Capítulo 46: 50 chibatadas.

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Fitzy já estava ali, agarrando aquele corpo e o tirando de cima de mim e jogando na grama. O sangue escorreu pela minha bochecha quando me sentei no chão, com meus olhos se encontrando com os de Zion quando ele tentou ficar de pé e vir pra cima de mim de novo, antes de ser parado por uma fileira de guardas que se colocou entre nós dois, apontando as espadas pra ele.

Foram segundos até Fitzy gritar ordens e Seth aparecer, atravessava a linha de guardas até mim, me erguendo do chão e tocando minha bochecha dolorida. Mas meus olhos estavam em Zion, vendo-o ser segurado pelos guardas, enquanto se debatia feito um animal selvagem. A faca estava na sua boca, com seus dentes cravados nela enquanto ele gritava sem parar.

—Eu estou bem. —Afirmei, quando Seth puxou meu rosto e me obrigou a encara-lo. —Eu estou bem.

—O QUE SIGNIFICA ISSO GENERAL? —Seth se virou, tão furioso na direção dele, enquanto eu sentia minha bochecha arder e o cheiro de sangue no meu nariz.

Mas os guardas estavam arrancando a faca da boca dele, enquanto ele grunhia e se debatia. Os guardas o jogaram no chão quando ele os empurrou, caindo com os braços pra frente. Fitzy deu um passo para trás, enquanto a maioria dos guardas arfava e ficava imóvel quando o general ergueu um dos braços na minha direção.

Seth parecia sequer estar respirando quando encarou as mãos de Zion, onde restava apenas uma parte dela depois do pulso, com os tocos dos dedos ainda em carne viva nas duas mãos. Alguns estavam sangrando devido aos movimentos bruscos dele, mas a maioria era apenas carne e um toco de osso.

A mão de Seth apertou meu braço, enquanto ele ainda olhava aquela cena sem dizer uma palavra. O general estava tentando apontar pra mim, grunhindo enquanto era puxado pelos guardas para ficar de pé de novo e Fitzy se colocava entre eles e Seth e eu. Zion continuou grunhindo, se debatendo e apontando na minha direção, enquanto os guardas tentavam contê-lo.

Seth girou o rosto muito lentamente, me olhando com uma expressão de choque, como se nunca tivesse me visto antes. Olhei pra ele, exibindo a expressão mais inocente de todas, sabendo que tinha um papel a desempenhar naquele momento e não podia deixar a risada presa na minha garganta sair.

—O que diabos está acontecendo aqui? —Eu olhei para o outro lado do jardim, vendo os vários membros da realeza que se aproximavam, junto com o rei e a rainha. Seth me puxou para trás dele na mesma hora, olhando para os dois com uma expressão séria. —Soltem o general agora mesmo!

—Não! —Seth exclamou, chamando a atenção de todos, fazendo o rei o encarar com tanta fúria. —Ele acabou de atacar a princesa. Tentou matá-la com uma faca!

Os elfos atrás do rei e da rainha começaram a cochichar uns com os outros, enquanto o rei exibia uma expressão descrente ao olhar pra mim atrás de Seth, vendo o sangue que escoria do corte na minha bochecha. Ele não era o único a estar olhando, então fiz a expressão mais inocente e apavorada de todas, deixando meus olhos se encherem de lágrimas, enquanto me agarrava ao braço de Seth como se estivesse com medo.

—Ele jamais faria isso! —O rei sibilou, mesmo que soubesse perfeitamente do que o filho seria capaz.

—Mas ele fez! —Seth apontou para os vários guardas que tentavam segura-lo. —Todos eles viram quando ele atacou a princesa com uma faca.

—Deve ser punido imediatamente. —A rainha murmurou, me pegando completamente de surpresa, já que o rei a olhou com mais ódio do que havia olhado para Seth.

Olhem as mãos dele... —Algum elfo sussurrou no meio dos outros, fazendo o rei e a rainha olharem para o general. Zion ainda estava olhando na minha direção, com o rosto vermelho de raiva enquanto tentava empurrar os guardas.

—Quem foi que fez isso? —O rei indagou entredentes, olhando para Zion, antes de se virar e me encarar como se fosse me matar com as próprias mãos quando o general tentou apontar pra mim. —O que você fez?

—Pai! —Seth exclamou, me puxando para frente dele, entre seus braços quando o rei fez menção de vir até mim. —Pare de tentar achar desculpas para as ações do general. Ele tentou matar a minha esposa. Minha futura rainha!

—Se ele tentou matá-la e está nesse estado, alguma explicação deve ter. —O rei sibilou para Seth, que cerrou a mandíbula e ficou rígido e tenso contra mim quando o rei se virou para o general de novo. —Diga quem fez isso com você. Diga agora!

Zion grunhiu, tentando apontar pra mim com aquilo que havia restado na sua mão, antes de abrir a boca. Os murmúrios de horror tomaram conta dos guardas e dos membros da realeza. A rainha soltou um gritinho, antes de seu rosto ganhar uma coloração esverdeada e ela vomitar no chão, fazendo alguns elfos que estavam perto dela pularem para trás. Porque o que deveria ser a língua de Zion, restava apenas um pedaço irregular, pequeno e nojento de carne dentro da sua boca.

Os murmúrios entre os guardas e os elfos se tornaram mais altos enquanto o rei encarava Zion completamente imóvel. Fitzy deu um passo na nossa direção, olhando para Seth como se quisesse ver a reação dele, antes de os dois olharem pra mim. Seth soltou uma respiração pesada, me encarando com um misto de incredulidade e negação.

—Foi você, não foi? —O rei se virou, parecendo pronto para pular em cima de mim. Mas Seth me apertou contra os braços dele, enquanto eu deixava as lágrimas deslizarem pelas minhas bochechas e me encolhia.

—Eu jamais faria algo assim. —Sussurrei, com a voz trêmula e baixa. —Eu não faço ideia de porque ele me atacou. Nos mal nos conhecíamos.

Zion grunhiu na minha direção, com o rosto vermelho e me olhando como se quisesse né matar, com ainda mais ódio. E eu sabia que ele queria. Sabia que ele faria isso se tocasse em mim. Então eu soltei um soluço, chorando mais ainda, enquanto Seth beijava minha testa e me abraçava apertado.

—Pai, o senhor mais do que ninguém conhece as leis. O general precisa ser punido por isso. Ele tentou matar um membro da família real. Minha futura esposa. —Seth afirmou, e eu queria beija-lo naquele momento, bem ali na frente de todos.

—Não irei fazer nada até descobrir quem fez isso com ele! —O rei afirmou, me fazendo morder o lábio com força, ouvindo os murmúrios ao redor, das pessoas se questionando sobre mim, sobre o general e o rei, além de poder sentir a pena de todos ao verem minhas lágrimas e o corte na minha bochecha. —Quero saber quem é o culpado!

—Querido. —A rainha se aproximou, claramente evitando olhar na direção do general. —Pense com clareza. Sabe que nosso filho tem razão. Independe de quem fez isso com o general, ele tentou matar a princesa. As regras são muito claras quanto a isso.

—Não se meta! —Eu o vi sibilar pra ela, fazendo as bochechas da rainha ganharem uma coloração avermelhada.

—O que todos vão pensar com você permitindo que seus homens ataquem os membros da nossa família livremente sem qualquer punição? —A rainha prosseguiu, enquanto eu mantinha meu rosto pressionado ao peito de Seth, ouvindo o som do coração dele disparado, martelando na minha cabeça.

—As regras são muito claras e não vou permitir que isso passe em branco quando é da minha esposa que estamos falando. —Seth afirmou, enquanto o rei mantinha os olhos sobre mim, mas eu permanecia chorando e encolhida. —Podemos investigar quem fez isso com o general. Mas ele será punido pela tentativa de assassinato da princesa.

—Vou decidir o que fazer...

—Sua alteza é quem deve fazer isso. Regras são regras, querido. —A rainha tocou o braço do rei, exibindo um sorrisinho forçado. —Charlote, querida, o que você acha?

Eu estava gostando daquele jogo. Eu estava gostando muito mesmo daquele jogo.

Me afastei de Seth, abrindo um sorriso agradecido a Fitzy quando ele me ofereceu um lenço. Ainda estava com uma expressão surpresa, mas havia um brilho de diversão em seus olhos. Eu respirei fundo, me demorando a limpar as lágrimas do meu rosto, tomando cuidado com o corte na minha bochecha quando olhei para o rei com a expressão mais doce possível.

—50 chibatadas serão o suficiente. —Falei entre as lágrimas, vendo os olhos do rei escurecerem quando ouviu aquilo. E eu deixei meus lábios se curvarem na sombra de um sorriso quando ele entendeu o que eu estava fazendo.



Continua...

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