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Domingo, 04/01 - 10:28am

Hoje é o dia mais feliz do ano pra mim. Não aguentava mais ficar parada em casa, eu precisava mesmo voltar ao trabalho, não só pra suprir a falta do que fazer, mas também pra não pensar o tempo todo no Borges.

Não vejo ele desde o dia que acordei no hospital, e mesmo com o meu pai falando que o Borges disse à ele que não queria ter mais nenhum tipo de contato comigo, eu não consigo tirar ele da cabeça.

Tudo que eu faço no meu dia me faz lembrar dele. O sorriso, a cara de poucos amigos, a voz dele me chamando de "burguesa" ou "paty", o corpo dele...

Eu não estou disposta a esquecer dele, mas também não iria ficar atrás dele, no pé, mesmo querendo colocar tudo isso em pratos limpos.

Ricardo: Yasmin, eu tô falando com você.- fala chamando a minha atenção.

Mara: Deixa a garota, Ricardo. Ela deve tá pensando no amado trabalho dela.- fala enquanto muda de canal.

Ricardo: Yasmin?

Yá: Eu acho que vou procurar um carro novo, o meu não tem salvação mesmo.- falo a primeira coisa que veio na minha cabeça.

Ricardo: O que seu carro teve? Quero a verdade, Yasmin.

Yá: Já disse, problema no motor, no câmbio e o chaci... acredita que o carro que você comprou da própria BMW tinha o chaci adulterado?- pergunto ao lembrar do que o Pedro me disse uma vez.

Mara: Adulterado?

Ricardo: Impossível! O carro era novo, 0km.

Yá: Vai saber, né. Nessa casa acontece de tudo, não me surpreende em nada essa adulteração.

Ricardo: O que quer dizer com isso, Yasmin?

Yá: Pense o que quiser.

Me levantei do sofá e subi as escadas, entrei no meu quarto, peguei meu notebook e comecei a procurar por carros seminovos à venda.

Eu realmente preciso de um carro, não dá mais pra usar o do meu pai, já que o carro dele tem rastreio em tempo real, o que significa que não posso ir na Rocinha com ele.

Preciso realmente ver o Borges. Como troquei de celular e respectivamente de número também, perdi total contato com ele e a Jú, o único que tenho contato uma vez ou outra é o Luan, que me fala sobre algumas coisas que tá acontecendo por lá.

[...]

Yá: Tá tudo tão lindo.

Vivian: Você merece isso.- fala e olha ao redor.- Tudo do jeito que você planejou, ainda melhor que o outro.

Yá: O valor do outro era mais emocional do que material.

Percebi que o movimento de pessoas que entravam estava maior, gosto de ver que ainda sou prestigiada pelos meus antigos clientes e talvez até novos.

Vivian: Vou ir receber as pessoas e entregar os cartões de visita.- fala e eu assinto.

Ver tudo se realizando de novo enchia meu coração de felicidade, que estaria mais completa se a minha mãe e o Borges estivessem aqui.

Agora entendo exatamente o que a Talita sentia ao ver o Borges longe dela. Era como se parte de mim estivesse em outro lugar, e como se esse não fosse o meu lugar. Meu lugar é ao lado dele, ao lado do Pedro.

Ricardo: Está na hora, filha.- fala me fazendo voltar a realidade.

Yá: Já tô indo.

Ele dá um sorriso fraco, se distanciando de mim, enquanto penso no que falar, porque não consegui pensar em nada que não estivesse relacionado ao Borges. Nada tira ele da minha cabeça. Nada!

Yá: Boa noite à todos. Queria agradecer do fundo do meu coração pela presença de todos vocês aqui, esse é um dia muito importante pra mim.- falo olhando as pessoas, pedindo à Deus pra que o Borges apareça.- Esse studio não deveria existir, mas devido ao meu antigo ter pegado fogo, eu tive que mudar de local. Recomeçar ele do zero. Em especial, agradeço a minha amiga, Ananda, que morreu há menos de 1 mês. Ela que escolheu esse lugar, e sei que se ela estivesse viva, estaria aqui e feliz por eu estar continuando o meu sonho. Você mora em meu coração, Ananda...

Dei uma pausa, olhei novamente ao redor, mas parei assim que percebi que meu pai fez o mesmo movimento que eu, provavelmente procurando o que tanto eu olhava.

Yá: Agradeço ao meu pai, por também ter ajudado a terminar esse novo studio, e também à Vivian. Sempre tão atenciosa, prestativa, também uma amiga. Não sei o que seria de mim sem você.- falo e vejo o sorriso no rosto dela.- Por fim, agradeço a todos vocês, por confiar em mim no processo de deixar seus corpos marcados com suas artes. Somos um museu, e nossas tatuagens, obras de artes.

Assim que terminei de falar, todos aplaudiram, mas nada daquilo me fez mais feliz. Ainda me sentia incompleta.

Vivian: Parabéns, Yá.- fala e eu abraço ela.

Yá: Eu que agradeço, Vivian. Nada disso seria possível sem você, minha parceira de trabalho e amiga.

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Amor VagabundoOnde histórias criam vida. Descubra agora