Capítulo 5

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Meus pensamentos ainda se perdem quando me lembro dos olhares trocados com senhor Griffiths na Ala Demetrificada semana passada.

Durante os últimos dias, mal consegui me concentrar no conteúdo que era passado em sala de aula ou no que eu fazia no trabalho. Tentei mergulhar em um romance, mas não prendeu minha atenção, a história não me pareceu tão interessante quanto a vida real e há muito tempo eu não me sentia assim, interessada pela vida fora das páginas de um livro. Esse é o efeito que Griffiths tem sobre mim.

Vou a pé para a biblioteca no intuito de espairecer enquanto caminho, preciso pensar, ficar mais tranquila antes de ver senhor Griffiths novamente.

Depois de quase quarenta minutos andando, chego ao meu destino com os cabelos um pouco bagunçados e as bochechas e nariz vermelhos pelo frio.

Entro no local e vejo Vivi. Percebo que tinha me esquecido completamente dela desde a última semana. Nossos olhares se cruzam e ela abre um sorriso insinuante.

- E então, Delia, por onde andou desde a noite que passou aqui? Não te vi sair da biblioteca... - Me olha com olhos cerrados. - Curiosamente, também não vi o senhor Griffiths deixar o lugar. Tem algo a declarar sobre essa coincidência?

Eu começo a rir. Não havia conversado com ninguém sobre o que tinha acontecido. Vou atrás do balcão e abraço Vivi.

- Ah, Vivi... a vida é bela, não é?

Ela dá uma gargalhada um tanto alta.

- Você quer me ajudar por aqui enquanto me dá algumas explicações, senhorita? - Ela diz imitando levemente o sotaque britânico do sr. Griffiths e me faz dar mais risada.

Começo a empilhar alguns livros e colocar outros em ordem alfabética na prateleira atrás de Vivi.

- Bom, depois que o sr. Griffiths me acompanhou pela biblioteca naquele dia, ele me levou para uma sala que eu nunca tinha entrado e você sabe que é muito difícil me controlar quando se trata de livros. Pois bem, essa sala tem paredes imensas cobertas de livros, é aconchegante, confortável, e tem uma pintura tão encantadora no teto... Eu nunca tinha visto nada igual.

- Nunca entrei nessa sala, mas sei onde é. Senhor Griffiths geralmente a deixa trancada.

- É uma das coisas mais bonitas que já vi e então, obviamente, saí pegando vários livros. Isso até Griffiths me avisar que os livros não podem sair da sala. Fiquei desapontada, mas então ele me ofereceu o lugar. Falou que eu poderia usar sempre que tivesse vontade. Acontece que, segundo ele, a sala tem um significado pessoal. Eu disse que não me sentiria bem de usá-la sozinha. Me sentiria enxerida.

- Como se ser enxerida fosse uma coisa nova para você, não é? - Ela diz com ironia.

- É sério, Vivi, ele é o dono desse lugar.

- Sei... Continue.

- E então ele se ofereceu para me acompanhar enquanto eu lia os livros que quisesse. Eu li tanto e estava tão cansada que acabei adormecendo. Horas depois, quando saímos, não havia mais ninguém aqui, já era muito tarde...

- Aposto que de todos os livros, você escolheu ler um clássico que já leu mil vezes.

Meu olhar me entrega.

- Cordélia, vamos lá, você precisa aprender a viver a vida, a se aventurar, deveria ler alguns livros diferentes às vezes.

- Sabe Vivi, você é uma grande pessoa irritante e... - Me calo quando vejo o sr. Griffiths se aproximar do balcão onde estamos.

- Vivienne te colocou para trabalhar, Cordélia? Está encrencada...

Vivi gargalha.

- Estávamos apenas conversando, senhor Griffiths. - A Loira diz.

Ele assente.

- Cordélia, a sala está aberta e a sua disposição se se sentir à vontade para explorar sozinha, fique à vontade.

- Oh, não, senhor Griffiths, sua presença é essencial para uma boa exploração, ainda mais quando a exploração acaba em roncos... - Vivi diz, brincalhona.

Senhor Griffiths, que está sempre sério, não ri da piada.

- Já que a minha função de despertador é essencial, por favor. - Ele diz e acena para que eu lidere o caminho até a sala - Podemos ir. - Completa.

- Até mais Vivi. - Me despeço.

- E me conte depois, ok? - Vivi fala alto e meu rosto esquenta. Fico tão tensa que quase me esqueço de andar.

Quando olho para sr. Griffiths ele já olhava para mim de soslaio com o lábio repuxado para cima.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora