Com amor, Cordélia (Daddy!)

Capítulo 27 | Lady Chapel, a igreja de Lilith

Os olhos verde-amarelados de Drevon brilham no escuro noturno das ruas de Londres. Ele está animado demais. Algo me diz que ele espera mais do que Lady Chapel oferece. Um braço dele está em volta dos ombros de Vivienne, mas ele não para de me olhar enquanto caminhamos.

Esse cenário - Drevon me levando para Lady Chapel - me trás uma saudade familiar. Mas é apenas como assistir a um filme. Uma vida gravada que eu assisto através de uma tela chiando confortavelmente. E que não vai mais voltar.

Ainda não sei se eu e Tom temos alguma coisa. Não sei se somos exclusivos, mas eu não pretendo ter mais ninguém, afinal, não adiantaria, não seria a mesma coisa, nada poderia se comparar a ele. Pensar nisso me trás um sentimento irritante de saudade.

Mas hoje não é o dia para tirar conclusões sobre a minha relação com Griffiths.

Caminhando para Lady Chapel com Drevon e Vivi ao meu lado, me sinto na obrigação de não pensar em nada além do que me espera alguns metros a frente e mais alguns abaixo.

Lady Chapel é uma igreja perfeita, linda, com teto abobadado e vitrais vermelhos por todo o seu comprimento. Tão religioso que chega a parecer uma construção feita por um deus.

Há cerca de três séculos atrás, a igreja era o cenário perfeito para casamentos e atividades religiosas, até que depois do que chamam ironicamente de 'O Sacro Sacrifício', ela passou um século e meio sem ser usada. Ninguém pisava no lugar, nem mesmo ousavam pisar na calçada do lado de fora.

Dizem que três andares abaixo da igreja, demônios se reuniam para adorar Lilith. Há rumores de que a própria Lilith influenciou homens a construirem esse templo como se fosse cristão para zombar do deus que a castigou.

Depois que foi construída e as pessoas começaram a frequentar, algo estranho começou a acontecer todas as semanas: exatamente cinco dias após a missa de domingo, um homem que havia frequentado a igreja desaparecia. Ninguém fez relação com o lugar e por isso continuou a ser usado. Eram sempre homens e sempre cinco dias depois da missa.

A histeria e as lendas começaram após o dia 21 de agosto de 1790, quando 13 homens desapareceram de uma só vez. Todos eles haviam participado de uma cerimônia religiosa exclusiva para os homens dentro da igreja. Não era algo comum, mas ninguém achou estranho. Mais tarde surgiram teorias dizendo que Lilith os conduziu até lá para essa tal cerimônia e depois os sacrificou.

No dia 28 de agosto do mesmo ano, depois de muitas buscas, todos os homens foram encontrados três andares abaixo do piso térreo da igreja, embora ninguém soubesse que existia andares subterrâneos. Eles estavam pendurados por correntes no teto e dizem que os corpos não tinham uma gota de sangue. Todos os homens mortos sorriam olhando para o lado esquerdo do templo de Lilith, onde, até hoje, fica uma estátua gigante de uma mulher nua com asas, chifres e uma cobra viçosa e preta enrolada no corpo.

Quando as autoridades britânicas de 1790 descobriram o templo subterrâneo, acharam também os ossos de todas as pessoas que tinham desaparecido durante os anos em que a igreja foi usada, antes do Sacro Sacrifício. Há rumores de que todos os homens sacrificados eram pervertidos. Outras histórias dizem que aqueles homens eram descendentes de Caim, o único homem que Lilith amou e por isso ela os sacrificou: para ter um pedaço de seu amante, Caim, com ela, na dimensão demoníaca em que reina.

A igreja de Lilith voltou a ser usada um século e meio depois, por um grupo de mulheres que cultuavam a deusa. Elas se reuniam nas profundezas do lugar e adoravam a escultura da primeira mulher criada por Deus. Quando o culto feminino se dissipou, pessoas começaram a explorar o lugar, principalmente jovens.