Capítulo 14 | Serpentine Waterfall

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Hoje foi um dia cansativo e esperar a resposta de senhor Griffiths para a carta que eu o enviei só me deixou mais exausta. Entro no banheiro ansiando por um bom banho quente, mas antes de ligar o chuveiro escuto um barulho na porta do dormitório.
Coloco a cabeça para fora do banheiro e vejo um envelope no chão próximo da porta de entrada. Corro do jeito que estou para o pegar.

"Sabe, você me faz lembrar do passado, Cordélia.

Não o meu passado.

Você soa como alguém de muitos anos atrás.

Você tem segredos?

Não me conte.

Quero descobri-los.

Você me deixaria?

- T."

Se eu fosse um pouco mais crente, diria que fomos duas almas que se amaram anos atrás.

Infelizmente não faço ideia de como responder a carta de senhor Griffiths. Eu nunca fui boa com palavras ditas. Escrevo perfeitamente, mas quando direcionadas para outras pessoas ou para descrever os meus sentimentos, simplesmente é mil vezes mais difícil. E tem mais... Ele me tira todas as palavras.

*

Faz um dia desde que recebi a carta do senhor Griffiths e ainda não tenho ideia do que escrever.

*

Dois dias.

Sinto que estou passando por aqueles bloqueios criativos que os escritores reclamam sobre. Mas é uma forma diferente de bloqueio, porque eu consigo formular frases para responder a carta, no entanto elas sempre estão cheias dos meus sentimentos e me deixam envergonhada.

Eu provavelmente diria tanta coisa que evitaria me olhar no espelho por pelo menos cinco dias.

*

Três dias. Eis o que eu responderia:

"Caro senhor Griffiths, você é muito mais velho do que eu e eu sei pouquíssimo sobre você. Mas sei que o que escreveu em sua carta é como se estivesse me dizendo "eu te amo" na língua no meu coração.

Por favor, não me sinto bem com a situação. Pare.

- Cordélia."

*

O quarto dia chega e me sinto agoniada. Faz quase um dia que eu não durmo. Observo o sol nascer pela janela do meu quarto sentada em minha cama com um livro nas mãos.

O destino precisava me colocar no caminho de alguém como Griffiths, mas com uma diferença gigantesca de vida entre nós?

Ambos sabemos que não vamos a lugar algum. Não nessa realidade, não comigo pobre na faculdade e ele com uma vida feita e rica. Se é que ele pensa em levar a relação adiante... Eu sou nova demais e ele bem resolvido demais.

Ainda não sei como respondê-lo, mas sei que quero vê-lo. Quero vê-lo fora das paredes da biblioteca. Preciso vê-lo.

...

Se eu pensar demais vou desistir, então pego um sobretudo, tranco a porta do meu quarto, desço as escadas de madeira até o hall e encaro o campus da universidade. Uma neblina cobre a parte de cima das árvores, a iluminação é baixa em tons de amarelo e algumas risadas vêm do refeitório e de alguns cantos mais escondidos da praça. Respiro fundo e, com o vento gelado de Londres açoitando meu rosto, caminho para encontrar o senhor Griffiths.

O Tâmisa, por mais agradável que seja de ver e não ser tão longe da minha casa, não seria um bom lugar para nos encontrarmos. Talvez em 1800 quando não era tão poluído por luzes artificiais e eletricidade.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora