Capítulo 16

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Sempre julguei que mudanças são eventos complexos, principalmente de lar. Conduto, Rafaella me provou que para toda regra existe uma excessão. Sua mudança foi tranquila e suave. Logo, em menos de dois dias ela já havia organizado tudo perfeitamente.

Claro que Dan e eu ajudamos na mudança.  E o moreno não deixou passar a oportunidade de fazer um drama e dizer que estava "sendo trocado ".  Conduto ele não disfarçou o sorriso sacana, quando Rafaella o lembrou que agora ele estaria livre para reabrir seu cabaré.

Obviamente essa possibilidade fazia o moreno abrir um grande sorriso. Dan, era um famoso pegador. Me pergunto quando alguém vai conseguir fisgar o coraçãozinho de gelo dele ? Essa é sem dúvida uma pergunta sem resposta... Pelo menos até agora.

Rolo na cama com preguiça, ciente que já devia ter levantando. Hoje é domingo e aproveitei para dormir até um pouco mais tarde. Sexta e sábado o restaurante ficou lotado, tivemos que nos desdobrar para dar conta do serviço.

Felizmente tudo correu bem, apesar da proximidade de Jessy nesses últimos dias estar me incomodando profundamente. A ruiva nunca dedicou tanta atenção ao restaurante, nem quando queria mostrar serviço no início da sociedade.

Agora me pergunto porque ela não sai da nossa bota ? Os seus comentários ácidos e sua presença tóxica, tiram a minha paz por completo. Vem sendo um desafio grande de controle emocional, não terminar o serviço mentalmente exausta.

Conduto, para minha sorte Dan sempre está lá, como um bom amigo fiel. Tornando a rotina mais leve, impondo limites e por muitas vezes deixando claro qual é o lugar de Jessy no restaurante.

Suspiro soltando o ar com força, tentando controlar uma frustração de tempos ...

Sei que tenho que dar um jeito dessa situação acabar. Meu melhor amigo e eu, amamos esse restaurante. Ele é um símbolo da nossa amizade e parceria. E eu não posso deixar de me culpar, por tudo que estamos passando.

Afinal, foi eu quem abriu espaço para essa megera entrar nas nossas vidas e no nosso sonho...

Ouço um barulho na cozinha... E só então me lembro de Rafaella. Já faz uma semana que ela está morando aqui. E posso dizer que minha rotina se adaptou muito bem a morena...

Até demais...

Rafaella é extremamente adaptável, não tivemos problemas em alinhar nossas rotinas.  Confesso que isso foi extremamente surpreendente! Pois se tem uma coisas que tenho consciência é que sou cheia de manias, mas ela foi muito compreensível e nossa convivência vem sendo tranquila.

Obviamente que em relação aos meus toques por organização, Rafaella com toda certeza não tem. Mas ela se esforça bastante para me ajudar em tudo e não invadir o meu espaço.

Saber que ela está aqui hoje me trás um ânimo repentino, quase não havia visto a morena nos últimos dias. Ela emendou uma sequência de plantões para treinamento, mal nossos horários bateram nesses dias.  Os desencontros se estenderam por toda semana. Parece estranho admitir que senti sua falta e que o vazio de não conseguir ter tempo com ela, aumentava quando acordava e via que ela já havia ido trabalhar.

Mas se Rafaella não desse um jeito de estar em meus pensamentos, não seria ela. Em todos esses dias, ela criou um hábito curioso de sempre deixar café quentinho, que sim... Ela aprendeu a fazer melhor que o meu! Apenas olhando uma única vez.

Um sorriso surge involuntário ao lembrar desse café... Porque será que pequenos atos podem ter um impacto tão grande ?

Apesar de não vê-la, nós sempre trocamos algumas mensagens durante o dia, mas geralmente sobre questões do lar mesmo.

Me levanto, sentindo o cheiro maravilhoso do café fresco. Abro a porta do meu quarto e saio de frente para o quarto de Rafaella. Estreito a cabeça discretamente, tentando espiar pela fresta da porta aberta. A cama está vazia, estão sei que ela realmente já acordou.

Acabou me distraído e espiando por um tempo maior seu quarto. As parede em azul acinzentado, o painel de fotos que antes estava vazio, mas agora encontra-se abarrotado de mini fotos espalhadas.

Olho para o teto e noto que ela também fez mudanças na iluminação. Trocou a lâmpada comum por uma grande e redonda, que provável controlava a intensidade da iluminação.

A cama nova parecia ser um modelo semelhante ao da minha, pois era bem grande. Coberta por um jogo de cama também em azul.

Balanço a cabeça, tentando não pensar em nada que envolva Rafaela e uma cama grande. Então me obrigo a seguir pelo corredor, indo em direção a cozinha, antes que ela me pegue espionando seu quarto.

Um sorriso bobo surge, quando penso o quão seu quarto reflete bem a sua personalidade

- Bom dia flor do dia! Ela fala assim que me vê.

- Bom dia! Quanta animação, senhorita. Seu bom humor matinal é extremamente peculiar. - Ainda são o que? 8h00 da manhã ?

Ela sorri, balançando a cabeça.

- Já são 9h00, de um domingo lindo!
Uma careta surge espontânea no meu rosto, assim que olho pela  janela da cozinha.

- Está chovendo...

- Exatamente!  Um lindo dia de domingo para dormir! Ela abre um sorriso e me estende uma xícara generosa de café. Imediatamente, tomo um gole generoso, enquanto divago em pensamentos.

- Hum... Delicioso! Amo seu café, sabia ? Ainda não acredito que você aprendeu tão rápido, a fazer melhor que eu!

Rafaella sorri me encarando nos olhos profundamente.

- Meu bem...Tudo que eu faço é gostoso. Ela me lança um sorriso, me fazendo engolir em seco. Ela está flertando comigo ? - Inclusive o café! Completa. Mas minha mente já está longe, pensando nas coisas gostosas que ela sabe fazer...

Meus hormônios estão enlouquecidos... Não é possível!

- Imagino... Respondo fraca, tentando focar no meu café novamente.

- E falando em fazer coisas. Ela se senta ao meu lado tomando um gole generoso de café. - Temos coisas pendentes para fazer.

Meus olhos caem imediatamente sobre ela e toda minha atenção se concentra na morena em minha frente. Não posso evitar a curiosidade em saber "quais pendências temos?" Pois, com toda certeza, estou disposta a resolver.

- O supermercado lembra ? Tínhamos combinado de fazer compras,  realmente já estamos precisando. Ela me passa uma bolachinha de água e sal, que é uma das poucas sobreviventes do fim de mês.

Balanço a cabeça, tentando não rir de mim mesma. O supermercado! Claro, essas são as "coisas" pendentes. Quase pensei outra coisa...

- Vou só tomar esse cafezinho e me trocar,  podemos ir juntas fazer a compra do mês, o que acha ? Ela concorda com a cabeça. -  Mas já aviso! Você vai ter que ter paciência comigo,  amo escolher com calma cada produto.

Rafaella da um gole em seu café, escondendo um sorriso e concordando. E fico me correndo para saber o que passa na cabeça dela.

- E você comigo. Amo comprar besteiras!

Lanço uma careta em sua direção.

- Prometa que não vai pegar miojo e já acho que vamos sobreviver!

Ela levanta a mão em forma de juramento.

- Você tem a minha palavra que não vou tentar trazer nenhum pacotinho para casa... Uma pausa dramática toma conta, antes que ela complete a frase quase que com um choramingo. - Talvez um " Cup Noodles costela". Provoca sorrindo...

- Rafaela! Repreendo.

- Brincadeira. Ela se defende e  solta uma risada gostosa, voltando sua atenção para o café com bolachinhas, Continuamos o café em silêncio, um silêncio confortável. Ora ou outra, posso ver seus olhos me observando discretamente.

Esse domingo promete...

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