Capítulo Cinquenta e Cinco

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                  Sessão de terapia
 
  
                          THOMAS

   Olhos de senhora Simone eram castanhos claros parecidos com avelãs. Seu consultório ficava na quinta avenida em uma prédio de uma clínica compartilhada. Era bem aconchegante, tinha algumas plantas e quadros com  frases de autoajuda nas paredes. Estava sentado em uma poltrona amarela, ela colocou na mesa de centro duas xícaras e um bulé verde e se sentou na poltrona da mesma cor de frente para mim. Os seus cabelos cacheados estavam preso em um turbante estampado.

  — A senhora é casada? — perguntei, no seu pescoço havia um colar com uma aliança de ouro.

  — Viúva.

  — Lamento.

  — Eu também. — me deu um sorriso e disse para que eu me servisse. — É a sua primeira vez em uma terapia?

  Neguei com a cabeça e comentei sobre minhas experiências na infância e adolescência.

— Por que parou o acompanhamento com o doutor Wallter?

— Não era bonito o bastante. — brinquei tentando tirar o desconforto que sentia por está ali. — Foi uma piada.

  — Eu sei que foi. — voltou com a xícara para a mesa. — Costuma a camuflar os seus sentimentos para não ter que falar sobre eles?

  Dei um sorriso desanimado.

  — Às vezes sim.

  — Por que?

  — É mais fácil.

  — O que é mais fácil Thomas?

  — Lidar com a dor. — respondi. — Sabe sempre fui muito espontâneo com os meus sentimentos, não consigo fingir não sentir, ainda mais quando estou sentindo muito. — olhei para ela. — Como agora, por isso vim aqui.

  — O que está te deixando apreensivo?

  — Como o seu marido morreu?
 
  Perguntei de repente.

  — Ele tinha alzheimer. — ela colocou o seu bloco de anotações na mesa.

  — É difícil?

  Vi ela olhar para mim com atenção.

  — É sim.

  — Qual é a pior parte? — sinto meu coração ficar apertado. — Os últimos momentos ou o luto?

  Ela suspirou.

— O luto é suportável, mas o antes, onde vemos quem amamos morrendo aos poucos é a pior parte, porque uma parte nossa morre também.

  Seus olhos murcharam, mas ela permaneceu com uma expressão calma no rosto. Manoella estava na minha cabeça, não era bem ela, na verdade era o câncer que não saia da minha mente.

  — Thomas, quer me dizer algo?

  — Minha ex tem leucemia e decidimos ser amigos. — contei. — Quando terminamos pensei que era por minha causa, pensei que o problema fosse eu. Mas o problema era o câncer.

  — Câncer terminal?

  Concordei com a cabeça dando a entender que sim.

  — Quando terminamos ela disse que tinha outro. Sabe como me sentir? Usado, descartável e nem um pouco amado. Agora que sei a verdade, sabe como me sinto? Egoísta e idiota.

  — Você não é isso Thomas.

  — Mas me sinto assim.
 
  Contei para ela do começo ao fim tudo que estava intalado na minha garganta. Ela escutou atentamente.
  Coloquei a segunda xícara de café na mesa.

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