nos meus ouvidos e fazendo minha cabeça latejar. Tentei focar meus olhos quando em senti tonta, antes de ouvir os gritos dos guardas por todos os lados.
Fiquei de joelhos, vendo Firzy caído do outro lado, balançando a cabeça enquanto tentava ficar de pé também. Sarah surgiu atrás de mim, me agarrando e me ajudando a levantar. Agarrei a saia do vestido, tropeçando junto com Sarah enquanto ela falava coisas pra mim, que eu simplesmente não conseguia entender por causa do zumbido nos meus ouvidos.
Mas então eu ergui os olhos para a parede que havia desabado ao nosso lado, encontrando os jardins tomados por elfos e humanos que lutavam com espadas, enquanto chamas tomavam conta das partes do castelo que não eram feitas de pedra. Alguém estava com o arco erguido, apontando uma flecha pra mim, com a ponta dela sendo devorada pelo fogo.
O sangue latejou na minha cabeça, enquanto minha respiração se prendia na garganta. O rosto sujo de cinzas estava parcialmente coberto por um pano, deixando apenas os olhos a mostra, que pareciam claros como o céu nublado. Os cabelos escuros e um pouco ondulados iam até o queixo, enquanto o corpo era alto, forte e pertencia a um rapaz.
Ele abaixou o arco quando olhou diretamente pro meu rosto, parecendo ficar assustado com alguma coisa que viu em mim, quando deu um passo para trás. Minha garganta ficou seca quando ele ergueu a mão e abaixou o pano que cobria seu rosto, me deixando vê-lo por completo. E eu percebi, enquanto sentia as mãos de Fitzy envolverem minha cintura e me puxarem para sair dali, que poderiam ter passado 50 anos, mas eu ainda saberia reconhecer meu irmão.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Trono da Rainha
FantasíaEvangeline Hayes tinha uma certeza, mesmo que seus dias sejam na cinzenta torre que a aprisiona, ela é a verdadeira dona do trono que Castiel Ferraz usurpou de seus pais. Crescendo entre as paredes frias de pedra e sem contato com ninguém a mais de...