Capítulo 64: Nunca desistimos de você.

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Seth ficou de pé muito lentamente, enquanto meus olhos devoraram seus movimentos até eu precisar erguer o queixo para conseguir entrar os olhos dele. Ele ainda estava sorrindo, tanto quanto antes.

—Já que o meu querido pai resolveu colocar as garras de fora, eu achei que deveria abandonar o plano inicial e fazer o mais óbvio, avisa-los do que ia acontecer. —Ele deu de ombros. —Uma bruxa me ajudou a mandar as cartas a eles, para que elas fossem entregue nas mãos dos rei o quanto antes. —Afirmou, como se aquilo não fosse nada. —Era o que eu queria desde o início, apoio. Agora nós o temos.

Eu não consegui falar nada, porque por mais que aquele fosse o intuito desde o início, eu ainda estava surpresa. Porque Seth havia ficado para trás para isso, para garantir que eu tivesse o apoio necessário. Ele poderia ter sido pego, morto ou coisa pior. Mas ele não se importou com as consequências. Ele nunca se importou.

—Vamos nos preparar pra batalha. —Seth se aproximou, envolvendo minha cintura e se aproximando para dar um beijo na minha testa. —E vamos vencer, Evangeline, porque você sempre esteve fadada a vitória.

—O que acha que ele vai fazer agora? —Indaguei, umedecendo os lábios com a língua quando minha boca ficou seca só de pensar no que ele poderia preparar para nós.

Mas Seth segurou meu queixo e me encarou com uma determinação e coragem sem igual. Não havia nenhum medo ou hesitação ali, como se tudo que ele tivesse passado o tivessem endurecido. Não sabia o quão profunda era a raiva dele, eu só sabia que ela estava lá, espreitando cada pensamento e cada sentimento dele.

—Eu não sei o que ele vai fazer, mas eu sei o que nós vamos fazer. —Afirmou, com aqueles olhos azuis parecendo prestes a se incendiarem.

[...]

A primeira coisa que tínhamos que fazer é armar um bom plano que nos colocasse dentro do castelo sem muitas complicações ou mortes e principalmente que nos colocasse de frente para o rei. Eu tinha absoluta certeza que ele não entregaria o trono e que só sairia dele morto. Então eu iria matá-lo e pegar de volta o que me pertencia.

Lena estava conversando com Seth e Fitzy, os três debruçados sobre um mapa falando sobre as passagens secretas que haviam no castelo. Castiel havia usado delas quando deu um golpe e usurpou o trono e elas eram nossa grande aposta também, apesar de sabermos que ele iria tomar o dobro do cuidado com elas.

—Você parece tensa. —Klaus chegou ao meu lado, enquanto eu estava parada na entrada da barraca principal observando as pessoas que perambulavam pelo acampamento e quando passavam por mim faziam uma reverência tímida.

—Estamos prestes a entrar em uma batalha pelo trono dos nossos pais, Klaus. Não quero falhar com eles. —Falei, girando o rosto para olhar meu irmão.

Ele me lembrava nosso pai, das poucas lembranças que eu tinha dele. Ele também mantinha os cabelos longos. Muito mais longos do que o de Klaus e costumava prendê-los com uma trança que nossa mãe passava horas fazendo. Ele jamais permitia que alguém tocasse nos cabelos dele além dela.

—Por que deixou seu cabelo crescer? —Indaguei, vendo ele me lançar um olhar frustrado. Eu tinha certeza que ele não tinha essas mesmas lembranças dos nossos pais. Não houve tempo para que ele e Tobias tivessem.

—Porque é uma verdadeira porcaria ter um irmão idêntico a você. As pessoas sempre trocavam nossos nomes em Eridyan e... —Ele hesitou, parecendo não saber como eu iria reagir com o nome do reino onde eles cresceram. —Bom, eu deixei crescer para que parassem de nos confundir.

—Você pode falar pra mim sobre a vida de vocês dois lá, Klaus. Acredite em mim quando eu digo, cada ano naquela torre se tornou menos horrível agora que eu sei que estavam seguros e sendo bem cuidados. —Afirmei, vendo ele engolir lentamente e me olhar com uma mistura de alegria e tristeza.

—Eu e Tobias valorizamos muito o sacrifício que você fez por nós, Eva. Mas ter crescido lá não se compara com absolutamente nenhuma vida que poderíamos ter tido no nosso reino, ao seu lado e ao lado dos nosso país. —Ele segurou minha mão, acariciando meus dedos com o polegar. —Nunca desistimos de você, porque não importava o quão boa nossa vida era lá, a dor de não saber o que havia acontecido transformava aquela vida em uma maldição pra nós dois.

—Não diga isso. —Falei, sentindo meu coração apertar. —O rei e a rainha foram tão gentis...

—Eles foram. —Klaus me cortou. —Mas eles não eram nossos pais, assim como Celeste e Ares não eram nossos irmãos. Somos gratos a eles por tudo e morreríamos para proteger aquele reino se necessário. Mas nosso lar é aqui. Sempre foi aqui onde nossos corações estiveram. Queremos voltar pra casa, Evangeline. Nossa casa de verdade.

Klaus apertou minha mão quando eu soltei uma respiração pesada, me sentindo prestes a transbordar com tudo que ele havia dito. Aqueles últimos dias estavam mexendo mais comigo do que o normal. Eu estava sentindo tudo com muito mais intensidade.

Era uma mistura de coisas. O reencontro com meus irmãos, a morte da duquesa pelas minhas mãos, o amor de Seth por mim e tudo que ele estava disposto a fazer, além dos meus próprios sentimentos por ele, crescendo cada vez mais dentro de mim.

—Olha só, ele passou a noite choramingando sobre como ela havia ficado mais linda ainda depois de dois anos, mas como também estava com raiva pelo que ela havia feito. —Klaus indicou com a cabeça uma das barracas mais ao longe, onde Tobias estava parado, padecendo decidir se deveria entrar ou não. A barraca que Klaus havia colocado Celeste. —Mas parece que o amor finalmente venceu a raiva.

Eu e Klaus observamos em silêncio Tobias esfregar a nuca e olhar para a barraca por vários segundos, antes de finalmente tomar coragem e erguer e lona, sumindo lá dentro.


Continua...

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