Capítulo 1 | Tom Griffiths

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Sr. Griffiths 

"Você me fez viver de novo, Tom", não paro de pensar em Cordélia me dizendo essas palavras com lágrimas nos olhos e, ainda assim, com a feição mais determinada que eu já vi em seu doce rosto. Foi mais intenso do que eu gostaria de admitir. E muito mais profundo porque é exatamente o que ela fez comigo. Não achei que alguém pudesse me fazer sentir dessa forma depois de uma vida inteira na sujeira dos meus negócios.

Essa noite, depois de Drevon, depois de ver minha Lolita tão vulnerável à mim e a olhar como se ela fosse ninguém, fazendo-a pensar que poderia se tornar nada para mim, eu a senti despencar e me arrependi no mesmo instante. Mas eu estava com tanto ódio que não pensei. 

Talvez eu tenha sido cruel demais com minha bela, mas eu mal raciocinava sabendo que Drevon estava a poucos metros de mim e, embora eu tenha notado que tudo aquilo foi planejado por ele, ainda é muito recente e eu não estou calmo o suficiente. 

A imagem daquela aberração forçando entrada na boca da minha pequena me atinge de novo e uma onda profunda de ódio invade todo o meu corpo. Respiro fundo e tento não estourar na parede o copo de whisky em minha mão. Essa raiva, com tamanha intensidade, não quero que Cordélia veja. Posso privá-la desta parte minha ao menos por enquanto. Posso esconder mais isso para protegê-la, assim como fiz ao ir à Itália. 

Se essa maldita viagem não tivesse acontecido... Eu deveria ter me certificado que Cordélia sabia para onde eu fui viajar, deveria ter imaginado que ela poderia achar que eu a abandonei. Deveria tê-la levado comigo. Mas não estava pronto, porque levá-la para Itália significa mostrar tudo o que eu escondo e correr o risco de perdê-la. 

A nossa viagem provavelmente será o nosso fim, mas resta-me um pingo de esperança de que, quando ela descobrir sobre minha vida, talvez fortaleça o que temos. 

Depois do parque, depois que Cordélia pediu para que eu a abraçasse uma última vez e eu senti o cheiro dela, o aperto, o soluço e as lágrimas, quase não consegui soltá-la e percebi que eu preciso dela tanto quanto ela precisa de mim.

Levei Cordélia para casa e observei enquanto ela entrava em seu dormitório. Parou em frente a janela com vista para a rua e ficou ali com ombros caídos, olhos desfocados, inchados e vermelhos. Vê-la tão desolada e não poder confortá-la partiu meu coração. Mas me certificar da segurança dela era tudo o que eu pude oferecer no momento.  

Ao voltar para casa, andei por muitas ruas fora do meu caminho habitual, observei tudo de noite, silencioso, poucas luzes, com a neblina pesada que cobre Londres sendo minha única companhia e me peguei desejando que Cordélia estivesse ao meu lado.

Mesmo a longa caminhada não ajudou. Nada me acalma. Em pé, encostado ao lado da lareira, não sinto uma gota de sono, apenas agitação constante. Já bebi quase uma garrafa inteira do Whisky mais forte que tenho, mas, ainda assim, sinto como se meu corpo pudesse percorrer Londres inteira a pé sem se cansar o suficiente para pregar os olhos.

Preciso voltar o mais rápido possível para Roma, mas não posso ir sem Cordélia porque tenho que mantê-la em segurança e a única forma de fazer isso é mantendo-a comigo. 

Ao mesmo tempo, saber que levá-la é a minha única opção e que isso pode significar o nosso fim me deixa desconfortável. São raras as situações em que eu não sei o que fazer. 

*

O toque estridente de uma ligação me tira de um sono inquieto e mal aproveitado. Abro os olhos devagar, minha visão ainda se acostumando com a claridade ofuscante do quarto. O sol bate diretamente em meu rosto e lembro-me das manhãs em que eu acordava com Cordélia. Ela gosta de sentir o sol ao acordar, mas sempre se levantava e fechava as cortinas para que eu continuasse a dormir. Meu estômago revira com a lembrança.

- Tenho atualizações - a voz de John soa do outro lado da linha.

- Quais? - Pergunto sonolento e apoio o celular no ombro começando a me arrumar para buscar Cordélia.

- A situação se complicou depois da sua ida. A senhorita tem convidado moças do clube para a casa dela em Roma. Os sócios estão começando a fazer perguntas.

É claro que ela ficaria mais agressiva com o meu retorno para Londres. Respiro fundo considerando o peso dessa informação. 

- E Ruggiero?

- Tem se mantido afastado. Acredito que quer manter distância caso algo venha a público.

Puta merda. Essa mulher vai acabar com a minha vida. E Ruggiero é um grande covarde. Que bela maneira de acordar.

- Ela vai vir à Londres? - Pergunto e paro de andar pela casa procurando por um sapato perdido. Se Fohre realmente vier...

- Nenhum cancelamento de passagem aérea foi registrado. Tudo indica que ela está a caminho.

Maldita, Fohre...

- Certo. Eu não consigo voltar agora. Preciso de mais tempo. Certifique-se de que Fohre não faça nada de concreto e evite que as meninas se aproximem dela, use o que precisar para mantê-las afastadas. E preciso de atualizações sobre Ruggiero também.

- Certo.

- Espere. O que mais descobriu sobre Drevon Goncharov?

- Apenas que ele voltou a negociar.

- Quero ele por perto, entende? - Pergunto. Não me dou ao luxo de conversar abertamente por ligação sobre temas sensíveis. Mas com Drevon de volta ao mercado, quero ele onde eu posso observá-lo e interferir. 

- Entendido, Sr. Griffiths. 

Com a confirmação, desligo o celular e, da porta da frente, encaro a bagunça que minha casa se tornou. Não consigo pensar sobre isso agora. Não quando Fohre está vindo. 

Eu tenho dias contados com Cordélia.



<3 


Eita...

Instagram que posto sobre história desses dois: daddyscinnamon e o link está também no meu perfil. 

Vocês gostam dos pontos de vista do Sr. Griffihts? 

Estão curiosos para saber quem são Fohre e Ruggiero? hehehe

O próximo capítulo sai em breve <3 obrigada por todo apoio <3

Com amor, Cordélia (Daddy!)Onde histórias criam vida. Descubra agora