Capítulo 25 | Papai

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Desço as escadas e olho para Drevon que está dormindo em um colchão na sala, espalhado e espaçoso, ou o mais próximo de esparramado que uma pessoa do tamanho dele consegue estar.

Drevon, ao contrário de Griffiths, tem o cabelo raspado rente a cabeça e a pele bronzeada pelo tempo que passou fora de Londres. Antes ele costumava ser mais pálido. Ele está com uma calça branca e sem camisa. Não é esguio como meu Tom. É muito musculoso, grande demais. Daqui consigo ver o volume em suas calças. Sei que não deveria estar prestando atenção nisso, mas me chamou atenção.

- Vai ficar me olhando até quando? Não sou fácil. Você precisa me levar para jantar primeiro. - Drevon diz tudo isso de olhos fechados. Me surpreendo porque realmente acreditei que ele estava dormindo.

Começo a rir alto.

- Ah, por favor. Não é como se eu estivesse te comendo com os olhos. - Digo ficando vermelha e começo a fazer um café.

- Era exatamente o que você estava fazendo. - Ele diz com um olhar... um olhar de quem... Bom, não tenho tempo para pensar nisso.

- Acho que não vou sair daqui, Cordélia, sinto muito.

- Que?! Você quer morar comigo? - Acho que ele está brincando, mas a ideia me deixa um pouco atordoada. O que eu falaria para Tom? O que falaria para Drevon de Tom e de Tom para Drevon? Minha mente dá um nó.

- Isso. - Ele responde - Você faz café e me trás na cama. De graça. Não, não quero sair daqui mesmo.

Ambos rimos e eu me sinto um tanto aliviada. Me sento com ele no colchão e ofereço uma xícara de café. Não tenho televisão, então apenas observamos o nada às sete da manhã.

Estar assim com Drevon me lembra de quando cheguei em Londres há pouco mais de 2 anos. Já tinha me estabelecido na faculdade. Entrei no hall e subi as escadas até chegar na porta do meu dormitório. Achei que seria pequeno, apenas um quarto, mas me surpreendi quando vi uma sala, espaço para cozinha e depois um quarto. Observei o espaço vazio e caminhei para as duas janelas amplas viradas para a rua do lado de fora dos muros da universidade. Respirei fundo, os ácaros e o cheiro de mofo entrando fundo no meu nariz e me senti completamente aliviada. Aquela seria a minha vida, longe de tudo que me prendia e me fazia ser alguém que eu não queria ser. Fechei os olhos e quando os abri novamente já tinha deixado tudo para trás e esquecido todos.

Depois que organizei meu dormitório, criei uma rotina em Londres. Todos os dias eu saia para correr, comprava algumas coisas que eu não tinha, mas descobria que precisava como coador de café ou esponja para lavar louça. Eu precisava me manter ocupada para não encarar o fato de que estava completamente sozinha e que não estava conseguindo me adaptar. Precisava correr e me cansar, precisava fantasiar e me afogar nos livros mais do que nunca para não encarar meu desejo mais intenso que era desistir de tudo, abandonar tudo.

Na noite em que conheci Drevon eu tinha desistido. Estava testando o universo. Queria saber até onde eu iria, para ver até onde ele chegaria para me salvar. Minha vida não era mais uma vida. De alguma forma eu tinha me colocado no lugar mais profundo de escuridão na minha mente. Nada mais me prendia à realidade.

Era uma sexta e eu estava quase começando a chorar pela centésima vez quando resolvi sair e esquecer de tudo.

Fui para um bar horrível onde a maioria das pessoas ia apenas para comprar drogas e bebi até ver tudo a minha volta rodar. Atrás de mim estava um grupo de motoqueiros, todos parecidos: excesso de couro, excesso de caveiras e excesso de músculos e homens mais velhos.

Gostei da visão. Depois de quatro drinks dos que mais deixam a pessoa desequilibrada cheguei perto deles.

- Qual de vocês quer acompanhar uma bela dama para casa, cavalheiros? - Não pensei sobre agir dessa forma. Eu apenas agi por causa de toda a bebida e acho que no fundo realmente queria que algum deles me acompanhasse e fizesse eu esquecer de tudo por uma noite, ou para sempre, não fazia ideia de quem eles eram e poderiam muito bem ser qualquer tipo de criminosos. Mas era melhor do que encarar minha casa vazia por mais uma noite.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora