Capítulo Onze

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Choro é liberado e eu não vou pagar a terapia de ninguém :)
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Obrigada por ler <3
6/6

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"30 de agosto de 2019,

Sinclair,

Não sei como começar isso. Sinceramente, não fazia a mínima ideia se deveria escrever ou não, mas não consigo dormir, consigo pensar em tudo que pode dar errado e em milhares de outras coisas.
Sei que essa missão é suicida e eu não consegui parar de pensar em como você deve se sentir com isso. Eu me sinto péssima, todas as noites desde que fiquei sabendo sobre, tenho pesadelos onde sempre morro. Costumo acordar ensopada de suor e tremendo, mas sei que não posso fazer nada sobre essas sensações, além de tentar esquecê-las.
De qualquer modo, acho que o que quero dizer é que estou preocupada com como você irá reagir quando isso acontecer. Não adianta negar, nós duas sabemos que não vai ter como evitar.
Quero que saiba que não queria que isso tivesse de acontecer, gostaria de poder continuar a te zoar sobre seu jeito desastrado toda vez que jogávamos futebol com o pessoal da agência, gostaria de poder continuar ouvindo você reclamar da dor de cabeça quando extrapola no volume da música, gostaria de poder continuar ouvindo sua risada ecoar e iluminar todos os cômodos. Gostaria de poder continuar ao seu lado, mesmo que por pequenos momentos como esses que dividíamos.
Eu sei que você tem uma gaveta de chocolates na escrivaninha da sua sala, inclusive seus Snickers sempre sumiam porque eu os pegava para comer toda vez que você bobeava ;)
Também sei que você secretamente gosta de rap (aquele dia eu apenas fingi que não percebi a "música errada" que você tinha colocado) e fico feliz que tenha começado a gostar de uma coisa decente por pelo menos uma vez na vida.
Sei que quando você estiver lendo isso, eu já não vou estar mais viva, mas peço pra que, POR FAVOR, não deixe o Tyler e muito menos o Eugene roubarem minha guitarra e meu violão, aqueles idiotas eram doidos para "pegar emprestado", porque é um modelo autografado do Kurt Cobain. Os dois instrumentos são seus, por favor, faça um bom proveito, custaram caro e eu odiaria vê-los sujos ou quebrados em alguma loja por aí.
Sei que você odeia rock, mas por favor não venda. São relíquias e poucas pessoas saberiam apreciá-los do mesmo jeito que eu.
O que estiver em meu apartamento e for seu, pode levar.
Debaixo da escada, no quartinho da bagunça (como você costuma o chamar), tem duas caixas com seu nome, são algumas coisas que separei especialmente para você. Pegue-as se quiser ter alguma lembrança minha.
São algumas de minhas roupas favoritas e alguns acessórios que eu usava até demais. Além disso, algumas peças de roupa são as que você gostava que eu usasse quando saíamos e outras são algumas camisas que você usava de pijama quando dormia em casa. O colar de palheta que você costumava dizer que me fazia ficar igual a uma rock star, também está lá.
Espero que me perdoe por qualquer coisa que eu tenha feito de ruim à você, saiba que não era a intenção e que, por mais idiota e maluco que isso pareça, tudo que eu queria era te amar.
Agora vamos para a parte mais difícil desse pedaço de papel, sugiro que se sente e tenha lenços e um copo d'água ao seu lado.
Enid, eu sempre te amei.
Na verdade, o dia que você levou aquele tombo no treinamento da nossa primeira missão juntas, foi o que me fez perceber o quão apaixonada por você eu estava. Você vai me odiar, mas ver seu rosto angelical sorrir depois daquele tropeço que te mandou de cara na lama, foi o que disse ao meu coração que ali, naquele exato momento, você o tinha conquistado.
Sei que nunca demonstrei sentimento algum além de raiva, sarcasmo e desprezo, mas acredite nestas palavras, eu sempre amei você.
As noites do cinema na minha sala, as jantas e almoços que você fazia no seu apartamento e as vezes que saíamos para curtir e relaxar depois de um dia estressante na agência, eram o que me mantinham sã e centrada. Aqueles momentos faziam eu me dedicar cada vez mais para continuar viva em missões onde eu, definitivamente, iria morrer. Então, obrigada por ter sido o motivo de eu estar viva até agora.
Eu continuo usando a pulseira que você me deu no primeiro ano que trabalhamos juntas, mesmo sendo rosa e repugnante, ela nunca deixou meu pulso. Nem mesmo no banho. Ela me acompanhava para todo lugar onde eu fosse, era meu amuleto de sorte.
Acho que agora não tem mais motivo para enrolar.
Sinclair, me perdoe por nunca ter me confessado, não me leve a mal, mas eu nunca soube se era correspondida ou não. Você sempre tratou todos com muito carinho e intimidade, então fiquei com receio de ter confundido simpatia com interesse, então por garantia, eu me privava de te dizer o que sentia.
Saiba que independente de tudo e todos, eu te amarei até a última batida do meu coração, até meu último fôlego, até minha última gota de sangue. Saiba que se necessário, eu me sacrificaria para te salvar. Se necessário eu sacrificaria o mundo para te ter ao meu lado, porque nada mais importa se você estiver comigo.
Se de algum jeito, eu pudesse enganar a morte e a deixar me esperando na porta, para passar mais meio segundo com você, eu com certeza o faria, até mesmo porque qualquer tempo ao seu lado, por menor que seja, parece uma eternidade em minha cabeça e isso, de algum jeito, me conforta.
Espero te encontrar em outra vida, onde eu possa te ter ao meu lado sem medo ou receio de te perder.

Para todo o sempre sua,
Wednesday Addams."

As lágrimas já haviam inundado todo o rosto de Enid, que agora estava sentada na sala do apartamento de sua companheira.
Já fazia duas semanas desde o ocorrido e, até então, não tinha tido coragem para ler a carta. Na verdade, não tinha notícia alguma sobre seu enterro.
Desde a missão, não havia retornado para o campo de ação, geralmente ela não parava, completava uma missão aqui e no outro dia, estava sendo mandada para outra, mas tudo havia perdido o sentido. Tudo havia perdido a graça. Tudo havia perdido a cor.
Ela abraça o papel e logo depois o guarda, deixando seus olhos observarem cada pedaço da sala que havia visto tantas outras vezes, mas agora, parecia vazia mesmo com todos os móveis, faltava algo. Alguém.

Com passos lentos, ela vai até o pequeno quarto debaixo da escada, se preparando mentalmente para tudo o que estava ali.
Ao tirar as duas caixas, ela as carrega para o quarto, deixando-as na cama.
A primeira, era uma caixa de madeira e tinha uma etiqueta na tampa.
"Para: Nid.
De: Willa."
Ao tirar a tampa, ela vê roupas e mais roupas dobradas e uma pequena caixa por cima. Ao abrir, viu que eram os acessórios que a morena havia mencionado na carta.
Seu colar de palheta, seus anéis, sua pulseira com pingentes de caveira e guitarras. No fundo, ao ver o colar de coração que havia dado à sua companheira, uma pontada aperta seu coração. Sua primeira reação é colocar o colar com a palheta preta brilhante no pescoço, se permitindo chorar mais uma vez.
As blusas eram as que ela mais gostava, ainda tinham o perfume de quem costumava as usar. Ainda tinha a mesma fragrância fraca de amaciante e o forte cheiro do perfume levemente amadeirado que ela usava.
No fundo, havia um caderno de capa preta, parecia antigo.
Depois de olhar a primeira caixa, ela abre a tampa da segunda e não se segura ao ver um ursinho marrom escuro, com uma etiqueta:

"Você me deu um urso polar, queria te dar algo mas nunca soube o quê. Comprei essa semana para você, espero conseguir te entregar antes da missão. É um urso pardo, sei que você gosta deles.
Com amor,
Willa."

Ela abraça o ursinho, enterrando seu nariz nos pelos, sentindo o perfume que estava ali. Ela daria tudo o que tinha para sentir os braços de Wednesday a envolverem novamente em um abraço, ou para simplesmente ouvir sua voz e vê-la uma última vez.
Mais algumas blusas e calças estavam ali e no fundo, alguns livros de uma saga que a morena era apaixonada.

Ela decide então, que já era o suficiente por aquele dia. Nas últimas duas semanas, diariamente ela vinha manter o apartamento limpo na esperança de ouvir que Addams estava viva e só estava em coma.
Ao olhar no canto do quarto, ela vê a guitarra e o violão pendurados, com um autógrafo em prata gravado na madeira dos instrumentos.
Ela então os retira da parede, colocando na cama junto com as caixas.
No criado mudo ao lado, ela vê uma fotografia: o dia em que foram condecoradas como agentes de honra. As duas tinham um sorriso gigante no rosto e, ali, Sinclair se perguntou como nunca havia reparado nesta foto. Ela pega e deposita um beijo no rosto da morena, eternizado por um clique e o coloca dentro de uma das caixas.
Pouco tempo depois, ela estava saindo do apartamento, indo para o seu próprio enquanto Phoebe Bridgers cantava Waiting Room repetidamente.
Ela gritava as palavras do final da música.

"I know it's for the better.
Know it's for the better.
Know it's for the better.
Know it's for the better.
Know it's for the better."

Agentes do Amanhã (wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora