Capítulo 2

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Acordo às cinco da manhã sem despertador. Olho o relógio e, com um pouco de decepção, percebo que dormi apenas duas horas. Eu sofro com insônia, mas com o tempo aprendi a lidar com isso e simplesmente não tento mais dormir. Hoje, no entanto, cai no sono sem perceber.

Sem olhar para a bagunça que está o meu quarto, saio para correr. No caminho, passo pela biblioteca de sr. Griffiths. Faz cinco dias que nos falamos pela primeira vez. Eu não voltei ao lugar depois disso, em parte porque ainda não terminei de ler nenhum livro que aluguei e também porque não queria parecer desesperada para ver ele de novo.

Depois de quase uma hora correndo pelas ruas silenciosas de Londres o sol nasce completamente, mas ainda é cedo para as pessoas saírem de casa. O movimento começa a partir das sete horas. Carros, ônibus e motos nas ruas, pessoas saindo para trabalhar, mexendo no celular, outras saindo para passear com os cachorros... Eu volto para o campus antes de toda essa locomoção.

Não divido o dormitório com ninguém e para morar sozinha dentro da universidade o ambiente é até grande. Tem um quarto, uma sala com uma estante e duas poltronas, um banheiro e uma cozinha que mais parece um armário de tão pequena. Não tenho televisão, meu celular é péssimo e por isso eu quase não o uso. Tenho pouco, mas não me incomoda. Eu preciso apenas de café, livros e um lugar para sentar confortavelmente enquanto os leio.

Minha vida em Londres é simples: por dois anos, todos os dias, eu me levanto pela manhã, vou para a sala de aula no prédio do outro lado do campus, estudo sem ser atrapalhada já que não tenho um único amigo na universidade, depois almoço no refeitório e volto para o dormitório. Quando tenho algum trabalho fico em casa e quando não, vou para a biblioteca e vejo Vivi, minha única amiga e única pessoa que eu conheço na cidade grande. Eu prefiro assim, não faço questão de ser conhecida ou de sair e festejar como o restante dos meus colegas. Faz dois anos que eu estou longe de casa, mas ainda tenho medo de alguém do meu passado me encontrar.

Ao fim do dia, termino de ler um dos romances que eu tinha pegado emprestado na biblioteca e cogito devolver, mas já é muito tarde. Decido ir amanhã. Não quero ficar em débito com a biblioteca de Griffiths, uma das únicas que eu ainda posso pegar livros. As outras... bem, as outras não tinham donos tão bonitos e eu acabei esquecendo de voltar para devolver os empréstimos. 

Dia seguinte

- Boa noite, Vivi. - Sorrio para a bibliotecária de cabelos claros atrás do balcão da biblioteca de sr. Griffiths. Apoio na bancada os livros que trouxe comigo. - Vim devolver uns livros.

- Delia! Demorou para voltar dessa vez. - Vivi, que estava organizando alguns papéis, para e me olha insinuante.

- Eu demorei para terminar algumas leituras. - Explico, sem graça. A moça continua me olhando como se eu escondesse algum segredo.

- Trouxe Lolita ou não precisa? - Ela questiona, segurando o riso.

Sinto meu rosto esquentar e Vivi se diverte com a situação.

- Eu... - Começo a responder, mas uma voz grave e rouca me interrompe.

- Não precisa. - Atrás de mim, sr. Griffiths responde a pergunta de Vivi.

Congelo e, de olhos arregalados, encaro Vivi que agora está vermelha. Viro para sr. Griffiths lentamente. Ele me observa de cima, sério, com postura elegante e os ombros perfeitamente eretos. 

- Achei que demoraria mais para te ver, Cordélia. - Ele comenta.

- Minha presença não te satisfaz, sr. Griffiths? - Pergunto, extrovertida.

- Achei que faria melhor proveito dos livros em um lugar mais privado. - Ele dá um leve sorriso de canto com os olhos cerrados.

Sinto minhas bochechas queimarem. Ele realmente está dizendo que eu deveria ler em casa por causa do que leu quando abriu Lolita? Aquela cena nem se enquadra como conteúdo sexual, embora eu tivesse imaginado ele comigo nela.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora