Capítulo 4 | Os segredos de Griffiths

712 49 33
                                    

Tom Griffiths

Eu não contava com a visita de Cordélia. Eu pedi a ela para me dar espaço. Isso não teria acontecido se ela tivesse me escutado, mas é claro que ela viria atrás de mim se não me visse quando despertasse.

Fohre, a loira desgraçada que ainda me abraça enquanto observamos a bundinha redonda e empinada de Cordélia caminhar pelo meu jardim em direção a saída, me prendeu ao seu lado desde que chegou de Roma. Ela me fez refém de sua companhia. Eu mal consegui entrar em contato com John durante um dia inteiro.

Na manhã do dia seguinte em que Cordélia fugiu, eu consegui ocupar Fohre com compras no shopping. Ao ficar sozinho, descobri que nem mesmo John sabia onde minha pequena estava. Ela o despistou acompanhada por um homem.

Ao saber disso eu comecei minha própria busca com sangue nos olhos. Ansiando pela segurança de Cordélia e por acabar com a pessoa que estava com ela. Um dia já tinha se passado e eu sabia que apenas um milagre me faria encontrar Cordélia inteira.

Minutos depois descobri que ela estava em uma das piores suítes de Daeva usando drogas a rodo. Fui atrás de Cordélia sabendo que o relógio estava contra mim. Se Fohre não me encontrasse quando terminasse de fazer compras, ela iria me procurar e em instantes descobriria onde eu estava. Com quem eu estava.

Ela investigaria Cordélia e tornaria nossas vidas um inferno. Exatamente como vai tentar fazer agora que a viu na porta da minha casa.

Naquele dia, antes de resgatar Cordélia, eu cheguei em Daeva e desci até o nível em que as mais velhas mulheres ficavam - todas com mais de 26 anos, separadas para os clientes mais pobres. Em meio a escuridão do corredor e ao som dos gemidos incessantes que não são evitados naquela área porque as paredes são finas demais, eu caminhei por minutos e minutos que mais pareceram horas.

Fiquei impressionado com o lugar que eu tinha criado, impressionado com o nível que aquelas pessoas conseguiam chegar por dinheiro e por prazer.

Ao chegar em um corredor tomado pela escuridão eu escutei o barulho de uma porta se abrir e então fechar. Pelo feixe de luz, eu vi minha doce e confusa Lolita sair para o corredor desnorteada, com cabelos bagunçados e uma blusa que com certeza não era dela. A porta fechou-se e o corredor retornou à escuridão.

Escutei o som baixinho que Cordélia faz quando está acordando, impossível de não reconhecer. Caminhei para frente já sentindo o momento em que eu a tomaria em meus braços e a levaria para fora deste lugar e então ouvi ela inspirar alto, assustada.

Meu coração acelerou e eu corri para frente sem saber onde eu estava pisando e agarrei o braço de Cordélia no ar. Puxei-a para mim e senti o cheiro inconfundível da minha pequena. Canela, doce e pura canela, mesmo que com o odor de drogas. Esqueci o lugar em que estávamos. Esqueci a situação do nosso relacionamento. Esqueci Fohre e Roma. Foi como se tudo à minha volta desaparecesse e só restasse eu e ela. Não queria mais soltar Cordélia, jamais quis.

Senti o peso do lindo cabelo de Cordélia, o toque delicado dela, seu corpo pequeno junto ao meu e, depois de tudo o que tinha acontecido, essas sensações fizeram meu peito afundar de alívio e gratidão por estar com ela, por ela estar aqui, viva e em meus braços.

Cordélia desmaiou, senti seu corpo pesar sobre mim, a peguei no colo com todo o cuidado e caminhei para fora de Daeva.

Quando vi Cordélia na luz do dia eu me surpreendi. Tive que conter minha dor ao vê-la naquele estado. Ela estava tão pálida, parecia ter emagrecido quilos e tinha olheiras quase pretas de tão profundas. Ainda assim era a coisa mais linda e calma que eu já tinha visto.

Meus ossos pareceram contorcer-se sob minha pele quando percebi tamanha necessidade de cuidar da minha pequena, de me certificar de que ela estava bem, de nunca mais tirar meus olhos dela. Cordélia estava gravada em mim, abaixo da minha pele, dos meus músculos, por dentro dos meus ossos.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora