Capítulo 19 | Quando o mar se agita - pt. 1

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Senhor Griffiths tem me trazido todos os livros que eu peço da biblioteca tanto aqueles para trabalhos de faculdade quanto para distração. Algumas vezes eu nem preciso pedir basta citar um livro enquanto conversamos que ele, no dia seguinte, aparece com o mesmo em mãos na porta do meu dormitório. Sinto que ele está querendo marcar presença por aqui ou conhecer Drevon. Ou os dois. No entanto, Griffiths e Drevon ainda não se encontraram até onde eu sei.

Drevon quase não fica em casa. Ele sai cedo e só volta para dormir. Ás vezes passa a noite fora. Com Griffiths, Drevon, a universidade e o trabalho tomando toda a minha atenção durante a semana, eu tenho visto Vivi com menos frequência e ainda demorei para notar isso.

Desde Wetlands tudo o que eu consigo pensar é em Griffiths. Quando o sono ameaça não chegar, o que acontece na maioria das noites, eu relembro daqueles momentos no carro de Griffiths, de sua voz grave me dizendo coisas sujas, me fazendo implorar. Não imagino o que vai acontecer comigo quando ele fizer mais do que apenas me tocar com as mãos.

Hoje, ao invés de não dormir e pensar em Griffiths eu ligo para Vivi que atende no segundo toque.

- Vivi, eu preciso de ajuda.

- O que aconteceu? Não. Não me fale. Eu sei. Senhor Griffiths, não é? Eu nunca o vi retirar tantos livros daqui, sabia? Na verdade, acho que nunca o vi retirar nenhum. E então você para de aparecer aqui...  Não acredito em coincidência.

- Não é segredo que eu e ele... - Começo a falar, mas paro antes de concluir o pensamento. Eu e ele o que? Não sei o que somos. Isso geralmente não me incomoda em relação a outros homens, mas sinto uma pontada de confusão ao não conseguir terminar a frase. - Que eu e ele temos algo.

- Vocês já transaram? - Vivi pergunta, direta.

Não respondo.

- Então é para isso que está me ligando? - Ela questiona, entediada. - Delia, você já passou por essa época. Está agindo como uma adolescente.

- Não, Vivi, não é isso. Eu e ele... Nós saímos uns dias atrás.

- E transaram?

- Vivienne, você soa como se estivesse obcecada ou passando vontades.

Ela ri do outro lado da linha.

- Não. - Respondo, enfim. - Ainda não transamos, mas ele... nós dois estávamos no carro e...

- Hum, no carro. Você já tinha feito no carro? - Ela pergunta, travessa.

- Não, e não fizemos tudo. - Digo, rindo também. - Digamos que ele tenha me deixado com expectativas altas.

- Agora me diga, por favor, o que você está esperando? Porque eu não vejo nenhuma explicação lógica o suficiente para você não ter ido na casa dele e terminar o que começaram.

Se tem algo que está claro em minha situação com Griffiths é que ele manda e decide tudo. Lembro-me dele falando que precisaria de mais espaço do que um carro para fazer o que queria comigo e estremeço.

Eu sinto vontade de contar isso para Vivi. Dizer que eu já o chamo de Tom, que estamos nos encontrando mais, que ele está me levando para todos os cantos mais belos de Londres... Quero dizer para ela que ele me entende como ninguém e que quando me beija é a melhor sensação do mundo, exceto por quando suas mãos estão em mim, mas não consigo.

Vivi é minha amiga. Não tenho vergonha ou receio de falar coisas do tipo com ela, mas as palavras não saem da minha boca. Tenho medo de que se eu contar a ela, se dizer o que tenho sentido quando estou com Tom, não vou poder voltar atrás quando tudo der errado. Porque vai dar tudo errado e eu sei que ele vai me deixar. Sempre acontece dessa forma comigo.

Se eu falar será como se estivesse dando um nome e um rosto para esse sentimento dentro de mim. Se eu falar, se tornará algo real demais. E quando acabar vai me levar junto. O mundo é assim, a vida é assim. As coisas não podem sempre dar certo e, a vida não pode ser sempre boa. Quando você quer muito encontrar algo, não encontra. Quando você quer muito alguém, não o tem. E se o tem, o perde.

- Ele é um homem muito bom, Vivi, eu simplesmente não tenho palavras.

Vivi demora um pouco antes de responder. Acho que ela percebeu que eu me esquivei de sua pergunta e não gostou.

- Bom, eu entendo. - Diz, depois de alguns segundos. - Sério, Delia, ele é gato pra caramba e podre de rico, o que mais você poderia fazer? Sinceramente, se apaixonar é a sua única saída.

- Isso não ajuda muito minha situação. Você sabe o que eu já passei.

- Ah, por favor, Delia. Merino era um moleque.

- E Drevon? - Pergunto, ficando irritada. Apenas tocar no nome de Merino traz à tona as piores sensações que eu já tive em relação a uma pessoa. 

Vivi não responde. Drevon, afinal, não é um moleque.

- De qualquer forma, - Digo, mudando de assunto. - Drevon ainda está aqui e isso meio que tem me deixado preocupada. Griffiths está vindo muito para o campus e desconfio que parte dessas visitas sejam para marcar território. Coisas de homem.

- Você contou a ele sobre Drevon? - Ela pergunta.

- Ah, claro que contei... - Respondo, sem demonstrar certeza na voz.

- Você não contou, não é?

- Eu falei de um amigo que está ficando comigo por um tempo. Vivi, pense no que ele acharia se soubesse que estou morando com a primeira pessoa que eu conheci em Londres? E que me deixou. Não foi um término. Drevon apenas tirou férias de mim e agora voltou.

- Bom, eu também não contaria. - Ela concorda. - Informação quase irrelevante. Como ele reagiu quando você disse que estava morando com um amigo?

- Normal. Ele foi bem sensível. Falou que se eu não estivesse confortável poderia até mesmo usar a casa dele.

- Usar a casa dele? Cordélia, como vocês não fizeram nada ainda?

- Vivi, você mesma disse: ele é podre de rico e faz muitas viagens. Não é como se ele tivesse tempo para ficar comigo sempre.

Além do mais, toda essa espera, esse suspense, está me deixando mais excitada. Mas não conto essa parte para Vivi.

- Entendi. - Ela responde, apenas. - Bom, me conte de Drevon, então. Eu gostei do que vi quando fui à sua casa. Ele é bem... - Ela engole em seco, como se estivesse querendo saborear algo que não pode. - Gato e másculo. - Conclui. 

- Eu simplesmente não tenho comentários a fazer sobre isso, Vivienne, nenhum comentário. - Imagino Vivi com Drevon. Não me assusta, mas é esquisito o suficiente para me causar um leve incômodo.

- Eu te escuto falar do meu chefe por horas e horas, Delia. Falar do seu amigo não pode ser tão ruim assim.

- Isso porque você nunca dormiu com seu chefe.

Ela fica completamente em silêncio.

- Vivienne? Você já transou com Griffiths!? - Pergunto e sinto um rebuliço no meu estômago. Isso mudaria toda a situação.

- Não, mas já pensei. - Vivi responde depois de um longo silêncio.

Eu não sei como reagir ao alívio que essa resposta me trouxe, assim como não entendi o incômodo que senti antes. Apenas sinto vontade de rir. Depois de alguns momentos em silêncio escuto Vivi arranhar a garganta como se estivesse segurando a risada. É o suficiente para arrancar o riso de mim também. Logo estamos as duas gargalhando. Eu não consigo parar de rir, nem ela até que tudo que escutamos é o riso sufocado uma da outra. Vivienne é terrível.

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora